Rebeldes aliados da Turquia dizem ter conquistado vila estratégica em Idlib

Os jihadistas afirmam que passaram a controlar a vila de Nairab, estratégica para conquistar a cidade de Saraqib, ponto estratégico do Noroeste da Síria.

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O Exército Nacional Sírio é apoiado pela Turquia YAHYA NEMAH/Lusa

Jihadistas apoiados pela Turquia dizem ter conquistado, esta segunda-feira, Nairab a combatentes aliados do regime de Bashar al-Assad. Nairab é importante para a conquista da cidade de Saraqib, ponto estratégico no Noroeste da Síria. O anúncio acontece pouco depois de o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter dito que ainda não há acordo com a Alemanha, França e Rússia para uma cimeira quadripartida que evite o agravar da crise humanitária na Síria. 

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Jihadistas apoiados pela Turquia dizem ter conquistado, esta segunda-feira, Nairab a combatentes aliados do regime de Bashar al-Assad. Nairab é importante para a conquista da cidade de Saraqib, ponto estratégico no Noroeste da Síria. O anúncio acontece pouco depois de o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter dito que ainda não há acordo com a Alemanha, França e Rússia para uma cimeira quadripartida que evite o agravar da crise humanitária na Síria. 

“Com a ajuda dos nossos amigos turcos, conseguimos recuperar o controlo da vila estratégica de Nairab, porta de entrada para Saraqib, depois de expulsarmos as milícias terroristas”, disse à Reuters Yusef Hamoud, porta-voz do Exército Nacional Sírio. “[A reconquista de Saraqib] vai acontecer em breve. O regime sofreu pesadas baixas nos combates da noite passada [segunda-feira]. Além disso, uma grande quantidade de armas e munições foi apreendida”, continuou, referindo não ter havido confrontos directos entre forças turcas e russas. 

Saraqib caiu nas mãos do Exército Árabe Sírio (de Assad) no início deste mês e é considerada estrategicamente importante por se encontrar nas proximidades de um cruzamento entre as auto-estradas M4, que liga Alepo à cidade costeira de Latakia, e a M5, que faz a ligação entre Damasco e Alepo. É, por isso, fundamental para o apoio logístico no avanço das forças de Damasco contra Idlib, no Noroeste da Síria, e onde se encontram mais de nove mil soldados turcos, dispersos por vários postos de observação. 

As forças de Damasco têm-se dedicado nas últimas semanas a conquistar cidades, vilas e aldeias nas proximidades das duas auto-estradas para as abrir à circulação e, assim, poderem movimentar mais facilmente tropas e recursos. O chefe do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman, disse à Al-Jazeera esperar duros combates nos próximos dias nas cidades de Ariha e Jisr al-Shughour, ambas ao longo da M4. 

Combates que se seguem à conquista em 24 horas de mais dez vilas na parte Sul da província de Idlib pelas forças de Damasco, acrescenta a Al-Jazeera. As fileiras dos jihadistas, armados e financiados por Ancara, não têm sido capazes de suster o avanço sírio. Por vezes, controlam uma vila durante algumas horas, devido ao recuo das forças do regime sírio, mas retiram-se assim que as tropas de Assad voltam ao ataque. 

Os combates têm-se também aproximado cada vez mais de acampamentos de deslocados, ameaçando um “banho de sangue”, de acordo com Mark Cutts, coordenador humanitário das Nações Unidas. “Os combates estão agora perigosamente perto de uma área com mais de um milhão de pessoas a viverem em tendas e abrigos improvisados”, disse na segunda-feira em Genebra.

A ofensiva síria, que começou em Dezembro e foi retomada em Janeiro, já causou mais de 900 mil deslocados, a grande maioria crianças, e há mais de três milhões de pessoas encurraladas na cidade de Idlib. Rússia e Turquia têm andado a negociar uma solução política que evite uma ofensiva e, por conseguinte, um choque directo e em grande escala entre as suas forças, mas sem sucesso – vão adiando um acordo para fortalecer as posições negociais

A crescente crise humanitária tem sido uma das grandes preocupações em nove anos de guerra na Síria e, numa última tentativa para impedir o seu agravar, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, pediram uma cimeira quadripartida com Erdogan e o Presidente russo, Vladimir Putin, a 5 de Março, para se discutir uma solução política que trave os combates

No entanto, e apesar de manterem contactos permanentes, os quatro líderes ainda não chegaram a um acordo preliminar sobre a cimeira, disse Erdogan, que foi quem anunciou o encontro na televisão. “Não há acordo ainda entre Macron [Presidente francês], Merkel [chanceler da Alemanha] e Putin [Presidente russo]”, disse o chefe de Estado turco, referindo que Ancara está a tentar negociar com Moscovo ao mais alto nível e que se pode encontrar com Putin no início de Março. 

Merkel e Macron já apelaram a Putin para travar a ofensiva no Noroeste da Síria, mas sem sucesso. A Rússia tem optado por um jogo duplo: por um lado, as suas forças, aliadas de Damasco, conquistam mais terreno no último bastião dos jihadistas na Síria e, por outro, negoceia diplomaticamente com a Turquia, que apoia os jihadistas.