O quotidiano sob a ameaça do coronavírus

Sendo vigilantes e exigentes perante as autoridades, que têm o dever de ter respostas programadas para situações mais difíceis, não devemos cair no alarmismo

Sabemos que os efeitos do coronavírus já estão a ter impactes no turismo e na forma como milhões de pessoas de todo o mundo planeiam as suas férias ou viagens de negócio. Mas não sabemos exactamente ainda que custos terá a infecção na economia mundial. Nem conseguimos sequer imaginar o número de mortos que o coronavírus vai provocar antes de ser definitivamente erradicado por controlos sanitários e pela ciência. Incertezas como estas costumam despertar nas pessoas mecanismos de defesa que tendem a favorecer a reacção emocional em detrimento da análise fria e racional dos perigos que enfrentamos. É por isso importante que as autoridades nacionais e europeias sejam capazes de mostrar serenidade e travar à nascença todo e qualquer tipo de alarmismo que possa surgir.

O instinto de uma “pessoa média” face ao disparo de casos de infecção e do número de mortos pelo coronavírus na China, ontem revelados, tende a fazer com que todos queiramos medidas protectoras das autoridades. Provavelmente, os nossos receios sobre o que está a acontecer seriam mais facilmente aplacados com essas medidas restritivas. Mas estaríamos a cair na ratoeira do medo que, como sabemos, implica sempre o avanço do ódio ou do racismo ou ataques às liberdades públicas. Ao recusarem esta quinta-feira aplicar medidas de controlo de fronteiras ou soluções de vigilância extremas, quer a Comissão Europeia, quer o Ministério da Saúde de Portugal tiveram em mente esse balanço entre o que se perde e o que se ganha com medidas extremas de contenção à imagem e semelhança das que foram aplicadas na China. E, com toda a razão, concluíram que qualquer medida excepcional tomada no actual contexto estaria ferida de “desproporcionalidade”.

Pouco mais de um mês depois de o coronavírus ter entrado na actualidade mundial, ainda sabemos muito pouco dos seus reais perigos e ainda menos das suas consequências futuras. Sabemos que não podemos cair no risco de acreditar que tudo não passa de um problema passageiro, como em situações semelhantes do passado, fossem a gripe das aves ou a SARS. Mas sendo vigilantes e exigentes perante as autoridades, que têm o dever de ter respostas programadas para situações mais difíceis, não devemos cair no alarmismo. Nada justifica hoje que deixemos de viajar à luz dessa magnífica liberdade de circulação que a Europa nos proporciona nem nada recomenda que deixemos de ter vidas normais. É também com atitudes colectivas desta natureza que uma sociedade mostra o seu nervo, a sua confiança e a sua capacidade para se confrontar com os perigos, reais ou imaginários, como o que hoje confrontamos.  

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