Partido Republicano conclui que não houve conspiração entre Trump e a Rússia

Resultados da Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes são muito criticados pelos congressistas do Partido Democrata, que está em minoria.

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O Presidente norte-americano congratulou-se com a decisão no Twitter Reuters/LEAH MILLIS

Uma das duas comissões do Congresso norte-americano que estão a investigar as suspeitas de conspiração entre a Rússia e a campanha de Donald Trump anunciou na noite de segunda-feira que os seus trabalhos chegaram ao fim sem que tivesse encontrado "nenhum indício de conluio".

"Houve, talvez, algumas más decisões e reuniões inoportunas", disse o congressista Mike Conaway, do Partido Republicano, "mas só Tom Clancy ou Vince Flynn poderiam pegar numa série de contactos inadvertidos e reuniões e transformar isso tudo numa espécie de romance de espionagem".

"Só que nós não estamos a lidar com ficção, mas sim com factos, e não encontrámos nenhum indício de conluio", disse o responsável máximo pela investigação da Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes. A outra comissão do Congresso que está a investigar as suspeitas, a Comissão de Serviços Secretos do Senado, vai continuar os seus trabalhos.

As comissões da Câmara dos Representantes e do Senado funcionam com representantes do Partido Republicano e do Partido Democrata, mas a liderança dessas comissões reflecte o equilíbrio de forças no Congresso – neste momento, os responsáveis máximos por essas comissões são do Partido Republicano, já que é esse o partido com maioria nas duas câmaras.

Os trabalhos das comissões eram vistas como espaços onde as tradicionais divisões entre os dois partidos davam lugar a um ambiente de diálogo e de entendimento, mas essa imagem desfez-se nos últimos tempos. Desde que a Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes começou a investigar as suspeitas de conspiração entre a Rússia e a campanha de Trump, os congressistas do Partido Republicano e do Partido Democrata têm trocado publicamente acusações de favorecimento do Presidente ou de tentativa de criar um circo mediático contra a Casa Branca – poucos esperavam que as conclusões fossem partilhadas pelos dois lados.

E foi isso mesmo que sublinhou Adam Schiff, o líder dos congressistas do Partido Democrata na comissão: "Ao darem por terminado o seu papel de supervisão na única investigação autorizada na Câmara dos Representantes, a maioria [o Partido Republicano] pôs a protecção do Presidente à frente da protecção do país, e a História irá julgar as suas acções de forma severa."

Em particular, o Partido Democrata queixa-se de não ter contado com o Partido Republicano para ouvir figuras importantes para a investigação, como o antigo director de campanha de Trump, Paul Manafort, e o adjunto deste, Rick Gates; ou o antigo conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Michael Flynn – todos já formalmente acusados na investigação do procurador especial Robert Mueller.

Provada interferência da Rússia

No sumário de um relatório de 150 páginas que ainda terá de ser anotado pelo Partido Democrata e revisto pelas agências de serviços secretos, a maioria do Partido Republicano diz que detectou "ciberataques russos contra instituições políticas norte-americanas em 2015-2016 e o uso de redes sociais para semear a discórdia", mas rejeita completamente a ideia de que esse ataque tenha sido, em algum ponto da linha cronológica, coordenado com a campanha de Trump: "Não encontrámos nenhum indício de conluio, coordenação ou conspiração entre a campanha de Trump e a Rússia."

Esta conclusão vai contra um relatório de todas as agências de serviços secretos norte-americanas, que passou da Administração Obama para a Administração Trump em Janeiro de 2017. Nesse relatório, as agências dão como provado que a Rússia começou por lançar uma campanha para semear a discórdia com o objectivo de prejudicar a campanha de Hillary Clinton, mas depois decidiu ajudar a campanha de Donald Trump quando percebeu que ele era um candidato viável – a peça-chave de todo este caso é saber se essa operação russa contou com a colaboração da campanha de Trump.

Há um mês, a equipa do procurador Robert Mueller apresentou acusações contra 13 cidadãos russos e três empresas russas por interferência nas eleições norte-americanas. Segundo o documento, os acusados executaram uma campanha que passava em grande parte pelas redes sociais com o objectivo de extremarem posições, em grande parte a favor do candidato Donald Trump. Essa campanha terá sido executada a partir de um local em São Petersburgo, conhecido como "a fábrica de trolls da Rússia", onde trabalham até mil pessoas 24 horas por dia. Ainda segundo a acusação, o orçamento dessas empresas provém de instituições ligadas a uma pessoa próxima do Presidente Vladimir Putin.

Pouco depois de a maioria do Partido Republicano ter divulgado as suas conclusões em nome da Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes (sem ter consultado o Partido Democrata, que deverá apresentar um relatório separado), o Presidente Trump assinalava a notícia no Twitter, em letras maiúsculas: "AO FIM DE 14 MESES DE UMA INVESTIGAÇÃO PROFUNDA, A COMISSÃO DE SERVIÇOS SECRETOS DA CÂMARA DOS REPRESENTANTES NÃO ENCONTROU NENHUM INDÍCIO DE CONLUIO OU COORDENAÇÃO ENTRE A CAMPANHA DE TRUMP E A RÚSSIA PARA INFLUENCIAR A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2016."

E também a embaixada da Rússia em Washington marcou a ocasião no Twitter, aproveitando a referência do congressista Mike Conaway ao autor de best-sellers Tom Clancy para partilhar uma mensagem com imagens de dois romances de espionagem.

Investigações continuam

Para além desta investigação, continuam em aberto uma investigação do Senado e a investigação liderada pelo procurador especial Robert Mueller – a única que tem poderes para formular uma acusação criminal.

As investigações do Congresso são importantes porque podem levantar o véu sobre a disposição dos congressistas dos dois partidos para se envolverem num possível processo de impeachment e destituição do Presidente.

Se se chegar a esse ponto, o processo depende exclusivamente de uma acusação na Câmara dos Representantes e de um julgamento no Senado – mesmo que a equipa do procurador Robert Mueller encontre matéria suficiente para formular uma acusação, são os congressistas, com as suas convicções, que decidem se um Presidente deve ser afastado. À partida, o facto de o Partido Republicano estar em maioria nas duas câmaras torna mais difícil que se inicie um processo de impeachment – um cenário que pode mudar se o Partido Democrata conquistar a maioria nas eleições de Novembro deste ano.

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