O coronavírus é um teste

Estamos nas mãos de um SNS que, por vezes, mesmo perante a gripe corrente, revela lacunas? Sim, mas não só. Os serviços de saúde estão em teste, mas numa epidemia cada elemento da comunidade, capaz de determinar com o seu comportamento a dimensão dela, está em exame.

Uma comunidade tomada pelo medo é uma comunidade incapaz de agir com inteligência, e sem inteligência tenderá a tomar decisões emotivas, que desviarão para questões secundárias as energias que devem estar concentradas a dirimir a ameaça.

Não é demais sublinhar esta verdade básica, perante o desafio que representará nos próximos dias a epidemia de coronavírus para Portugal. No único país com que temos fronteiras, o primeiro caso registado foi o de um turista a 31 de Janeiro. Em 40 dias, o número de casos confirmados em Espanha cresceu até 616, mas só de sábado para domingo subiu 20%. Há 17 mortos a lamentar. Entre nós, o primeiro caso foi registado a 2 de Março e seis dias depois há 30 pessoas com análises positivas. Os números vão crescer e as mortes vão suceder, pelo que as interrogações que dominam as conversas de todos tenderão a aumentar.

Para as atenuar é preciso confiar nas autoridades de saúde pública, não porque elas, que até tiveram um pouco mais de tempo do que as de outros países para se preparar, estejam isentas de críticas, mas porque elas serão sempre a nossa melhor hipótese de suster a epidemia.

“Tudo o que dissermos antes de uma pandemia vai parecer alarmista. Tudo o que fizermos depois vai parecer inadequado.” As palavras do responsável dos serviços federais de saúde dos Estados Unidos dão uma ideia da pressão a que estão sujeitas as autoridades. É preciso ter presente que a incerteza está na essência do perigo que representa a covid-19. Para a exterminar, temos a melhor ciência de que a Humanidade alguma vez usufruiu na sua História, mas é preciso dar-lhe tempo para produzir resultados.

Quer isto dizer que estamos nas mãos de um SNS que, por vezes, mesmo perante a gripe corrente revela lacunas? Sim, mas não só. Os serviços de saúde estão em teste, mas numa epidemia cada elemento da comunidade, capaz de determinar com o seu comportamento a dimensão dela, está em exame.

É crucial não embarcar no medo, mas é preciso agir com a proporcionalidade exigida perante uma ameaça que é bem real. Temos a vantagem de viver num país que não é gerido por um irresponsável como Donald Trump ou um fanático como Ali Khamenei, mas ela só jogará a nosso favor se soubermos adoptar comportamentos que vão do simples lavar das mãos, ao mais complicado que é a redução de interacções sociais. Estamos em teste e um bom resultado, para já, será evitar as quarentenas como as que foram decretadas em Itália. Depende de todos.

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