Portugueses começaram a sair mais depois da Páscoa — e confinamento não voltou a subir

Na quarta-feira, 53% das pessoas estudadas pela consultora PSE ficaram em casa. Na Páscoa, essa percentagem era de 79%. Antes da Páscoa, foram as pessoas com idades entre os 35 e os 54 anos que mais ficaram em casa. Depois da Páscoa, os mais velhos (com mais de 65 anos) começaram a relaxar o confinamento e a sair.

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PAULO PIMENTA

Nos últimos dez dias de Abril, houve menos portugueses a cumprir o confinamento. A maioria ficou em casa na Páscoa, de acordo com os dados da consultora PSE, especializada em ciência de dados, mas não na segunda quinzena de Abril e em especial nos últimos dez dias — altura em que se observou “uma tendência de decréscimo, embora suave”. Nos últimos três dias, pouco mais de metade (54,6% da população) ficou em casa.

Estas não são más notícias, uma vez que “a quarentena voluntária continua a verificar-se em bons níveis, com pouco mais de 50% da população confinada”, assinala a consultora em comunicado.

Apesar disso, e olhando para os dados de forma mais fina, verifica-se que 61% das pessoas que constituem a amostra e que costumavam sair de casa antes do confinamento mantiveram os seus velhos hábitos na última quarta-feira. Isto porque os dados disponibilizados por esta consultora fazem distinção entre as pessoas que naturalmente ficam em casa (e que já ficavam antes do estado de emergência) e as que normalmente saíam — para trabalhar ou não.

Normalmente, cerca de 25% das pessoas cujos dados são recolhidos pela PSE ficavam em casa e essas pessoas continuam a ficar. Os restantes 75% costumavam sair numa quarta-feira normal e, desses, “60% não cumpriram o confinamento” na última quarta-feira — a apenas três dias do fim do estado de emergência, que termina à meia-noite do dia 2 de Maio.

A última quarta-feira surge, a par da última sexta-feira (dia 24 de Abril, véspera de feriado), como o dia em que os portugueses menos ficaram em casa nos últimos dez dias — apenas cerca de metade da população o fez. De entre as pessoas que costumavam sair, apenas 36% ficaram em casa no dia 24. “Ou seja, quase 2/3 da população que habitualmente circula às sextas-feiras encontrou-se em circulação, intensificando assim o movimento nas ruas”, sublinha-se na nota da PSE.

Quem mais sai de casa são os mais velhos

Se antes da Páscoa a população tentava manter-se em casa, depois da Páscoa o caso mudou um pouco de figura. “Após a Páscoa, os portugueses têm vindo tendencialmente a ‘desconfinar’. Ou seja, a incrementar a saída de casa e a sua mobilidade”, lê-se na mesma nota.

Na Páscoa, registou-se um pico de confinamento, que mostra que a população em estudo acatou as ordens do Governo e das autoridades nas ruas. Os dados mostram que pelo menos 79% da amostra ficaram em casa. E mostram também que, desde o início de Março e até essa data, quem mais ficou em casa foram as pessoas com idades entre os 35-44 anos e entre os 45-54 anos. Durante o mesmo período, os mais velhos alteraram pouco o seu comportamento “porque já tinham maiores níveis de confinamento em casa antes da pandemia.

Depois da Páscoa, foram os mais velhos que tiveram pressa em sair: as pessoas com mais de 65 anos foram o grupo que mais saiu. Pelo contrário, as pessoas com idades entre os 45-54 anos apertaram ainda mais as medidas de confinamento após a Páscoa e até à última quarta-feira.

Há ainda outros dados a ter em conta, como os níveis de mobilidade. No domingo de Páscoa, por exemplo, apenas 7% das pessoas analisadas tiveram uma mobilidade de médio a longo curso (de dez a mais de 20 quilómetros por dia). No dia 29, isto é, na última quarta-feira, 18,66% das pessoas tiveram baixa mobilidade (percorrendo distâncias até dez quilómetros), 9,27% tiveram média mobilidade (entre dez e 20 quilómetros) e 17,09% tiveram elevada mobilidade (mais do que 20 quilómetros)

Os dados usados pela PSE são recolhidos a partir de uma aplicação instalada nos smartphones da amostra escolhida — 3670 pessoas com mais de 15 anos das regiões do Grande Porto, Grande Lisboa, litoral norte, litoral centro e distrito de Faro — que recolhe os seus dados em permanência, nomeadamente a informação de localização e meios de deslocação.

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