Covid19: Assessor de Boris Johnson que violou confinamento pressionado a demitir-se

Dominic Cummings, que foi o cérebro da campanha a favor do “Brexit”, viajou centenas de quilómetros quando a mulher, e ele próprio, tinham sintomas de covid-19, violando as regras da quarentena.

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Dominic Cummings, este sábado, ao sair de casa EPA/ANDY RAIN

O gabinete do primeiro-ministro Boris Johnson está a resistir aos apelos para que demita o seu principal assessor e cérebro da campanha do referendo do “Brexit”, Dominic Cummings, depois de se saber que violou as regras da quarentena, ao viajar 400 km, quando a mulher tinha sintomas de covid-19, para deixar o filho com familiares que tomariam conta dele.

“Como a sua mulher estava infectada com o que se suspeitava ser coronavírus e havia uma alta probabilidade que ele próprio ficasse doente, era essencial que Dominic Cummings garantisse que o seu filho continuasse a ser bem cuidado”, disse um porta-voz do número 10 de Downing Street, defendendo que a sua viagem para Durham, a Norte de Londres, no fim de Março, cumpria os critérios de “deslocação essencial”. 

“O senhor Cummings acredita ter-se comportado de forma razoável e legal”, conclui o porta-voz. “Cuidar da sua mulher e dos seus filhos não é um crime”, acrescentou Michael Gove, que é o número 2 do Governo de Boris Johnson.

O próprio Cummings teria desenvolvido sintomas de covid-19 - pelo menos, isso foi noticiado na altura pela imprensa britânica, embora não tenha havido confirmação oficial. 

A Polícia de Durham condenou o comportamento do conselheiro do primeiro-ministro, e a oposição não perdeu a oportunidade para exigir a sua demissão - não seria inédito. O cientista Neil Ferguson, que teve um papel determinante em convencer o Governo britânico a decretar o confinamento, com os seus modelos de progressão da pandemia, foi levado a demitir-se do cargo de aconselhamento governamental por se ter sabido que violou as regras de quarentena.

“Dominic Cummings devia fazer a única coisa correcta: devia demitir-se. Mas não o fez. Boris Johnson devia demonstrar liderança e afastá-lo imediatamente”, declarou o líder parlamentar do Partido Nacional Escocês, Ian Blackford.

Alastair Campbell, ex-responsável pela comunicação de Tony Blair, disse que a justificação apresentada pelo Governo para a viagem de Dominic Cummings em Março é “pura hipocrisia”. “Quando as pessoas que fazem as leis decidem que não serão governadas por elas, chegamos a um sítio muito mau”, disse à BBC News.

O Partido Trabalhista emitiu um curto comunicado, em que frisa a necessidade de saber se Cummings agiu por sua iniciativa, ou se teve autorização para a viagem. “O comunicado do Número 10 de Downing Street levanta mais questões do que dá respostas. Ainda não percebemos quem sabia da decisão e quando é que a deslocação, se é que foi, autorizada pelo primeiro-ministro”.

A violação da quarentena é punida em Inglaterra com uma multa de mil libras, ou 1120 euros, diz a Lusa.

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