Primeiro-ministro libanês pede ajuda para enfrentar fome no país

Apelo de Hassan Diab surge na sequência de uma crise económica e financeira que está a deixar o país no limite. Preço dos alimentos duplicou desde Março e muitos libaneses estão a ficar sem dinheiro para comprar pão.

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Hassam Diab Reuters/Mohamed Azakir
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Protestos contra o Governo continuam em Trípoli LUSA/WAEL HAMZEH

O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, lançou um alerta internacional para a grave crise alimentar que o país está a atravessar, dizendo que grande parte da população poderá ficar sem acesso sequer a pão. A dificuldade dos libaneses conseguirem adquirir alimentos essenciais surge na sequência de uma grave crise económica e financeira, com a libra libanesa a ter perdido metade do seu valor desde Outubro.

Num texto publicado no Washington Post, Hassan Diab alertou para um “desafio dramático que parecia inimaginável há uma década”: “Muitos libaneses deixaram de comprar carne, fruta e vegetais, e, muito em breve, podem ter dificuldades para comprar pão.”

A libra libanesa perdeu metade do seu valor nos últimos meses e, neste momento, 1507 libras perfazem um dólar. O banco central do Líbano começou esta quinta-feira a intervir no mercado para proteger a moeda nacional, diz a Reuters. A inflação e o desemprego não param de aumentar e, em Março, o país deixou de conseguir pagar a sua dívida soberana. O Fundo Monetário Internacional prevê uma quebra de 12% no produto interno bruto (PIB) do país em 2020.

A crescente crise económica tornou muitos alimentos essenciais praticamente inacessíveis para muitos libaneses. O preço da carne, por exemplo, mais do que duplicou desde Março. Um quilo de carne picada custa cerca de 18 dólares. Também o preço dos tomates – utilizados em grande parte dos pratos libaneses – duplicou nos últimos meses, com muitos consumidores a racionarem a compra deste alimento. A Human Rights Watch e o Banco Mundial alertam para o facto de que mais de metade das famílias libanesas podem não ter condições para comprar alimentos até final do ano.

Diab garantiu ainda apoios para a importação de alimentos – pagos em dólares e uma monitorização do preço dos mesmos, de forma a baixar os custos para a população, de acordo com a Reuters.

Pandemia agravou crise 

No artigo que publicou no Washington Post, Hassan Diab afirmou que a crise de segurança alimentar não é um problema exclusivo do Líbano e chamou a atenção para as dificuldades causadas pela pandemia de covid-19. Nesse sentido, Diab pediu cooperação a nível internacional para enfrentar a dificuldade de acesso a alimentos, apelando, particularmente, aos Estados Unidos e à União Europeia para a criação de um fundo de emergência para o Médio Oriente. Caso contrário, avisou, “a fome pode desencadear um novo fluxo migratório para a Europa e desestabilizar a região”.

“A segurança alimentar tornou-se uma crise global que requer uma resposta global coordenada. Seria tragédia sobre tragédia, se os nossos esforços para enfrentar a epidemia dessem lugar lugar à fome e a migração em massa, cujos efeitos seriam sentidos durante gerações”, acrescentou.

Hassan Diab, cujo Governo apoiado pelo Hezbollah tomou posse no início deste ano após a queda do Governo liderado por Saad Hariri, criticou ainda a corrupção e a falta de investimento dos anteriores executivos na agricultura. “Resultado da corrupção e da má gestão política, houve uma dramática falta de investimento no sector agrícola, que representa um quarto da força de trabalho do país, mas apenas 3% da nossa produção económica. Mais de metade da alimentação libanesa é importada, o que é uma grande vergonha e um sério perigo para a nossa soberania alimentar”, afirmou.

O Líbano tem também sido palco de muitos protestos, não só contra o Governo, mas também com milhares de pessoas a saírem às ruas na chamada “revolta do pão”. Com o início das medidas de confinamento devido à pandemia de covid-19, os protestos abrandaram. No entanto, muitos libaneses têm regressado às ruas para exigir respostas para a falta de alimentos do país. Hassan Diad observa que “a crise causada pelo coronavírus e o necessário confinamento agravaram dramaticamente a crise económica, perturbando o fornecimento de alimentos ao país”.

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