Desta vez, Tiago Pereira quer pôr A Música Cigana a Gostar Dela Própria — e Diego el Gavi também

Projectos do documentarista Tiago Pereira e do músico Diego el Gavi foram apresentados pelo Alto Comissariado para as Migrações e pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade.

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João Silva

O documentarista Tiago Pereira e o músico Diego el Gavi vão liderar projectos culturais para, através da música, “quebrar preconceitos sociais” e “desmistificar ideias” sobre a comunidade cigana em Portugal.

Os dois projectos foram apresentados na terça-feira pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade, com o objectivo de integrar as pessoas ciganas na sociedade portuguesa. “A música cigana, de facto, é um nicho que está escondido e é só para eles e eu acho que tem de ser conhecida”, afirmou Tiago Pereira, realizador e documentarista que se prepara para criar o projecto A Música Cigana a Gostar Dela Própria, à semelhança do que já faz com A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria.

Segundo Tiago Pereira, o objectivo é “mapear e encontrar o terreno da música cigana e tentar descobrir coisas que só podem ser descobertas com gravações”. “Por exemplo, se a música cigana é toda ela baseada no flamenco, se a língua mais falada será o espanhol, o castelhano ou galego (mais a norte), se é permeável a outras influências”.“A ideia é perceber a variedade gigante que existe na música cigana e entendê-la como música portuguesa que é, porque os ciganos que vivem em Portugal são portugueses”, sublinhou.

Actualmente, Tiago Pereira já gravou cerca de 15 vídeos musicais com ciganos de Elvas, Santo Tirso, Vidigueira, Cuba, Pias e Coimbra e sabe que há interesse das comunidades em se fazerem ouvir. “Isto nasce de uma percepção minha de ir a um sítio gravar, ter protocolos com municípios e só depois mais tarde ter conhecimento que nesses lugares também havia música cigana. [...] A música tem essa capacidade para quebrar preconceitos sociais”, disse.

Em paralelo, Diego el Gavi está também a estruturar um projecto de aproximação entre a comunidade cigana e não cigana de Portugal. À Lusa, o músico contou que foi contactado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade depois de ter actuado em Junho passado no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, onde apresentou o álbum Puerta del Alma.

Desde aí tem estado a desenvolver um projecto — que só deverá ser concretizado em 2020 e com apoios de fundos europeus — de formação para jovens músicos de etnia cigana. “É tentar trazer estes miúdos que têm um talento enorme e dar-lhes workshops gratuitos e trazê-los aos teatros, trazer as comunidades dessas cidades, para desmistificar a etnia cigana. [...] É dizer-lhes que isto da carreira musical é possível se acreditarem. Não é só um dom, é preciso trabalhar”, afirmou o músico.

Diego el Gavi fala em “novos tempos” para as relações dos ciganos com as comunidades onde vivem: “Obviamente a parte mais interessada são os ciganos, mas não [devemos] limitar os concertos aos ciganos, porque faz com que a gente se feche”. Segundo o músico e compositor português, estão já planeados concertos para 2020 em várias cidades — como Porto, Lisboa, Viseu, Moura e Beja — que contarão com oficinas musicais para jovens ciganos. “A ideia mesmo é, por exemplo, no dia em que chegamos já termos um sítio onde possamos dar workshops. O que se está a tentar fazer é com as autarquias e escolas musicais, orfeões, trazer a comunidade cigana aí e dar os workshops aí”.

Em comunicado, o Alto Comissariado para as Migrações explicou que estes dois projectos de Tiago Pereira e Diego el Gavi inserem-se numa “nova linha de intervenção no âmbito das políticas públicas junto e com as pessoas ciganas”.

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