Ataque de nervos e o digital

Para evitar a actual avalanche de tarefas pedagógicas, a solução passa pelo figura preponderante do diretor de turma, enquanto mediador entre alunos e os seus professores.

Decorrida que está a primeira semana atípica de aulas, apesar de a classificar de positiva, importa trazer à colação duas evidências que receio poderem ser descuradas e que exigem reflexão aprofundada num futuro próximo.

1. Pais à beira de um ataque de nervos

O entusiasmo inicial dos docentes fez com que se verificasse uma avalanche de tarefas pedagógicas dirigidas aos alunos e que gerou imensas dificuldades no acompanhamento proporcional por parte dos pais e encarregados de educação, pelos prazos apertados para a sua realização e posterior devolução. E houve quem estranhasse, questionando a quantidade de matéria que faltava dar a duas semanas do fim do 2.º período.

Cumpre esclarecer que as atividades escolares destinadas aos alunos não se enquadram no âmbito do tradicional trabalho para casa, tendo-se procurado recriar ao máximo a dinâmica de sala de aula. Contudo, percecionaram-se alguns exageros, sobretudo a partir do 5.º ano. Nos dois anos iniciais do 1.º ciclo, o professor, em monodocência, consegue dosear melhor a quantidade de tarefas a solicitar aos alunos, tendo de articular, nos 3.º e 4.º anos, somente com a professora de Inglês. Assim, a solução para o constrangimento que se verificou nos anos subsequentes passará pelo figura preponderante do diretor de turma, enquanto mediador entre alunos e os seus professores, definindo em conjunto critérios, fazendo chegar os trabalhos das diferentes disciplinas, em consonância com a carga horária semanal, acordando prazos e horários de entrega razoáveis.

2. Educação à distância vs. ausência de novas tecnologias

Nos últimos dias, deparamo-nos com a coexistência de realidades muito distintas dentro da mesma comunidade educativa:

a) A educação à distância reafirmou aquilo que todos sabemos: há lares sem computadores, sem rede internet, sem tablets, encontrando-se estes alunos limitados no acesso ao ensino e impossibilitados de progredirem nas suas aprendizagens;

b) De um dia para o outro, o número de computadores existentes em cada lar tornou-se insuficiente, pelo facto de passarem a ser utilizados, em simultâneo, por duas, três, quatro, cinco pessoas, com as crianças e jovens da casa a realizarem as tarefas escolares e os adultos em teletrabalho, inexistindo recursos físicos para toda a família;

c) Os professores foram deixando nas escolas tarefas em suporte de papel para os pais e encarregados de educação levantarem, possibilitando a sua realização pelos seus educandos, solução generosa, mas impossível de praticar após declaração do estado de emergência.

Os novos cenários que se nos impõem abrem janelas de oportunidade de enorme significância, dado que legitimam a relevância que o digital assume no presente de todos nós, sobretudo na forma como, tendencialmente, se afirmará como lugar comum no nosso futuro.

Senão, vejamos. O anterior Governo Constitucional (XXI) direcionou a “Modernização Administrativa” para a alçada do Ministério da Presidência, dando sinais de querer impulsionar esta área; talvez por não se terem sentido, pelo menos na Educação, as consequências progressistas expectáveis, o atual Governo decide autonomizar e ampliar num mesmo ministério a “Modernização do Estado e da Administração Pública” e aglutina a “Transição Digital” ao tradicional Ministério da Economia.

Numa lógica de consistência de atuação, espera-se da parte do Governo a implementação de políticas para dotar os lares dos portugueses do acesso à rede de internet (tendo a colaboração das operadoras de telecomunicações) e de computadores (algumas autarquias, em articulação com a equipa governativa, estão a efetuar o levantamento das necessidades, a que irão dar resposta eficaz), realidades que deixaram de ser, há algum tempo, um luxo.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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