Primeiro-ministro da Turíngia demite-se depois de eleito com o apoio da AfD

Kemmerich renuncia ao cargo de primeiro-ministro do estado-federado alemão e pediu dissolução do parlamento, depois de Merkel ter criticado cooperação “imperdoável” entre CDU, FDP e a extrema-direita.

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Thomas Kemmerich FILIP SINGER/EPA

Vinte e quatro horas depois de ter sido eleito primeiro-ministro do estado-federado alemão da Turíngia, com os votos dos democratas-cristãos da CDU, dos liberais do FDP e do partido de extrema-direita AfD, Thomas Kemmerich renunciou esta quinta-feira ao cargo e pediu a dissolução do parlamento regional.

Uma decisão que, espera o dirigente liberal, funcione de dissuasor aos que acusaram o FDP – e a CDU – de romper propositadamente o “cordão sanitário” imposto pelos restantes partidos à AfD, para afastar o seu antecessor e vencedor das eleições de Outubro, Bodo Ramelow, do Die Linke (esquerda radical)

“Não houve, não há e não haverá cooperação com o AfD”, garantiu Kemmerich, citado pelo diário alemão Süddeutsche Zeitung, depois de uma reunião de emergência com o líder dos liberais, Christian Lindner, esta quinta-feira, em Erfurt, capital do estado-federado.

“Por isso, decidimos solicitar a dissolução do parlamento estadual. Queremos iniciar o processo para novas eleições para que, desta forma, possamos remover a mancha do apoio dado pela AfD ao governo”, acrescentou, apoiado por Lindner, que assegurou que Kemmerich é um “candidato do centro” e que o desfecho da votação que lhe deu a vitória foi “uma surpresa”.

Kemmerich foi eleito primeiro-ministro da Turíngia na quarta-feira, por um voto de diferença, numa eleição secreta bastante controversa, tendo em conta que o FDP teve apenas 5% nas eleições regionais e que os próprios deputados do partido anti-imigração e anti-Islão (23%) não atribuíram um único voto ao seu próprio candidato.

Uma ultrapassagem dos partidos à direita ao Die Linke (30%), que levanta suspeitas sobre a existência de um pré-acordo informal, e que surge depois de vários meses de negociações infrutíferas entre os vencedoras das eleições de Outubro e os restantes partidos, para a esquerda lograr o apoio de deputados suficientes para continuar no poder.

A conjugação de forças entre FDP, CDU e AfD entrou para a história por ter sido a primeira vez que os partidos moderados alemães se uniram à extrema-direita para conseguir um resultado político, rompendo o compromisso assumido por todos para riscar a AfD dos centros de decisão.

A jogada na Turíngia motivou críticas de praticamente todos os partidos, incluindo de membros dos liberais e dos democratas-cristãos, até porque envolveu uma das representações regionais mais extremistas da AfD, de onde é natural Bjorn Höcke, um dirigente do partido que um tribunal alemão autorizou, recentemente, que fosse referido como “fascista”.

Entre os críticos, destacou-se a chanceler, Angela Merkel. “Este processo violou uma convicção fundamental, minha e do meu partido, de que não se alcançam maiorias com a ajuda da AfD”, disse esta quinta-feira, numa conferência de imprensa a partir da África do Sul.

“Este desfecho é imperdoável, o resultado deve ser revertido. Foi um mau dia para a democracia”, considerou a chefe do Governo federal e ex-líder da CDU – foi substituída por Annegret Kramp-Karrenbauer, que defendeu novas eleições na Turíngia.

O agendamento de novo acto eleitoral no estado-federado localizado no Leste da Alemanha depende, no entanto, da aprovação da dissolução do parlamento, exigida por Kemmerich. Mas para isso são necessários pelo menos dois terços dos 90 deputados regionais e nem a AfD, nem a própria CDU local, parecem interessados em dar ao liberal essa via de fuga.

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