Turquia avança para expulsar forças de Assad de Saraqib

Pouco antes do início da ofensiva militar, a artilharia síria atingiu um posto de observação turco, matando cinco soldados. Tensão entre Ancara e Damasco está mais alta que nunca em nove anos de guerra civil.

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Erdogan já tinha avisado que não iria permitir uma ofensiva síria KHALIL ASHAWI/Reuters

Mais cinco soldados turcos morreram em bombardeamentos das forças de Bashar al-Assad na província de Idlib e, em retaliação, as Forças Armadas turcas bombardearam 115 posições militares sírias. O bombardeamento aconteceu pouco antes de as forças turcas avançarem para recapturar a cidade de Saraqib, tomada há dois dias pelas forças de Assad. A tensão entre Ancara e Damasco volta a subir e o choque directo é quase certo. 

“O intenso fogo de artilharia teve como alvo os elementos que enviámos como reforços para a região, com o objectivo de evitar choques em Idlib, garantir a segurança da nossa fronteira e para travar a imigração e tragédia humana”, disse em comunicado o Ministério da Defesa turco, citado pela Al-Jazeera. A resposta turca, continuou o Governo de Ancara, foi feita “de acordo com as regras de combate e em legítima defesa”. 

Os militares turcos disseram ter atingido com sucesso 101 dos 115 alvos, destruindo três tanques e abatendo um helicóptero, enquanto Damasco disse que a destruição de 101 era mentira e um claro exagero. 

Turquia e Síria estão de costas voltadas e um choque entre as duas é quase certo. A morte dos cinco soldados turcos junta-se à de outros oito na semana passada, também em bombardeamentos sírios. Na altura, a Rússia, aliada de Damasco, responsabilizou a falta de comunicação entre os dois lados, na qual desempenha o papel de intermediário. E, para tentar impedir uma nova escalada, uma delegação russa chegou esta segunda-feira a Ancara, com o lado turco a afirmar que o ataque sírio não ficaria sem resposta e que caso haja mais ataques, haverá novas retaliações. 

“[A situação] está a ser vista como a maior escalada de sempre entre Ancara e Damasco em nove anos de guerra na Síria”, disse o correspondente da Al-Jazeera Sinem Koseoglu. “As tropas turcas estão a ser alvejadas de forma directa pelo exército sírio e o dia de hoje representa um marco na escalada”. 

Ofensiva contra Saraqib

A morte dos cinco soldados turcos pode ser apenas o início de uma escalada bem maior. O exército turco, apoiado pela sua milícia Exército Nacional Sírio, com muitos jihadistas nas suas fileiras, começou esta segunda-feira a avançar contra a cidade de Saraqib, recentemente tomada ao grupo salafista Hay'at Tahrir Al-Sham pelas forças especiais de Assad. As forças de Ancara e Damasco vão chocar directamente no terreno. 

Há semanas que o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tem avisado Damasco para não avançar contra a província de Idlib, algo que o regime sírio aceitou em meados de Janeiro. Porém, no início de Fevereiro, os tanques voltaram à estrada e o avanço tem sido imparável contra jihadistas sem capacidade para defender o último bastião da oposição a Assad. Por sua vez, órgãos de comunicação social favoráveis a Damasco acusam a Turquia de proteger os jihadistas em Idlib, os quais armou e financiou nos últimos anos. 

Recusando ser apanhado desprevenido na eventualidade de uma nova ofensiva síria, Erdogan destacou forças militares para a região argumentando querer proteger as populações e, assim, evitar um grande êxodo em direcção à Turquia - o país já recebeu 3,6 milhões de refugiados, pelos quais recebe apoios financeiros da União Europeia, mas o chefe de Estado turco ameaça abrir as fronteiras e deixá-los avançar para a Europa.

Aos poucos, começou a observar-se o concentrar de tropas e equipamento turcos na província de Idlib, de acordo com o jornal turco Daily Sabah, pró-Erdogan, Ancara tem no terreno mais de mil veículos, incluindo artilharia pesada, tanques e carros blindados, acompanhados por cinco mil soldados. A infantaria estará a cargo de milicianos do Exército Nacional Sírio, que também foram usados na ofensiva turca no Curdistão sírio. 

“Houve um substancial reforço de tropas e equipamento militar, enviados para a região de Idlib nas últimas semanas”, disse uma fonte oficial turca à Reuters. “Os postos de observação foram totalmente reforçados. A frente em Idlib foi fortalecida”. 

Os preparativos já vêm de trás, mas, diz o jornal turco, foram acelerados por causa da morte dos oito soldados turcos e têm em vista a conquista de Saraqib, cidade fundamental por estar no entroncamento entre duas grandes auto-estradas: a M5, que liga Damasco a Alepo, e a M4, que faz a ligação entre Alepo e a cidade costeira de Latakia, um bastião de Assad. É, por isso, um ponto fundamental logístico para uma ofensiva contra a capital da província e a sua reconquista o objectivo militar para se evitar o avanço sírio. 

Há nove anos que Saraqib estava na mão dos opositores do regime e a sua conquista foi um marco simbólico no aproximar do fim da guerra civil síria. Idlib é o último bastião da oposição a Assad. 

Erdogan avisou na semana passada estar disposto a defender os 12 postos de observação turcos, fruto do acordo de Astana, de 2017, entre a Rússia, a Turquia e o Irão, e alertou Damasco para recuar as suas forças para lá das posições das tropas turcas. Se tal não for feito, Ancara reserva-se o direito de avançar, o que começou a fazer esta segunda-feira.

“As forças aéreas e terrestres turcas vão-se movimentar livremente nas zonas de operação na Síria e em Idlib, e vão levar a cabo operações se necessário”, disse na quarta-feira passada o Presidente turco. 

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