Presidente do Mais suspende mandato por um ano e fundador do movimento sai

Dois dos rostos que estiveram na origem do movimento independente discordam da estratégia seguida pela liderança do Mais.

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Leonor Lêdo da Fonseca, presidente do Movimento Mais, suspendeu o mandato DR

O fundador do Movimento de Cidadania Independente Mais, José Marecos Paz, bateu com a porta, por considerar que o movimento se está a afastar da sua matriz, e a presidente, Leonor Lêdo da Fonseca, suspendeu o mandato por um ano e muito provavelmente vai também desvincular-se do Mais. “Vou estando por aqui, mas não sei por quanto tempo mais”.

José Marecos Paz, que, em 2013, ajudou a fundar o Livre com Rui Tavares e André Barata, assume a paternidade do movimento independente. “Fui a alma do projecto, fui eu que o pensei e que fiz todo o caminho e todo o trajecto desde o dia 26 de Maio de 2018 [altura em que foi lançado]”, diz, revelando que o objectivo do projecto era “ir mais longe do que a AMAI [Associação Nacional dos Movimentos Autárquicos Independentes], que funciona como uma associação de apoio às candidaturas independentes”.

“Decidimos criar um movimento para tentar criar uma plataforma que servisse de acção política na intervenção directa junto do Governo, dos partidos e da Assembleia da República e que lutasse pela possibilidade de haver representantes independentes eleitos nas legislativas”, explica o até agora secretário e membro da comissão instaladora movimento de cidadania independente.

Em declarações ao PÚBLICO, José Paz, que foi cabeça de lista pelo PURP em Aveiro, nas eleições para a Assembleia da República de 2015, reafirma que a intenção do movimento “era criar uma plataforma de intervenção política directa que reivindicasse não só mais a autonomia a nível das autarquias e a nível da gestão do território administrativo de cada concelho e lutasse por uma descentralização dos serviços”.

Tanto José Paz como Leonor Lêdo da Fonseca admitem que a ambição da liderança do Mais de o transformar num novo partido político parece estar a comprometer o projecto inicial.

A iniciativa de constituir um novo partido partiu do mesmo grupo de pessoas que, em Maio de 2018, esteve na origem do lançamento do Mais que se extinguirá logo que o partido seja legalizado. Já a decisão de fundar o partido Mais foi assumida no último fim-de-semana pela direcção do movimento, numa reunião que decorreu nos arredores do Porto e na qual foi criada a comissão instaladora. Joana Amaral Dias é um dos rostos da comissão instaladora, constituída por 13 elementos.

“O movimento perdeu alguma força e há uma estratégia que foi definida que não tem a ver com o âmbito dos movimentos independentes e que são os concelhos, as freguesias e as populações e a sua gestão económica, social, e territorial, e passou a centrar-se nas questões que têm a ver com um certo centralismo”, assinala o fundador do Mais, revelando que uma das vertentes que a liderança do movimento tomou foi a do imediatismo, do combate à corrupção, centrando-se na figura Rui Pinto, da qual a comunicação social tem explorado a vertente populista e que o movimento parece querer agora agarrar”.

Alegando razões pessoais e profissionais, Leonor Lêdo da Fonseca pediu a suspensão do mandato por um ano, mas o que pesou na sua decisão foram outros motivos. Ao PÚBLICO, a advogada e ex-vereadora do PSD da Câmara de Espinho confessa que a principal razão” que a levou a afastar-se temporariamente da liderança do movimento prende-se com a perspectiva de o Mais pretender ser um partido político.

“Entendi, em sede própria, dizer que não estavam reunidas as condições a nível nacional para se avançar para um partido político”, afirma Leonor Fonseca, frisando que, “quando foi constituído o Mais, a ideia era unir os mais de 300 movimentos independentes que existem em Portugal e ir alargando o movimento”.

Desapontada com o rumo do movimento, a presidente recorda que, quando foi decidido avançar para um partido político, “estavam apenas cinco movimentos independentes na sala, um número pouco representativo dos movimentos cívicos. “Faltava massa crítica e mais gente”, nota ainda a presidente, vincado a sua tese que “não havia manifestações de vontade em número suficiente para se fazer um partido. Aquilo que entendi é que os movimentos cívicos eram sempre variavelmente meia dúzia e essa meia dúzia queria transformar o Mais num partido”.

Leonor Fonseca adianta, por outro lado, que houve uma outra razão que a levou a pensar em afastar-se da presidência do movimento e que tem a ver com as eleições à Presidência da República. Pedro Caetano era a pessoa que o movimento pretendia sondar para liderar uma candidatura presidencial em 2021. “Não tinha informação suficiente para aferir sobre o perfil daquele candidato, independentemente da sua carreira académica”, declara, deixando uma nota para reflexão: “O Mais não devia apoiar nenhuma candidatura à Presidência da República, porque isso implica desgaste e desvirtua a ideia inicial do Movimento de Cidadania Independente”.

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