Em Carnide, um comício de vários partidos em defesa da esquadra

Junta de Freguesia diz-se disponível para fazer as obras necessárias na esquadra, encerrada há quatro meses por falta de salubridade. Reivindicação juntou representantes de vários partidos num protesto.

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Uma centena de pessoas reuniu-se à porta da esquadra fechada LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

A noite começa fria mas o povo não demove. À porta da esquadra de Carnide, fechada desde Outubro por manifesta falta de condições, concentram-se umas cem pessoas com coletes fluorescentes e capacetes amarelos, como se quisessem imediatamente iniciar as obras. A reivindicação é essa: que a esquadra seja reabilitada e reabra.

Fábio Sousa, o presidente da junta que organizou esta concentração, alegra-se por ver ali tanta gente e representantes de vários partidos políticos, sublinhando “a grande unanimidade” que o tema merece. “É mais do que evidente que esta é uma luta justa”, diz o autarca em cima da carrinha de caixa aberta onde um funcionário esteve a passar músicas de Pedro Abrunhosa. E que, daí a momentos, começa a ser usada como palco para um comício multipartidário.

A esquadra de Carnide, 42ª de Lisboa, fica no chamado Bairro Novo. Tem na fachada um painel de azulejos e, lá dentro, atrás da marquise que lhe serve de entrada, um grande brasão da PSP pintado numa parede. As portas estão fechadas e a noite não deixa ver, mas diz quem já lá esteve que as condições de salubridade são péssimas. O encerramento da esquadra foi decretado em Outubro pela delegada de saúde pública.

Desde então, garantiu Fábio Sousa à plateia, a junta tentou “a via institucional” com o Ministério da Administração Interna. “O nosso problema é que não houve a resposta que a população precisava. Para quem tem um polícia à porta todo o dia é fácil mandar encerrar uma esquadra”, acusou.

Poucas horas antes da concentração, o secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna disse à agência Lusa que o Governo pretende fazer “a construção de uma esquadra de raiz” em Carnide, pois “é impossível reabrir” a actual sem uma obra de fundo. “No interior da esquadra passam os esgotos do prédio e de vários prédios e, periodicamente, estão a saltar as tampas e a ficar entupidos e, portanto, tornam insuportável trabalhar na esquadra ou estar na esquadra”, afirmou Antero Luís.

Para a junta de freguesia, que se disponibilizou, em conjunto com comerciantes, a fazer as obras necessárias, as palavras do secretário de Estado são já uma consequência da mobilização popular, que se manifestou também numa petição que está em análise na Assembleia Municipal de Lisboa. “Que construa, mas requalifique esta e permita que os agentes regressem para aqui”, disse Fábio Sousa.

“As esquadras fecharam e não há mais polícia na rua”

Com o Governo e a Câmara de Lisboa a serem o alvo de todas as críticas, a eleita do PS na assembleia de freguesia subiu à carrinha para garantir que apoia a causa e que o executivo autárquico também. “A câmara está connosco”, sublinhou Virgínia Pinto. “Esta é a nossa esquadra até haver uma esquadra nova.”

Diogo Moura, deputado do CDS na assembleia municipal, não foi tão brando. “Não vimos até hoje a câmara dignar-se a ceder instalações”, atirou, acusando também o Governo de prometer uma nova esquadra “apenas para calar estas centenas de pessoas”. Recebeu muitos aplausos.

A intervenção mais longa e mais aplaudida foi, no entanto, a de João Ferreira, vereador do PCP, que no fim de Janeiro conseguiu fazer aprovar, por unanimidade, uma moção em defesa da esquadra. “Foi em 2012 que nos começaram a falar da reorganização das esquadras. Diziam que era preciso que encerrassem algumas para que os polícias estivessem na rua. Os anos passaram, as esquadras encerraram e não temos mais polícia na rua”, criticou.

Segundo o Diário de Notícias de sábado, nos últimos anos fecharam 14 esquadras em Lisboa e mais encerramentos se podem seguir. O novo director nacional da PSP, Magina da Silva, entende que ter menos esquadras significa ter mais agentes na rua. Também o Governo diz que quer “fazer uma reorganização do dispositivo” nas duas áreas metropolitanas, Lisboa e Porto, pedindo pareceres à polícia.

Uma visão que contrasta com a de quem se manifestou na segunda-feira em Carnide. Para José Morgado, eleito do PSD na assembleia de freguesia, “o que interessa é ter esquadras de proximidade” porque “actualmente os polícias não têm carros nem gasóleo para andar”.

“O trabalho que se fez aqui demorou muitos anos a construir”, acrescentou Fábio Sousa, lembrando que “esta é a única esquadra com sala de apoio à vítima em Carnide”. Na freguesia há mais duas esquadras – nos bairros da Horta Nova e Padre Cruz – e um posto policial no Centro Comercial Colombo.

Esta terça, na assembleia municipal, o tema voltou a estar em discussão novamente por iniciativa do PCP, que levou a votos uma moção para “solicitar ao Ministério da Administração Interna que proceda, de imediato, à realização de todas as obras necessárias na esquadra”. Foi aprovada por unanimidade. Para quarta de manhã está marcada uma reunião entre Fábio Sousa e Fernando Medina, com vista a perceber que apoio efectivo pode dar a câmara à junta.

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