Make Aristotle Great Again

Esta é a quinta conversa da nossa primeira memória, sobre o fanatismo.

Al Farabi define os seres humanos como “os membros daquela espécie na qual não conseguem cumprir com aquilo de que necessitam sem viverem juntos em muitas associações num único lar”. Essas “associações dos humanos” são: “as aldeias, os bairros, as cidades, os conjuntos de cidades, as nações e as associações de nações” até à “associação cívica” da humanidade inteira que é a “associação humana inqualificavelmente perfeita”. A linguagem é do século X, o pensamento é útil para o nosso tempo.

Em segundo lugar, Al Farabi é um filósofo da felicidade. “A felicidade é o bem sem qualificações; tudo o que é útil para obter felicidade é bom, o mal é tudo aquilo que nos impede de obter felicidade”. Mais surpreendente é que esta é uma felicidade terrena, a atingir nesta vida: não sei se há algum filósofo medieval, muçulmano, judeu ou cristão que o dissesse de forma tão clara.

Em terceiro lugar, Al Farabi é um filósofo das cidades, e é aí que a sua linguagem se torna quase poética. O seu catálogo de tipos de cidades parece tirado de um conto de Borges ou romance de Calvino: para Al Farabi, há “cidades onde a verdadeira felicidade pode ocorrer”, “cidades da ignorância”, “cidades da necessidade”, “cidades do prazer”, “cidades timocráticas (onde manda o estatuto)”, “cidades despóticas”, “cidades democráticas” “cidades imorais” e “cidades errantes”.

Último aspecto, infelizmente desaparecido em tantos teólogos das três religiões monoteístas: Al Farabi declara que as religiões se distinguem pelas suas diferenças de opiniões e de acções e que a “comunidade cívica” deve legislar para a multiplicidade de religiões. Sem precisar de usar a palavra, Al Farabi é um filósofo da tolerância.

Esta é a quinta e última conversa da nossa primeira memória, sobre o fanatismo.

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