Emergência prolongada – a imposição da ameaça invisível e lições para o futuro

Todos os dias nos chegam informações de como evolui a pandemia e das respostas organizadas dos cuidados de saúde. É neste quadro que se confirma o valor, a necessidade e a indispensabilidade do SNS, onde a ninguém são recusados os cuidados necessários para minorar os efeitos de uma pandemia que ninguém esperava.

A ameaça invisível que ao longo dos últimos meses tem alastrado por todo o mundo tornou visíveis as fragilidades e as potencialidades dos instrumentos que cada povo foi construindo e como os mobilizou para lhe fazer frente e limitar os seus efeitos.

O estado de emergência, que vai sendo longo, a todos condiciona. Mas, sem ele, a extensão da propagação do coronavírus levaria a consequências mais danosas e a comprometer a capacidade de resposta do nosso SNS às situações mais graves da covid-19.

Todos os dias nos chegam informações de como evolui a pandemia e das respostas organizadas dos cuidados de saúde. É neste quadro que se confirma o valor, a necessidade e a indispensabilidade do SNS, onde a ninguém são recusados os cuidados necessários para minorar os efeitos de uma pandemia que ninguém esperava.

Desconhecemos quando terminará esta ameaça global. Mas sabemos que nesta guerra importa ir ganhando batalhas onde todos somos soldados armados com os meios que temos ao nosso alcance: (i) na linha da frente – todos os cidadãos que cumprem as medidas de contenção que as autoridades de saúde têm decretado e que a maioria da população tem cumprido de forma exemplar – desta forma somos os primeiros agentes do controle da propagação da doença; (ii) na retaguarda – são todos os meios humanos e tecnológicos que garantem os cuidados necessários nos diferentes contextos: Linha Saúde 24, centros de saúde, hospitais, farmácias, lares, residências de idosos, assistência e transportes de emergência, prisões, entre outros. Mas este exército só consegue estar de pé no combate porque muitos garantem que os bens essenciais chegam aos que em casa se mantêm, incluindo informação e orientações para a proteção de todos e que a segurança pública é promovida e mantida.

Entretanto, vamos aprendendo e identificando aspetos que podem configurar lições do presente para o futuro. A saber:  

  1. A importância da responsabilidade partilhada e do envolvimento das várias áreas governativas que, dando prioridade à vida e à saúde, suportam as decisões de ordem social, económica e política – estas intervenções ilustram a necessidade de contemplar sempre a saúde em todas as políticas;
  2. O papel decisivo da informação verdadeira, de um enquadramento estratégico nacional e de orientações claras, coerentes e ajustadas às diversas necessidades e momentos – um papel conjunto e determinante de MS e DGS, assente no conhecimento que especialistas de várias áreas vão construindo quando a incerteza é, ainda, a única certeza possível – como fatores de confiança e de estabilidade, absolutamente necessários para motivar e dar suporte à drástica mudança de comportamentos individuais, coletivos e organizacionais;
  3. As vantagens da iniciativa das estruturas de cada comunidade, incluindo a coordenação local dos meios disponíveis, com o envolvimento de todos os atores – os Sistemas Locais de Saúde, agora consagrados na Lei de Bases da Saúde, serão seguramente no futuro um importante instrumento não só para a resposta a crises, mas para melhorar as respostas permanentes, de acordo com as necessidades e desafios presentes e futuros;
  4. A reorganização dos cuidados de saúde cada vez mais assente na cooperação multi-institucional e no trabalho em equipa multiprofissional, para garantir a integração de cuidados centrada em cada pessoa, consoante as suas necessidades de saúde – trabalho em equipa onde as competências de cada um são, em conjunto com as dos restantes, a garantia de que os resultados esperados são alcançados;
  5. O reconhecimento do valor do trabalho dos profissionais de saúde, que deve também implicar que, no futuro, seja a todos garantido o seu desenvolvimento profissional em carreiras que dêem corpo às suas expetativas, com remunerações justas que recompensem o valor social do seu trabalho;
  6. Necessidade de maior autonomia de gestão das organizações, com a disponibilização de meios e a necessária agilização de procedimentos tanto na contratação de profissionais como na reorganização dos serviços – para que no local onde as coisas acontecem, se garantam as respostas certas e atempadas;
  7. Necessidade de adaptação organizacional do SNS aos novos desafios dos doentes com multimorbilidade, dando respostas em função das necessidades, focalizadas na pessoa e no seu percurso e não em doenças vistas isoladamente;
  8. Participação crescente e organizada dos cidadãos e das comunidades em todos os níveis da gestão do SNS, paralelamente ao aumento da sua literacia em saúde para maior capacidade de participar nas decisões e ações para promover e proteger a sua saúde pessoal.

Tirar conclusões só será possível quando a perspetiva do fim da ameaça estiver consolidada. Mas o que tem sido feito indica-nos já caminhos para transformar e reforçar o nosso SNS, que é património de todos.

Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico

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