Autocarro interactivo percorre escolas para alertar para os perigos da Internet

A campanha SmartBus levará um autocarro interactivo a percorrer todo o país, para ensinar crianças entre os 10 e 14 anos a utilizar a Internet em segurança. A primeira paragem foi em Lisboa.

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O autocarro está estacionado na Rua Ilha dos Amores, no Parque das Nações. Esta terça-feira, como no dia anterior, os três educadores que orientam as aulas que decorrem no interior do SmartBusuma iniciativa da Huawei, recebem alunos da Escola Vasco da Gama, situada a poucas dezenas de metros de distância.

Cinco minutos antes da hora de início da aula, desinfecta-se tudo o que tem ecrã táctil: telemóveis, tablets, computadores, painéis interactivos. Enquanto se espera pela turma seguinte, o educador comenta que a maioria dos alunos não está suficientemente educada nem familiarizada com as consequências que podem advir de acções tão comuns no mundo online como a partilha de uma foto ou da sua localização, preocupações que são tidas em conta nestas aulas.

São 10h45 e uma turma de 7.º ano, com 23 alunos, entra no autocarro. “Sabem o que estão aqui a fazer?”, começa por perguntar o educador. “Vamos receber um telemóvel”, responde alguém, dando voz à esperança, não só sua, mas de todos os colegas. Todos sabem que o objectivo da aula é outro: sensibilizar para os perigos da Internet.

Não se encontra um único estudante entre os ali presentes que não tenha redes sociais – utilizam sobretudo o Instagram e já não tanto o Facebook, que marcou a geração millennial. Quando o educador pergunta para que utilizam as redes, ouve-se respostas como “para partilhar a vida”, e “para comunicar”. Mas será que alguém leu as autorizações “escritas em letrinhas pequeninas”? Todos se riem, deixando imediatamente claro que a resposta é um redondo “não”. O primeiro tema é a protecção de dados, e o educador explica que as redes são gratuitas mas têm um preço – a divulgação e venda dos nossos dados privados.

O autocarro, que funciona como sala de aula interactiva, está equipado com uma série de smartphonestablets e computadores, dispostos ao longo de uma mesa corrida, com cadeiras dos dois lados. À ordem do educador, os alunos sentam-se e, dois a dois, começam por ligar os tablets. No ecrã de início encontram duas aplicações, o Smartbook e o Beeper: dois jogos inspirados no Facebook e no Twitter, respectivamente, que simulam situações que podem decorrer da utilização dessas duas redes sociais.

Assim que pegam nos tablets e começam a jogar, ouve-se uma espécie de buzina que sinaliza que alguém deu uma resposta errada. “Lê bem o que diz”, pede o educador, quando um dos alunos lhe pergunta porque a resposta que deu estava errada. “Não olhes só para as imagens”, aconselha. Não mais de dois segundos depois a mesma buzina volta a soar, e passados cinco segundos gera-se uma espécie de sinfonia que não pára nos cinco minutos seguintes.

A primeira situação que os alunos encontram no Beeper é um colega de turma fazer uma publicação a dizer que foi a um concerto. Quando lhes é perguntado se há algum problema, respondem unanimemente que não – o educador concorda, e aproveita para explicar que não há problema em partilhar algo que se fez, mas sim em partilhar o que se está a fazer no momento ou ainda o que se fará no futuro.

Outra situação que surge é a partilha de uma notícia falsa – “pensem sempre se é verdadeiro aquilo que vêem na Internet”, aconselha o educador. E quando não têm a certeza, o que podem fazer? “Pesquisar no Google”, ouve-se em uníssono.

Já no jogo Smartbook, os estudantes recebem uma mensagem no chat enviada por um desconhecido que diz ter 14 anos. “Ele tinha 14 anos? Ele tinha barba!”, comenta um dos alunos. Neste cenário, a mensagem que se quer passar é que, sobretudo na Internet, nem tudo o que parece é. “Se não conhecerem a pessoa, não falem com ela”, diz o educador, sugerindo aos alunos que partilhem este tipo de situação com os pais.

Aborda-se também conceitos como malware e phishing, situações cujo perigo é menos fácil de detectar por quem não tem conhecimento de que existem, até porque podem ter origens aparentemente inofensivas, como uma mensagem de alguém conhecido.

Quando passam para os telemóveis, os estudantes encontram mais dois jogos de simulação situacional, o Chatapp e o Fotocam, que se assemelham ao Whatsapp e o Instagram. Aqui surge a oportunidade de abordar assuntos como a partilha de fotos, em particular fotos íntimas, sejam dos próprios ou de terceiros. No Chatapp, um colega fictício envia uma mensagem a pedir que lhe enviem uma foto para ele, por sua vez, enviar a um amigo. Um dos alunos soube imediatamente identificar o risco nesta situação – “eles podem publicar” a fotografia online sem a autorização de quem nela figura. E porque “o que vai para a Internet, não sai da Internet”, o educador reforça que “publicar coisas de outras pessoas sem autorização” é ilegal.

Tanto o Francisco como o Gabriel, ambos de 12 anos, participam na aula. Ambos afirmam que os pais falaram com eles sobre os cuidados que devem ter quando utilizam a internet quando, há dois anos, começaram a ter redes sociais. Ainda assim, Francisco consegue elaborar uma lista de coisas que acabou de aprender.

“Ler as coisas logo do início”, ou seja, ler os termos de utilização, bem como ter cuidado com os sites que visita e “nunca dar dados pessoais”. Acrescenta ainda que se deve sempre “ter cuidado com quem fala connosco e nós não conhecemos” e que nunca se deve enviar “fotos nossas a alguém que não conhecemos”.

Ao seu lado, Gabriel acena em concordância e diz que “era bom falarmos mais para estarmos mais informados, porque não sabíamos muito daquilo que nos disseram aqui”. Embora abordem alguns destes temas na disciplina de Tecnologias da Informação e da Comunicação, como afirma Gabriel, não é o suficiente, confessa uma das professoras que os veio acompanhar, Verónica Melo.

"Os miúdos já nascem com isto"

“Os miúdos já nascem com isto e há que sensibilizá-los para estes problemas a que estão sujeitos”, começa por dizer. “Os pais também fazem o seu trabalho”, mas a verdade é que a escola também tem de fazer um maior acompanhamento, “até porque os miúdos passam mais tempo na escola do que em casa”. É por isso que Verónica Melo acredita que este tipo de iniciativas é extremamente importante: “Eles ainda não têm muita noção dos perigos que efectivamente correm, e quando têm acham que é [só] aos outros que acontece”.

A aula acaba com o educador a esclarecer que a internet, incluindo as redes sociais, não é só perigos – mas esses perigos existem. “Quem não arrisca, não petisca”, argumenta um dos alunos. Mas porque quem arrisca por vezes também “não petisca o que quer”, como responde o educador, o melhor é mesmo prevenir.

O projecto SmartBus, iniciativa da empresa Huawei, já percorreu a Bélgica, Holanda, Espanha e chegou ontem a Portugal. Durante o mês de Março, o autocarro percorrerá o país de norte a sul, contando abranger cerca de cinco mil alunos dos 5.º e 6.º anos.

Texto editado por David Pontes

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