O centenário de Lana Turner (ou talvez não)

A sua descoberta é a mais lendária de toda a Hollywood: sendo uma adolescente, a então chamada Julia Jean foi, em 1937, por sorte, descoberta por um caça-talentos num café perto da sua escola, quando estava a faltar à aula de tipografia.

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Não há certezas se Lana Turner nasceu a 8 de Fevereiro de 1920 ou 1921 (morreu em 1995). Mas mesmo que não esteja na certeza de lhe estar a comemorar o centenário, 99 anos não deixa de consistir um número redondo e impactante. Assim sendo, deixo aqui os meus parabéns a uma estrela que, confesso, já foi a minha número um. O que me encantou naquele ano de 2012 em que a descobri foi seguramente o seu apelo glamoroso. É que Lana é isso mesmo. Ela incorporou o glamour. Glamour tem a ver com luxo, exuberância e sexualidade. Lana, dentro e fora da tela, tinha e emanava tudo isso. Para além disso, como tão apropriadamente Stephen Gundle considera, o glamour também diz respeito à transformação.

Lana, antes de ser uma das rainhas por excelência da Metro Goldwyn Mayer, nasceu num seio economicamente pobre numa pequena cidadezinha mineira de Idaho. A sua descoberta é a mais lendária de toda a Hollywood: sendo uma adolescente, a então chamada Julia Jean foi, em 1937, por sorte, descoberta por um caça-talentos num café perto da sua escola, quando estava a faltar à aula de tipografia. Este perguntou-lhe se ela desejaria ser actriz, ao que ela respondeu que teria de perguntar primeiro à sua mãe.

Tão ou mais icónico é o seu debut. Lana não faz muito em They Won’t Forget (1937), mas o que faz, faz bem. Na sua inocência, a jovem atravessa uma rua, vestindo uma sweater muito apertado e ao ritmo da música patriótica Dixie. Os seus seios consideráveis, sufocados pela camisola de lã transpirada naquele ambiente do velho sul, balançam ao ritmo da música. Lana torna-se a sweater girl, um sex symbol. E é curioso ser uma sweater e não um vestido de cetim a erotizar alguém. O já lendário Richard Dyer considera que Lana vende, no início da sua carreira, uma imagem de sexy-ordinary. Como o académico reflecte, uma sweater não é uma peça glamorosa, mas não deixa de ser, pelo que se viu, eroticamente sugestiva. Com a sua participação neste filme, a rígida dicotomia entre a estrela “caseira” vs “sexy e exótica” foi desfeita, no entender de Dyer: Lana era caseira e sexy! É coerente considerar que esta sua faceta surge em alguns filmes da sua carreira (em maior ou menor grau), se bem que, no geral, Lana foi-se tornando mais sofisticada.

Ziegfeld Girl (1941) converte-a definitivamente em estrela, mas é The Postman Always Rings Twice (1946) que assegura o seu lugar na história do Cinema. Os anos 50 também se revelam bastante simpáticos para uma época algo difícil para actrizes da sua geração. Peyton Place (1957) permite-lhe uma nomeação ao Óscar de Melhor Actriz, sendo que este filme, a par de Imitation of Life (1959), inicia o seu período curto como rainha de melodramas coloridos.

Filmes à parte, não dá para não pensar como a sua vida dava efectivamente uma película (Hollywood sabia disso e alguns dos filmes cruzam-se com a sua bombástica vida): sete casamentos, uma filha problemática e um assassinato (o famoso acontecimento em que a sua filha esfaqueou o namorado mafioso da sua mãe, Johnny Stompanato). Os divórcios, os melodramas, os vestidos, tudo constitui o mito Lana. O mito da Cinderela tornado realidade. Para a própria não foi mais do que o destino a dar-lhe tão generoso presente. O que faltar a uma aula, beber uma Coca-Cola e vestir uma sweater transpirada não fizeram pela pequena Julia Jean?

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