Governo israelita ameaça cortar canal da rede GOD TV por proselitismo

Novo canal da rede God TV quer promover “o evangelho de Jesus” em hebraico, o que seria uma estreia em Israel.

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Peregrinos no Rio Jordão, onde Jesus terá sido baptizado Mussa Qawasma/Reuters

O Governo israelita está a ameaçar impedir o canal Shelanu, da rede GOD TV, de emitir no país. Em causa está se o canal, de cristãos evangélicos, está ou não a fazer proselitismo —​ que é proibido se tiver como destinatários menores de 18 anos sem autorização (e mal visto em geral no país).

As várias organizações evangélicas activas em Israel que levam a cabo algum trabalho missionário evitam sempre dizê-lo claramente, explica o semanário britânico The Observer. Muitos em Israel temem a ameaça da conversão de judeus não só no país como no mundo. Por exemplo, no Estado judaico só são realizados casamentos entre pessoas da mesma religião, embora uniões celebradas no estrangeiro possam ser depois reconhecidas.

A investigação ao canal foi lançada depois de um vídeo em que o presidente executivo da empresa, Ward Simpson, surge dizendo que queria “levar o evangelho de Jesus às casas e vidas e corações do povo judaico”. A mensagem foi mais tarde retirada, diz o diário hebraico Haaretz.

Depois de ser conhecida a investigação, Simpson defendeu-se dizendo que o canal não pretendia converter judeus ao cristianismo, apenas levá-los a “abraçar Jesus” sem renunciar ao judaísmo — ou, por outras palavras, fazer com que se tornassem em “judeus por Jesus”, como são muitas vezes conhecidos. Esta corrente não é, no entanto, reconhecida no judaísmo.

Simpson reconheceu que a questão do proselitismo “é muito sensível em Israel” e continuou: “Não se pode tentar converter judeus, não se pode tentar que se tornem cristãos (...) estas coisas não se podem fazer e não vamos fazer” mas acrescentou: “Só vamos ensinar e partilhar conteúdo cristão e deixar o senhor fazer o resto.” 

O ministro das Comunicações, David Amsalem (do Likud, partido do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu), declarou em termos claros, na semana passada: “Não permitiremos nenhum canal missionário em Israel, qualquer que seja a altura e quaisquer que sejam as circunstâncias”, garantiu.

Caso o conteúdo do canal “tenha potencial de influenciar os espectadores de modo indevido”, o organismo que regula as emissoras em Israel declarou que irá encerrá-lo.

O director para Israel da GOD TV, Ron Kantor, que emigrou para este país dos EUA há 17 anos, disse que recebeu luz verde do distribuidor de conteúdos do cabo para avançar, e que tinha sido informado que “as leis tinham mudado”. “Se estivéssemos a fazer alguma coisa às escondidas, não o teríamos anunciado ao mundo”, argumentou. 

Mas ao anunciar o novo canal em hebraico, a estação disse que pretendia ter conteúdos “específicos para a geração mais jovem de espectadores”, o que poderia desrespeitar o que é proibido por lei.

A GOD TV é uma rede internacional que emite em cerca de 200 países, diz o Haaretz, e que se dirige em grande parte a uma audiência mais jovem.

O pacote no cabo em que o novo canal em hebraico seria distribuído tem mais de 700 mil subscritores — a Hot tem mais de metade do mercado multicanais no país.

O canal Shelanu não é o primeiro canal cristão a emitir em Israel, nota o diário Haaretz, mas é o primeiro em hebraico e a admitir abertamente um objectivo missionário.

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