Coronavírus: cuidados com a lavagem da roupa reduzem probabilidade de contágio?

A resposta é não. A não ser que haja um caso suspeito ou identificado de covid-19 em casa. Lavar as mãos e não mexer na cara continuam a ser as mais eficazes medidas de protecção.

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Em caso a coabitação com alguém infectado, além dos cuidados de distanciamento/isolamento, é necessário proceder a uma higienização dos têxteis de forma mais assertiva Annie Spratt/Unsplash

Lavar a roupa a frio ou a quente, pôr de molho antes, lavar à mão ou à máquina, que detergentes usar? Estas são algumas das dúvidas mais comuns entre quem tem de sair de casa, quer para trabalhar, quer para ir buscar bens essenciais sobre as roupas que envergam.

No entanto, excepto para os profissionais de saúde e de apoio — e a não ser que haja em casa suspeita ou confirmação de um caso de covid-19 —, esse é um problema menor, dizem em uníssono vários especialistas. “O vírus não quer a roupa de ninguém; quer o nariz”, sublinha com algum humor a especialista em saúde pública norte-americana Carol A. Winner.

A afirmação de Winner vai ao encontro do que já se sabe sobre o novo coronavírus SARS-CoV-2: mantém-se activo nas mais diversas superfícies durante períodos que oscilam entre horas e dias, mas só será capaz de infectar alguém se entrar em contacto com as mucosas do desejado hospedeiro, através dos olhos, nariz e boca.

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine relata que o SARS-CoV-2, responsável pela covid-19, é capaz de resistir entre dois e três dias em plástico e aço inoxidável, cerca de 24 horas em papel e cartão, até quatro horas em cobre e até três horas em aerossóis.

No caso dos têxteis, não há estudos suficientes para determinar o tempo de vida fora do corpo de um hospedeiro, mas os investigadores estimam que a forma como o vírus se agarra à roupa e o tempo de permanência dependerá dos materiais dos mesmos: as sintéticas, semi-sintéticas e acetinadas apresentam melhores condições para alojar o vírus do que as fibras naturais como lã ou algodão. Isto porque os coronavírus, em geral, duram mais numa superfície sólida do que numa porosa.

“Sabemos que as gotículas [que transportam o vírus] podem secar melhor em algumas condições, o que pode ser mais rápido com fibras naturais”, explica Carol A. Winner, responsável por vários programas governamentais referentes à saúde pública e que no seu currículo ostenta o envolvimento no Affordable Care - Obama Care, o projecto do antigo Presidente norte-americano que se focava no acesso aos cuidados de saúde.

Numa longa lista de perguntas e respostas, a que deu acesso ao PÚBLICO, a mesma especialista esclarece, porém, que, no caso de não ter havido contacto com alguém contaminado, não é necessário ter mais cuidados com as roupas do que se tinha antes, sublinhando que os cuidados de uma boa lavagem de mãos pode ser o que terá mais efeito contra o vírus.

Sabão e calor

Um vírus é diferente de uma bactéria. Precisa de estar dentro da célula humana certa para se replicar, e chega a essas células nas gotículas de um indivíduo infectado. Para matar um vírus, utilizam-se produtos químicos que o impedem de se ligar ao receptor da célula, e isso é a razão pela qual são recomendados sabão e calor, que destroem ou alteram elementos importantes que compõem a partícula viral.”

Assim, a lavagem da roupa pode ser efectuada a qualquer temperatura e com qualquer vulgar detergente, desde que os cuidados com as mãos estejam sempre presente e não se levem as ditas à cara (evitar esfregar os olhos, coçar o nariz, levá-las à boca).

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Sana Saidi/Unsplash

“Embora faltem provas específicas da eficácia contra o SARS-CoV-2, o processo de lavagem com água, detergentes domésticos e a utilização de um desinfectante comum deverá ser suficiente para uma limpeza de precaução geral”, lê-se num documento elaborado pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla original). 

No entanto, em caso de coabitação com alguém infectado ou com suspeita de infecção, o caso muda de figura. E, além dos cuidados de distanciamento/isolamento da pessoa infectada, será necessário proceder a uma higienização dos têxteis de forma mais assertiva.

O ECDC defende que, nesse caso, têxteis como atoalhados e roupas de cama deverão ir à máquina da roupa a 90ºC. Caso a lavagem a esta temperatura não possa ser realizada, os especialistas daquela instituição recomendam o uso de detergentes com as substâncias indicadas para neutralizar qualquer partícula do vírus: lixívia ou o seu composto de hipoclorito de sódio entre os ingredientes do detergente da roupa.

O hipoclorito de sódio é essencial por conseguir destruir a proteína e o ácido ribonucleico (ARN), precisamente a substância que permite ao vírus replicar-se.

Resultados semelhantes, indica o ECDC, foram obtidos com detergentes domésticos que integram nas suas composições lauril sulfato de sódio, poliglucósidos alquílicos e dietanolamida de ácido graxo de coco — uma nota importante: alguns detergentes feitos em casa, eficazes nas limpezas diárias e melhores para o meio ambiente, não têm entre a sua composição nenhum destes químicos.

Paralelamente, o Conselho Americano de Química, num artigo genérico de como desinfectar roupas, mas que não está relacionado com o actual vírus, dá a dica de não encher demasiado a máquina da roupa, dando espaço a que tanto o detergente como a água façam as suas funções, tirando partido do processo de centrifugação.

Carol A. Winner também explica que, neste caso, será prudente arrumar e lavar as roupas de quem está doente em separado. No entanto, volta a sublinhar, não se conseguirá ficar infectado pela existência de partículas do vírus nas roupas, referindo a importância da permanente e constante lavagem de mãos.

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