Vasco da Gama, o clube que recusou “morrer” às mãos do Estado Novo

O clube centenário do Porto quer investir na melhoria das infra-estruturas e na formação e acabar com a ideia de que é “um clube de elite no 3º Mundo”

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No Parque das Camélias, em 2004. O clube centenário portuense levou o basquetebol aos jovens dos bairros do Porto. PAULO PIMENTA / PUBLICO

Fundado há 100 anos, no Porto, por operários, o Vasco da Gama foi o clube que levou o basquetebol aos bairros da Invicta e que se recusou a “morrer” quando foi desalojado pelo Estado Novo. Actualmente, com cerca de 110 atletas a competir em todos os escalões, a principal aposta é na formação. 

Manuel Rodrigues, o presidente do clube que completa um século de existência no dia 20 de Fevereiro, contou à agência Lusa que a origem do nome do clube “pode estar relacionada com familiares dos fundadores que eram adeptos do Clube de Regatas do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro”, baseando-se no facto de o primeiro emblema do clube do Porto “ter a mesma cruz” do brasileiro.

O clube partilhou o Parque das Camélias com o “Cinema do Parque” nos primeiros anos, aí atraindo os jovens dos bairros das Fontainhas, Herculano e Sé. Mário Barros, antigo treinador e sócio nº 2 do clube portuense, contou à Lusa que jogou durante décadas num campo de cimento, descoberto, criando aí a “maneira de jogar à Vasco”.

“Os jovens eram cativados na rua, onde todos jogavam todas as modalidades”, contou de um tempo em que o Vasco da Gama se afirmou “como um clube de portas abertas”, que “na década de 1940 oferecia tudo, com a excepção das sapatilhas, aos seus atletas” – uma equação que fez nascer a “mística” que começava ao descer a rampa a partir da Rua Alexandre Herculano. “Descer aquela rampa para o pavilhão era um momento de transformação. Crescia a agressividade e um desejo de superação e vontade de vencer”, explicou o antigo jogador e treinador do clube.

Na época de 1941/42 o clube venceu o Campeonato de Portugal, algo que repetiu em 1947/48, época em que ganhou também a Taça de Portugal. Os anos seguintes trouxeram mais conquistas e somam-se, ao todo, 21 títulos nacionais e 99 regionais.

Por decisão da antiga Direcção Geral dos Transportes Terrestres, o clube viu-se obrigado a abandonar o Parque das Camélias até ao 25 de Abril. "Foi cerca de uma década que fomos obrigados a jogar no campo do Ferroviário. Foi o nosso momento mais triste”, recordou Mário Barros, que aos 83 anos soma 70 como sócio do clube. “Poucos dias depois do 25 de Abril um grupo de vascaínos reivindicou, à força, a posse e nunca mais saímos”.

Apesar de em 1989 terem recebido “um apoio de 10 mil contos [cerca de 50 mil euros] da Direcção Geral dos Desportos para a construção do pavilhão”, a tão desejada cobertura do Parque das Camélias acabou por só avançar em Fevereiro de 2004, com o apoio da Câmara do Porto, então liderada por Rui Rio, recordou o associado.

“Mais tarde chegou o antigo piso do pavilhão Rosa Mota que acabou com os jogos no cimento e com ele uma nova era para o clube, ainda que não isenta de problemas”, disse.

À Lusa, o presidente do clube disse que, em 2019, receberam um “novo fôlego" da Câmara do Porto, passando a deter o “direito de usufruto do terreno onde está o Parque das Camélias”, sendo assim “ultrapassado o facto de nunca terem tido licença de utilização daquele espaço”.

Para o futuro, o dirigente quer “investir na melhoria das infra-estruturas”, acabando com a percepção de que o Vasco da Gama “é um clube de elite no 3º Mundo”, ao mesmo tempo que promete lutar para pôr fim a outra “particularidade”. “Temos jogadores com fartura em todos os escalões menos no minibasquete, até parecemos a pirâmide invertida”, lamentou Manuel Rodrigues, ciente de que a formação “é a base de qualquer clube”. O dirigente promete, por isso, “continuar o esforço para atrair os mais pequenos” ao Parque das Camélias.

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