Rui Moreira critica vandalismo em estátuas do Porto e pede atenção da polícia

Várias esculturas entre o Jardim da Cordoaria e a praça Carlos Alberto foram pintadas com “lágrimas azuis” esta terça-feira. Câmara do Porto já limpou a tinta mas pede a cidadãos para denunciarem. Frases do artista Miguel Januário também apareceram riscadas.

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Estátua na Praça Carlos Alberto ainda tem vestigíos da tinta azul, apesar da limpeza feita Nelson Garrido

Há uma “coincidência no calendário” que Rui Moreira não sabe explicar. Mas os actos de vandalismo que haviam acontecido há cerca de um ano e voltam agora a repetir-se em diversas estátuas do Porto, sobretudo entre o Jardim da Cordoaria e a praça Carlos Alberto, merecem o seu lamento e um pedido. “Apelo aos cidadãos para que denunciem essas situações e às forças de segurança para que estejam atentas”, disse o autarca esta quarta-feira, à margem de uma visita às obras do Terminal Intermodal de Campanhã. “Não sei se é por estarmos próximos do Carnaval, mas é triste. Não devia ser assim que se celebra.”

A autarquia havia prometido acções de limpeza e ao início da tarde desta quarta-feira as estátuas já não apresentavam as mesmas pinturas. Até agora, Rui Moreira não tem respostas sobre o eventual responsável pelos actos ou as suas motivações: “Não faço ideia do que motivou o vandalismo”, admitiu, recordando que este é um “fenómeno europeu” com difícil solução. Importante, diz, é apelar ao civismo: “Cada vez que estragamos alguma coisa desta natureza temos de pensar que estamos a estragar património que é de todos e a criar degradação. Isso preocupa-me.”

O Jardim de João Chagas, mais conhecido como “Jardim da Cordoaria”, acolhe diversas estátuas – além de zona protegida por lá se encontrarem árvores com a classificação de Interesse Público. Em 2001, no âmbito da Capital Europeia da Cultura, o artista madrileno Juan Muñoz desenhou para o espaço portuense a obra “Treze a Rir Uns dos Outros”. Ao longo de bancadas, numa avenida em terra batida do jardim, as figuras riem. De todos, de tudo e de nada. A obra - pintada com tinta azul, formando lágrimas nos olhos dos homens - procura retratar o absurdo quotidiano e tornou-se atracção turística na cidade.

Na mesma praça, o Rapto de Ganimedes, obra de 1916 feita pelo escultor Fernandes de Sá, “Flora”, de Teixeira Lopes, e o busto de António Nobre, ficaram igualmente estragados. A poucos minutos, na praça Carlos Alberto, o Monumento aos Mortos da Grande Guerra, escultura de Henrique Moreira, foi também vítima da tinta azul. E nem a figura de Humberto Delgado, junto a uma das saídas da praça, escapou. 

Nas redes sociais, o assunto ganhou dimensão ao longo desta terça-feira depois de o fotógrafo portuense Egídio Santos ter partilhado várias imagens das esculturas. Há um ano, também pela altura do Carnaval, as estátuas do Jardim do Calém e do Homem do Leme e a estátua do Anjo, na Cantareira, foram também vandalizadas.

Mais tinta azul...

Também durante o dia de terça-feira, por pura coincidência, o artista Miguel Januário publicou na sua página do Facebook aquilo a que chamou “lápis azul”. Nas frases que escreve nas paredes da cidade, no âmbito do seu projecto maismenos, riscou as alusões negativas ao Porto, como “crítica a estes últimos acontecimentos relacionados com a cultura” na cidade, explicou ao PÚBLICO. Da frase “Ver-te assim abandonada/ nesse timbre pardacento/ nesse teu jeito fechado/ de quem mói um sentimento (escrito por Carlos Tê e cantado por Rui Veloso), desapareceram as palavras “abandonada”, “pardacento”, “fechado” e a frase “de quem mói o sentimento”. Na estrofe de Sophia de Mello Breyner “O Porto é o lugar/ onde para mim/ começam as maravilhas/ e todas as angústias”, o último verso foi riscado.

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