Em São Paulo, activistas sobre rodas distribuem kits de higiene e máscaras aos sem-abrigo

Num Brasil marcado pelo cepticismo de Bolsonaro relativamente à pandemia de covid-19, jovens activistas de São Paulo distribuem, entre os sem-abrigo da cidade, kits de protecção contra o vírus, que contêm máscaras, uma garrafa de água e sabão.

©Luca Meola
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Os sem-abrigo de São Paulo, que o Movimento Estadual de Moradores de Rua do Estado de São Paulo estima serem cerca de 33.700, estão particularmente vulneráveis ao contágio por covid-19. A pensar neles, quatro jovens activistas do grupo Bike System vestiram-se a preceito e, sobre duas rodas, decidiram distribuir kits de higiene e máscaras de protecção às pessoas que compõem esta frágil comunidade. "O kit bem básico, mas funcional, foi criado pelo artista urbana e activista Mundano e conta com uma garrafa de água e sabão unidos por uma corda fina", explica via WhatsApp o fotógrafo italiano Luca Meola, residente em São Paulo há vários anos e um habitué na secção de Fotografia do P3

"Com colunas de som instaladas nas bicicletas, estes indivíduos bizarros preenchem o vazio de uma cidade deserta", observa. "Quando os acompanhei, encontrámos instituições que estavam a distribuir comida. Havia uma fila enorme. Homens, mulheres, famílias estavam nas filas sem máscaras, sem protecção alguma. Há muitas pessoas vulneráveis no centro de São Paulo." Nas favelas, a situação é ainda mais preocupante. "Há vários Brasis dentro do Brasil. O dos ricos é muito diferente do dos pobres. E nas favelas, a infecção está a ganhar terreno."

Luca apelida de "desastrosa" a situação no Brasil e de "terrível" a postura de Jair Bolsonaro. Entre o cepticismo e a revolta populares que pautam os dias das grandes cidades do Brasil, o fotógrafo realça a postura "irresponsável" do Presidente brasileiro. "Muitas pessoas apoiam as ideias do Presidente e, por isso, o isolamento não está na realidade a acontecer em muitos lugares do Brasil", refere. "Em tempos de pandemia, há quem saia de carro para protestar contra o encerramento do comércio, mas também há, felizmente, muitas pessoas que permanecem dentro de casa, num gesto de responsabilidade colectiva." A prefeitura de São Paulo é, no entanto, pró-confinamento, "embora se sinta fraca adesão da população".

O fotógrafo permaneceu em confinamento durante o último mês por respeito à sua família, que vive em Milão: o patriarca de 96 anos faleceu há pouco tempo, em resultado, suspeita-se, da infecção por covid-19. "Não o testaram, mas a minha prima, que privou com ele, está infectada." Luca está, por isso, bem ciente do perigo que representa a exposição ao vírus e do custo humano e emocional que este representa. "O meu pai não pôde despedir-se do meu avô, algo que é muito triste." Considera, por isso, "complicado viver no Brasil de hoje": "O número de infectados é alto e representa apenas uma fracção dos números reais. Preocupa-me o frágil sistema de saúde, que não terá como dar resposta à pandemia."

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