Requiem pelas velhas salas (ou hino a um admirável mundo sempre novo?)

A conversa já estava no ar antes de um vírus ameaçador atingir o mundo todo, espalhando uma série de efeitos, directos e indirectos, numa sucessão que nem o mais ousado guionista teria imaginado. A cerimónia dos Óscares em 9 de Fevereiro tinha sido uma operação em força, ainda que falhada, da Netfix com filmes que em países como Portugal pura e simplesmente falharam a exibição em sala, mas acabou por ser Parasitas, por sinal do Oriente, a levar a palma para desespero do próprio Presidente Donald Trump. E de repente o isolamento social profilático sabe a festa do cinema, alargando as escolhas e revalorizando o espaço doméstico. Veja-se o caso da plataforma de streaming Filmin que renovou estrategicamente o catálogo e a sua oferta faria certamente inveja a um cineclubista dos anos 60 que mesmo em países então com mais liberdade que o nosso e pelo menos fora de uma capital europeia teria pouca possibilidade de acesso a tantas obras de Bergman, Rossellini ou Mizoguchi. Distribuidoras como a Midas ou a Medeia convocam-nos para o acesso gratuito a obras primas do cinema e até o cinema português habitualmente invisível na sua própria terra ganha um novo alento. A própria Cinemateca Portuguesa tradicionalmente conservadora nesta matéria disponibilizou filmes para acesso doméstico e suponho que tudo isto ainda é uma pequena amostragem. As coisas mudam, e muitas vezes quando e como menos esperamos.

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