Covid-19: As freiras em clausura que rezam pelos profissionais de saúde

As Concepcionistas de Campo Maior lançaram a campanha “Do convento rezo por ti”. Centenas de religiosas de outros conventos do país ja abraçaram a iniciativa.

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daniel rocha

Ainda o dia não nasceu e já Maria dos Anjos, 70 anos, que desde os 14 vive em clausura, no mosteiro de Campo Maior, no Alentejo, “reza a Nosso Senhor para que dê força e aumente a fé e a confiança dos profissionais de saúde que cuidam de doentes de covid-19”. Maria dos Anjos é uma das mentoras da campanha “Do convento rezo por ti”, no âmbito da qual cada religiosa ora por um médico, enfermeiro ou auxiliar de hospital que assim o peça. O projecto já chegou a outras congregações.

A campanha foi lançada, há poucos dias, na página do Facebook “Do convento rezo por ti”, promovido pelo mosteiro de Campo Maior, entre as 18 monjas Concepcionistas, pertencentes à Ordem da Imaculada Conceição. Dentro de muros, as monjas dizem-se mais protegidas do coronovírus, no seu mundo de clausura e orações, porque “muito raramente saem à rua”, conta Maria dos Anjos ao PÚBLICO, ao telefone, a partir do mosteiro. 

Ainda assim, as contemplativas não estão alheias ao flagelo da pandemia “que é muito contagiosa”. E, por isso, decidiram orar pelos profissionais de saúde que, “nestes tempos difíceis, com sacrifício e grande trabalho, procuram a saúde e o consolo dos doentes afectados pela covid-19, muitas vezes afastados das suas famílias”, lê-se na página de Facebook, onde as irmãs explicam a sua proposta num vídeo.

“Neste tempo de prova, quisemos replicar a campanha de um pároco, em Espanha, que pedia a cada uma das irmãs dos conventos para apadrinharem um médico, enfermeiro ou auxiliar hospitalar” que estivesse na primeira linha do combate à covid-19, continua a freira.

Entretanto, o número de religiosas que abraçaram a campanha aumentou e são agora 135 irmãs contemplativas de várias comunidades do país, desde as Concepcionistas de Campo Maior, passando pelas Concepcionistas do Estoril, Clarissas de Lisboa, Clarissas de Fátima, Clarissas dos Açores, Clarissas de Montalvo, Beneditinas do Mosteiro de Santa Escolástica, Carmelitas do Crato, Carmelitas de Fátima, Carmelitas de Faro, Visitandinas de Vila das Aves até às Monjas de Belém.

As monjas de Belém do convento de Nossa Senhora do Rosário, Couço DR
As clarissas do mosteiro do Imaculado Coração de Maria, Lisboa DR
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As monjas de Belém do convento de Nossa Senhora do Rosário, Couço DR

Todos os dias rezam pelos 321 profissionais de saúde que, até à data, pediram a sua oração e cujo número cresce a cada dia que passa. Além dos profissionais também “os seus familiares pedem por eles, porque estão muito preocupados com eles”, conta Maria dos Anjos, em castelhano, voz pausada e serena. 

Os interessados podem “confiar o seu trabalho, família, intenções e questões concretas ao cuidado de uma irmã, que os acompanhará diariamente com a sua oração”, lê-se ainda na página de Facebook. Para isso, há que enviar um e-mail para doconventorezoporti@gmail.com e é-lhe atribuída uma religiosa. Depois, receberá uma mensagem a agradecer e a informar qual a consagrada e a comunidade a que pertence.

“Muitas pessoas já nos enviaram mensagens a agradecer por orarmos por elas”, declara Maria dos Anjos, que está “muito feliz” por contribuir para a paz das pessoas. É em momentos como este que a monja reforça a certeza de que ser consagrada é uma vocação. “Estou muito feliz e muito agradecida por me ter entregue a Ele com toda a alma e força”, conclui.

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