Electricidade sem carvão há 52 dias produz menos um milhão de toneladas de CO2

A estimativa é da Zero, que recorreu aos dados da REN relativos aos meses de Março e Abril de 2020, comparando-os com o período homólogo de 2019.

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A estação termoeléctrica de Sines, a maior produtora de carvão do país, não produziu durante o mês de Abril. Miguel Manso

Portugal não usa carvão para produzir electricidade há 52 dias, o que reduziu as emissões de dióxido de carbono (CO2) em quase um milhão de toneladas, indicam as contas da associação ambientalista Zero, divulgadas nesta terça-feira.

Num comunicado em que dá conta do recorde, a associação salienta que não se queima carvão para produzir electricidade há 52 dias consecutivos nas centrais de Sines e Pego, e lembra que a central de Sines está parada há 100 dias. A produção das centrais a carvão foi nula no mês de Abril, o que não acontecia desde 1985, segundo a REN (Redes Energéticas Nacionais).

“Tal conduziu a uma redução inédita e sem precedentes das emissões de gases com efeito de estufa em Portugal”, diz a Zero no comunicado.

Para os resultados que divulga, a Zero recorreu aos dados da REN relativos aos meses de Março e Abril de 2020, comparando-os com o período homólogo de 2019. Assim, a associação calcula um decréscimo de emissões de 960 mil toneladas (370 mil toneladas para o total de Março e 590 mil toneladas para o total de Abril).

Nos mesmos dois meses houve ainda um aumento de 14,5% de fontes renováveis na produção de electricidade, comparando com o mesmo período de 2019, passando de 62,6% para 77,1%, segundo a Zero, que considera ainda “relevante” a quebra no consumo de electricidade, que atingiu 12% comparando o mês de Abril de 2020 com o mês de Abril de 2019. A REN indica que é necessário recuar a Agosto de 2004 para encontrar um consumo mensal tão baixo como o do mês passado.

Juntando todos os dados, a associação ambientalista estima que as emissões médias diárias de CO2 associadas à produção de electricidade tenham descido das 28 mil toneladas/dia de Março e Abril do ano passado para 12 mil toneladas/dia nos meses respectivos deste ano. Ou seja, são menos 16 mil toneladas por dia. Em Março a Zero estimava que Portugal estava a emitir menos 52 mil toneladas por dia.

No comunicado a Zero ressalva que a pandemia de covid-19 “não tem uma relação directa com estes resultados”, excepto por exemplo na redução do consumo de electricidade, e diz que eles se devem acima de tudo a uma consequência dos preços de mercado do carvão, dos custos associados às emissões e à competitividade, e da disponibilidade de outras alternativas, especialmente a electricidade de fontes renováveis e as centrais a gás natural, mais eficientes que as centrais a carvão.

Em Outubro, o Governo anunciou estar preparado para encerrar a central termoeléctrica do Pego no final de 2021 e fazer cessar a produção da central de Sines em Setembro de 2023, algo que a associação lembrou estar, no momento, “a ter lugar”. As duas centrais são responsáveis por uma quantidade significativa das emissões de CO2 de Portugal, emitindo também outros poluentes como óxido de azoto, dióxido de enxofre, partículas e metais pesados.

“As actuais paragens das centrais do Pego e de Sines mostram que é possível a sua retirada do sistema sem pôr em causa a segurança do abastecimento de electricidade no país”, frisa a Zero, acrescentando que os investimentos para a produção de electricidade a partir de fontes de energia renovável conseguirão assegurar uma fracção progressivamente significativa da geração de electricidade, “com custos mais reduzidos para o consumidor e sem emissões directas de gases de efeito de estufa”.

E depois, diz também, as centrais térmicas existentes de ciclo combinado a gás natural (Ribatejo, Pego, Lares e Tapada do Outeiro) têm permitido substituir o fornecimento de electricidade das centrais a carvão com muito menores emissões de CO2.

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