Saúde coloca à prova coligação PSD/CDS na Madeira

Acordo de governo atribui aos centristas a escolha da direçcão clínica do Serviço Regional de Saúde. O primeiro nome não passou, o segundo provocou onda de demissões.

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“Quem quiser que se demita”, disse Albuquerque. E os médicos demitiram-se. LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

Na primeira intervenção, esta sexta-feira, como director clínico do Serviço Regional de Saúde da Madeira (Sesaram), Mário Pereira, procurou desdramatizar a polémica em torno da sua nomeação. Horas antes, no final de uma reunião que já acabou às primeiras horas de sexta-feira, 33 dos cerca de 50 directores de serviço e coordenadores de unidades do Sesaram, tinham ameaçado, num comunicado conjunto, demitir-se em bloco, caso o executivo madeirense não recuasse na nomeação de Mário Pereira para liderar a direcção clínica. Em causa, argumentaram os médicos demissionários, está a “partidarização” de uma aérea que é clínica e que, defendem, deveria ser entregue a um dos coordenadores de unidades.

Os médicos não aceitam que a escolha do nome do novo director clínico tenha sido determinada pelo acordo de governo estabelecido entre o PSD e o CDS, que designou a direcção clínica como um cargo a ser entregue a um representante dos centristas.

Foi para eles, ausentes da sala onde decorreu a tomada de posse, a que não faltaram os presidentes do governo regional, Miguel Albuquerque (PSD), e do parlamento madeirense, José Manuel Rodrigues (CDS), que Mário Pereira falou. O médico ortopedista, que durante os últimos anos foi, a partir da bancada centrista na Assembleia Legislativa da Madeira, uma das vozes mais críticas das políticas de saúde regionais, prometeu continuar a “pacificação” do sector, garantindo respeito a todos os profissionais e mantendo as “portas da direcção clínica abertas” para o diálogo. Na próxima semana, disse, vai iniciar contactos com todos os médicos para ouvir as preocupações.

“Sei que há dificuldades, que há resistências quando se muda alguma coisa”, reconheceu, depois de agradecer a confiança de Pedro Ramos, o secretário regional da Saúde, que tanto criticou na última legislatura, e a quem prometeu, agora, total lealdade.

Também Pedro Ramos, que recusou aceitar a demissão dos médicos, tentou esvaziar a tensão. Prometeu diálogo e lembrou que todos eles têm um percurso e uma história de dedicação. “Conto com eles todos, porque o serviço de saúde faz-se com as pessoas, faz-se com os profissionais que têm responsabilidades acrescidas, que são os directores de serviço. Não acredito que em 24 horas tudo o que é o histórico do Sesaram e o sucesso da Saúde na região possa ser anulado”, afirmou o secretário regional, depois de Albuquerque, à entrada, se ter mostrado confiante. “Vai tudo se resolver”, disse aos jornalistas.

Mário Pereira é a segunda escolha para a direcção clínica, depois de a médica Filomena Gonçalves ter sido vetada pelos directores de serviço e coordenadores, numa votação informal. A médica sentiu-se “humilhada”, recusou tomar posse, acabou mesmo por desfilar-se do CDS em protesto com o que considerou ser uma falta de solidariedade do partido.

O caso teve eco na coligação de governo. Rui Barreto, líder do CDS-Madeira, disse estar “profundamente agastado”, lembrando o “acordo” de governo. Albuquerque acabou por endurecer o discurso com os médicos contestatários. “Quem manda na Saúde é o governo”, disse na altura e, mais recentemente, quando o nome de Mário Pereira começou a ser criticado, respondeu: “Quem quiser que se demita”. E os médicos demitiram-se.

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