“É correcto ser o primeiro, mas primeiro é preciso estar correcto”

Se a responsabilidade social do jornalismo e dos jornalistas já era grande, ainda mais agora, quando o mundo está em estado de alerta.

O dia 11 de Março de 2020 foi um dia mau para os media e para o jornalismo em Portugal. O Porto Canal noticiou e a Direcção-Geral de Saúde desmentiu. Ainda assim, durante várias horas assumia-se a primeira morte causada pela doença do momento (COVID-19). Quem o fez em primeira mão e quem replicou a notícia. 

Vivemos um momento importante para demonstrar à sociedade a relevância do jornalismo. Dos media aos jornalistas, sem esquecer a responsabilidade dos outros, também cidadãos. Partilho este pensamento com várias pessoas, colegas da academia e do jornalismo. Mesmo que em Portugal o nível de confiança nas notícias seja elevado, quando comparado com outros países (Digital News Report 2019), não podemos deixar de zelar por ela. E a confiança depende do exercício constante, persistente e até exaustivo da verificação da informação. É o que o público espera.

O caso aqui trazido recordou-me, mais uma vez, uma conversa com Rosental Alves, jornalista brasileiro radicado há muitos anos nos EUA, onde é professor na Universidade do Texas, em Austin. Devido à experiência e conhecimento acumulados, sobretudo na visita a muitas redacções um pouco por todo o mundo, quis saber como é que os jornalistas estavam a adaptar-se à transição para o digital. Na tarde de um dos últimos dias de 2011, no Porto, Rosental disse algo que não mais me saiu da memória: “É correcto ser o primeiro, mas primeiro é preciso estar correcto”. Quase uma década depois, e numa altura em que o frenesim informativo é cada vez maior, aquela frase mantém-se actual.

Do jornalismo ao ciberjornalismo: jornalistas e rotinas de produção from Jornalices on Vimeo.

Desinformação e fake news vão-se multiplicando a cada dia que passa. Seja em contexto político ou até epidémico, como agora. É preciso estar correcto e lutar por isso a cada instante. Mesmo que seja o colega a noticiar, qualquer jornalista deve fazer o seu próprio percurso de verificação. Sempre! O trabalho destes profissionais – que também já foi o meu – é extremamente relevante. Mesmo reconhecendo que não raras as vezes é feito em condições desfavoráveis. São poucos, estão sobrecarregados e primeiramente são tão cidadãos como os demais. E nem todos devem estar a lidar da melhor forma com o que se está a passar. Mas não esqueço que têm uma missão extremamente importante. 

Errar, todos erramos. Assumir as responsabilidades disso é que já não é para todos. O povo é sábio: “depressa e bem, não há quem.” Portanto, nestes tempos de instabilidade social e emocional, espera-se responsabilidade por parte de quem tem por missão informar o país e o mundo. Sem atropelos a qualquer um dos princípios éticos e deontológicos da profissão. Porque fontes e concorrência não faltam, sobretudo online. A procura pela verdade é, pois, fundamental. E esse compromisso, que é dos jornalistas, pode ser partilhado pela restante sociedade. Que possamos ser solidários e responsáveis. 

Sugerir correcção
Comentar