Rússia está a interferir nas presidenciais para ajudar Bernie Sanders, dizem serviços secretos dos EUA

Moscovo quer semear a discórdia para beneficiar Donald Trump, dizem as secretas. O candidato mais à esquerda do Partido Democrata diz que momento da notícia não é por acaso: um dia antes das primárias no Nevada, onde está à frente nas sondagens.

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O senador do Vermont tem criticado Trump por pouco fazer para evitar uma nova interferência russa Mike Segar/REUTERS

A Rússia está a tentar ajudar o pré-candidato democrata Bernie Sanders a ganhar as primárias do Partido Democrata, avançou o Washington Post. O senador do Vermont confirmou que foi informado, há “cerca de um mês”, da situação pelos serviços secretos e questionou o momento da publicação da notícia: um dia antes das primárias no Nevada, onde lidera as sondagens. 

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A Rússia está a tentar ajudar o pré-candidato democrata Bernie Sanders a ganhar as primárias do Partido Democrata, avançou o Washington Post. O senador do Vermont confirmou que foi informado, há “cerca de um mês”, da situação pelos serviços secretos e questionou o momento da publicação da notícia: um dia antes das primárias no Nevada, onde lidera as sondagens. 

“A comunidade dos serviços secretos diz-nos que [os russos] estão neste preciso momento a interferir nesta campanha”, disse sexta-feira Sanders aos jornalistas, à margem de um comício em Bakersfield, na Califórnia. “Isto é o que digo ao senhor Putin [Presidente russo]: Se for eleito, acredite, não vai interferir em eleições americanas”.

Na semana passada, os serviços secretos avisaram o Congresso que a Rússia estava a interferir na campanha para as presidenciais nos Estados Unidos, incluindo as primárias democratas, e que informaram Sanders. O objectivo da Rússia, disse Shelby Pierson, responsável pela segurança eleitoral no país, é garantir a reeleição do Presidente americano, Donald Trump, semeando a discórdia entre o eleitorado americano. E, para isso, Moscovo está a apoiar a campanha de Sanders nas redes sociais, diz o Washington Post, referindo fontes conhecedoras do assunto. 

“A tentativa russa de semear a discórdia nas primárias democratas é consistente com a sua estratégia de fragilização da fé dos americanos nos processos e instituições democráticos”, disse ao Washington Post Laura Rosenberg, que foi assessora do Conselho de Segurança Nacional na Administração Obama. “Temos visto menssagens consistentes de fontes russas a tentarem forçar a narrativa de que o processo das primárias é fraudulento e a ideia de o establishment favorecer certos candidatos em detrimento de outros”.

O candidato à nomeação democrata tem sido uma das vozes mais críticas da interferência russa nas presidenciais de 2016 e tem apontado baterias ao Presidente Donald Trump por não fazer o suficiente para o evitar nestas eleições. “Deixem-me ser claro: não devemos viver em negação, enquanto permitimos que a Rússia e outros actores estatais minem a nossa democracia e nos dividam”, disse o senador em Janeiro. “A Rússia tem como alvo as divisões da nossa sociedade; trabalharemos para sarar essas divisões”. 

Campanhas concorrentes à de Sanders têm-na acusado de ter apoiantes que tecem comentários de ódio nas redes sociais e, no debate democrata desta quarta-feira, em Las Vegas, o candidato responsabilizou indirectamente a Rússia ao dizer que era possível que actores malignos estivessem a tentar manipular as redes sociais para inflamar divisões entre os democratas, diz o Washington Post

“Em 2016, a Rússia usou propaganda na Internet para semear divisões no nosso país e, no meu entender, é o que está a fazer novamente em 2020. Algumas das coisas feias atribuídas à nossa campanha podem não estar a vir de apoiantes reais”. 

Nas últimas presidenciais, operacionais russos receberam ordens para evitar ataques a Sanders e a Trump, de acordo com o relatório do conselheiro especial Robert S. Mueller III sobre a interferência russa. “Usem todas as oportunidades para criticar Hillary e os restantes [candidatos], excepto Sanders e Trump - nós apoiamo-los”, lê-se no documento, citado pelo New York Times

Se a interferência russa é nefasta, diz Sanders, a publicação da notícia sobre a sua reunião com os serviços secretos também não foi por acaso: um dia antes das primárias no Nevada, onde está à frente nas sondagens. “Vou deixá-lo adivinhar um dia antes das primárias do Nevada. Porque é que acha que saiu?”, respondeu Sander ao ser questionado sobre o momento da notícia. “Foi o Washington Post? Bons amigos”, disse, apontando para um jornalista do órgão de comunicação social. 

“Relatamos as notícias quando sabemos delas”, reagiu a porta-voz do Washington Post, Kristine Coratti. 

Uma sondagem da Emerson College/8News Now no Nevada, entre 19 e 20 de Fevereiro, atribuiu 30% das intenções de voto a Sanders, com Pete Buttigieg a recolher 17% e Joe Biden 16%. Uma outra, desta vez da Data for Progress, realizada nos mesmos dias, deu 32% a Sanders, 17% a Elizabeth Warren, 15% a Buttigieg e 14% a Biden.