A Batalha das Limas volta a acontecer em São Miguel. É um “puro acto de vandalismo”, diz associação

Aproxima-se a Batalha das Limas, em São Miguel: uma batalha de sacos de plástico que acontece no dia de Carnaval e que deixa as ruas cobertas de plástico. A associação ambientalista Amigos do Calhau critica a autarquia por, mais uma vez, não ter optado por “uma tradição respeitadora do ambiente”.

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Hugo Moreira

A associação ambientalista Amigos do Calhau lamenta o uso de plástico na Batalha das Limas, em Ponta Delgada, na terça-feira de Carnaval, criticando a autarquia por não ter optado por “uma tradição minimamente respeitadora do ambiente”.

“Custa ainda acreditar que a câmara não consiga inventar uma tradição minimamente respeitadora do ambiente. Se o objectivo é lançar água, por que não se utilizam as pistolas ou bisnagas de água que vendem em qualquer loja de brinquedos e que não deixam qualquer tipo de resíduo?”, questiona a associação cultural e recreativa, sediada na ilha de São Miguel, nos Açores.

Na próxima terça-feira de Carnaval centenas de pessoas participam na marginal da cidade de Ponta Delgada na anual Batalha das Limas, uma tradição única no país, “num combate de água” onde os participantes, uns em camiões, e outros a pé, tentam molhar quem passa e lutam entre si no dia do Entrudo. Este combate de água começou por ser de flores, que posteriormente foram substituídas por limas, ou seja, pequenos recipientes em parafina produzidos artesanalmente para encher com água. Contudo, as limas têm vindo a dar lugar a sacos de plástico, cheios de água, que são utilizados como armas de combate na batalha.

O uso de sacos de plástico nesta tradição tem vindo a ser criticado por algumas associações e organizações, tendo mais recentemente o PAN/Açores manifestado também a sua oposição à realização do evento enquanto não existirem alternativas ao uso do plástico.

Num comunicado enviado à agência Lusa, a Amigos do Calhau lamenta também a utilização dos sacos de plástico na Batalha das Limas, alertando que, após o evento, “o espectáculo é deveras desolador na avenida” marginal, que “aparece completamente coberta de uma camada branca de sacos de plástico rotos e encharcados”. “E, no dia seguinte, no mar, situado ali ao lado, aparecem sacos de plástico a flutuar na superfície, consumando assim o atentado ambiental criado por esta nova e inventada tradição”, aponta a associação, considerando que “para melhorar o ambiente bastam pequenos gestos”.

A associação critica a actuação da câmara, alegando que a autarquia “vai por um caminho oposto”, num momento em que, “em todo o mundo, as pessoas são cada vez mais conscientes dos problemas ambientais que são devidos à utilização dos sacos de plástico descartáveis”. Em 2019, a mesma associação dizia ao P3 que “os governos assinam programas e tentam educar as pessoas para a não utilização do plástico descartável, mas, por outro lado, permitem que se faça um atentado deste género”, e pediam que se “parasse para pensar numa solução”. 

“Este ano, perante o vergonhoso espectáculo e os numerosos protestos, a câmara municipal promete colocar uma vedação na extremidade sul da avenida para limitar a deslocação de plástico para a zona costeira. Custa-nos acreditar que, por trás de cada participante na batalha, vá outro recolhendo os sacos de plástico lançados. Ou que, mesmo com uma vedação, uma parte significativa dos sacos não acabe por chegar ao mar antes ou depois”, lê-se no comunicado.

Se “o objectivo ambiental, a nível mundial, é proibir todos os sacos de plástico, inundar o solo da avenida com este tipo de sacos não deixa de ser um puro ato de vandalismo, independentemente de se os sacos chegam ou não finalmente ao mar”, sublinha ainda.

A associação defende ainda que, em vez do uso de camiões na Batalha das Limas, sejam utilizadas “imaginativas carroças de carnaval”. “Por que então a câmara municipal opta agora por uma solução tão bronca e cheia de vandalismo? Acabar com esta absurda invenção da câmara seria um pequeno gesto, fácil, simples e eficaz, para dar mais dignidade à cidade”, sustentam.

Depois da Batalha das Limas, em 2019, a Câmara Municipal de Ponta Delgada garantiu ao P3 estar “a trabalhar com vista a encontrar alternativas ao uso do plástico que sejam, por um lado, mais amigas do ambiente e, por outro, que não coloquem em causa a tradição”. Recentemente, o vereador da Câmara Municipal de Ponta Delgada Pedro Furtado adiantou à agência Lusa que, tendo em conta que “não foi possível encontrar no mercado nacional e internacional nenhuma solução” de plástico biodegradável com “as mesmas propriedades e formato dos sacos utilizados na batalha”, as opções para este ano passam por introduzir “regras que visam a redução do impacto ambiental” da tradição.

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