Em isolamento, a música portuguesa também se grava a ela própria

Tiago Pereira, fundador d’A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, está a convidar artistas de todo o país a filmarem-se a tocar uma canção: É A Música Portuguesa a Gravar-se a Ela Própria.

Foto
João Silva

“A ideia é que qualquer pessoa se possa gravar a ela própria e enviar o vídeo.” Tiago Pereira, fundador d'A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP), decidiu criar agora mais um projecto paralelo: É A Música Portuguesa a Gravar-se a Ela Própria.

Num tempo em que a covid-19 se está a instalar e o país se isola aos poucos para impedir a sua propagação, começam a surgir cada vez mais concertos e festivais de música online. Mas Tiago aponta que são apenas com artistas que “todos conhecem”, logo, diz ao P3, “é preciso mostrar que a música não é só aquilo”. Desta forma, decidiu desafiar a população portuguesa.

A particularidade da MPAGDP — que já conta com 4706 vídeos — sempre foi, precisamente, criar “o espaço para que a pessoa pudesse ser aquilo que ela quisesse, no enquadramento que se dava com a paisagem”. Agora, confinado a quatro paredes, o músico que há em cada português é convidado a partilhar vídeos das suas canções (ou das suas interpretações de canções de outros). “Isto nasce como uma espécie de confessionário da música portuguesa, onde as pessoas cantam a música que querem”, sem qualquer limite ou constrangimento, pois é “fundamental que as pessoas não percam a criatividade”.

O realizador e documentarista mudou-se recentemente para Serpins, Lousã, e tinha agendado um piquenique musical para 21 de Março – precisamente, para assinalar a mudança da sede e o nono ano de vida do projecto. A intenção era proporcionar o espaço e o tempo para as “pessoas serem protagonistas e espectadoras ao mesmo tempo”.

Agora, como tal não será possível, Tiago espera que este novo repto seja uma oportunidade para os portugueses “serem protagonistas e espectadores ao mesmo tempo, de qualquer forma: só que estão em casa, não se misturam uns com os outros”. “Até porque uma pessoa está em casa e tem que estar sempre a descobrir coisas novas para fazer. Porque, neste momento, o grande problema [a nível cultural] é que a produção audiovisual está a parar no mundo inteiro, a própria Netflix está a parar as suas produções. Só nos podemos resumir ao que já está feito.”

Criar sem sair de casa é assim a solução para combater este período de estagnação cultural. Avança que já muitos músicos estão a mandar vídeos (é o caso de Celina da Piedade) e o próprio Tiago convidou alguns artistas a participar. Apela, também, a que as pessoas partilhem os vídeos que vão sendo publicados, com o objectivo de chegar a cada vez mais mais artistas (profissionais ou amadores, porque, afinal, todos somos músicos, “nem que seja quando cantamos no banho”) e se conseguir reunir “uma grande panóplia de diversidades musicais”.

Quem quiser participar, pode enviar o vídeo para o e-mail da MPAGDP e incluir o seu nome, o título da canção e, se tal for possível, a letra. Os vídeos devem ser filmados na horizontal e com a maior qualidade possível. Como complemento, Tiago destaca que se deve tentar obter luz directa — ao invés de estar em contraluz — e “encontrar espaços onde não haja muito eco e onde a acústica seja boa”. Depois de receber os ficheiros, o realizador editará o vídeo “o melhor possível”.

O género musical e a temática são à escolha de cada um. E não há qualquer problema em fazer-se “reflexões sobre o momento confuso e difícil” que o mundo vive devido ao novo coronavírus, até porque pode ajudar “falar do que está a acontecer”.

Sugerir correcção