Santos Silva: Portugal “precisa que articulação harmoniosa“ entre Marcelo e Costa continue

Presidente e primeiro-ministro “combinam harmoniosamente”, diz ministro dos Negócios Estrangeiros. Para um eventual apoio a Marcelo, o PS precisa de avaliar se há “expectativas sólidas” de que a “articulação harmoniosa” é para continuar.

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Marcelo e Costa em 2016, em Paris, no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas Daniel Rocha

O ministro e dirigente do PS Augusto Santos Silva considera que as personalidades do Presidente da República e do primeiro-ministro se “combinam harmoniosamente” e que o país ganharia se essa articulação continuasse “nos próximos tempos”.

“As personalidades do actual Presidente da República e do actual primeiro-ministro combinam-se harmoniosamente e a coordenação e respeito institucional correu optimamente bem. E acho que o país ganhou com isso e nos próximos tempos precisa que essa articulação harmoniosa entre a Presidência da República, o Parlamento e o Governo continue”, defendeu Santos Silva numa entrevista ao podcast do PS Política com Palavra.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros comentava as declarações proferidas pelo líder do executivo numa visita à fábrica da Volkswagen-Autoeuropa, quando antecipou a recandidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa e respectiva vitória, com o chefe de Estado a poucos metros de distância.

Para o chefe da diplomacia portuguesa, na Autoeuropa, António Costa limitou-se a fazer “uma constatação muito simples e óbvia”.

Augusto Santos Silva aproveitou para refutar as críticas de dirigentes socialistas como Ana Gomes, Francisco Assis ou Manuel Alegre ao apoio de Costa à recandidatura de Marcelo sem discussão no congresso socialista, que deveria ocorrer este mês de Maio, mas foi adiado sem data devido à pandemia da covid-19.

“Têm tanto direito a falar aqueles que apoiam uma eventual recandidatura do professor Marcelo Rebelo de Sousa como aqueles que a contestam e apoiam outras. Todos têm o direito a falar”, acentuou, voltando à carga logo a seguir: “Não pode ser quando uns falam contra um eventual apoio estão a ser democratas e a defender o PS, e quando falam os outros que dizem que o PS deve apoiar a recandidatura ou não apoiar ninguém alternativo, facilitando essa recandidatura, já estão a impedir o PS de debater.”

“O PS, a seu tempo, apoiará um candidato ou decidirá não apoiar um candidato – já fez as duas coisas , mas, fiel à tradição do PS, fá-lo-á depois de ser claro quais são as candidaturas”, rematou o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Os “três critérios essenciais”

Depois de lembrar que “as candidaturas a Presidente da República são cívicas e não partidárias”, Augusto Santos Silva apontou “três critérios essenciais” que deverão ser observados antes de o PS decidir sobre o próximo “inquilino” do Palácio de Belém.

Em primeiro lugar, “fazer uma avaliação do que aconteceu até agora”, medir os prós e contras do mandato de Marcelo.

Em segundo, “como os segundos mandatos têm sempre uma dinâmica muito diferente do que o primeiro”, tentar antecipar qual será a acção do actual Presidente nos próximos cinco anos, ou seja, “qual a leitura que fazem do segundo mandato”.

O PS precisa assim de avaliar se há “expectativas sólidas” de que “articulação harmoniosa” que se verificou no primeiro mandato se pode prolongar no segundo, “com todo o respeito pela autonomia e responsabilidades de cada um”.

Em terceiro e último lugar, como vai haver vários candidatos à esquerda e à direita do espectro político, é necessário avaliar se a candidatura a apoiar pelos socialistas é “suficientemente forte e abrangente” para “travar as dinâmicas populistas que também vão acontecer” nas próximas presidenciais.

Na entrevista, afastou a possibilidade de políticas de austeridade para fazer face à crise gerada com a pandemia da covid-19 e criticou algumas das posições dos sociais-democratas, chegando a afirmar: “O que o Centeno do PSD [Joaquim Sarmento] diz e o que o dr. Rio diz são coisas diferentes.”

“É evidente que vivemos uma crise. Mas austeridade é uma coisa diferente. Austeridade é aquela célebre teoria da desvalorização interna”, disse ainda o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

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