Pelo menos dez casos positivos do novo coronavírus num cruzeiro no Japão

Na China, já morreram 490 pessoas com o novo coronavírus, 64 delas nas últimas 24 horas. De acordo com uma equipa de cientistas, há dois medicamentos que poderão ser usados para o tratamento do 2019-nCoV.

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O cruzeiro Diamond Princess ao largo do porto de Yokohama, a cerca de uma hora de distância de Tóquio Reuters/KIM KYUNG-HOON

Há pelo menos dez casos positivos de novo coronavírus entre os mais de 3700 passageiros e tripulantes do cruzeiro Diamond Princess, que se encontra no porto de Yokohama, a cerca de uma hora de distância de Tóquio, afirmou o ministro da Saúde japonês, Katsunobu Kato, durante uma conferência de imprensa nesta terça-feira.

Os passageiros com testes positivos têm entre 50 a 80 anos de idade. Nenhum demonstrou ter sintomas graves e alguns não tinham sequer quaisquer sintomas. “Retirámo-los da embarcação e estamos a enviá-los para centros médicos”, afirmou o responsável governamental japonês, citado pela BBC.

Ainda só são conhecidos os resultados de 31 testes. Foram testadas 273 pessoas até agora, o que significa que centenas de pessoas estão ainda por testar, pelo que o número de infectados pode aumentar.

Os dez doentes confirmados terão de ficar de quarentena durante pelo menos duas semanas, de acordo com a lei japonesa.

“Pedimos às pessoas a bordo para se comportarem da melhor maneira possível, de modo a evitar infecções enquanto durar o processo de quarentena”, afirmou o ministro.

Desde segunda-feira que ninguém tem autorização para deixar o navio, que está a servir de local de quarentena no porto de Yokohama, a cerca de uma hora de Tóquio. Cerca de metade dos passageiros eram de origem japonesa e a nacionalidade dos restantes não foi divulgada. Há pelo menos dois macaenses a bordo, de acordo com autoridades de Macau.

O alerta para a possibilidade de infecção foi dado depois de um passageiro de 80 anos que viajou na embarcação em Janeiro ter tido um resultado positivo a um teste ao coronavírus.

Em Hong Kong há também outro cruzeiro, o World Dream, a servir de local de quarentena, depois de 30 membros da tripulação terem apresentado sintomas do novo coronavírus, incluindo febre alta, escreve a Reuters. Neste momento, os 1800 passageiros e membros da tripulação estão a ser testados — cerca de 90% eram naturais de Hong Kong e não existiam chineses a bordo. No entanto, houve três passageiros de origem chinesa que viajaram anteriormente na embarcação, entre 19 e 24 de Janeiro, que foram infectados com o vírus, esclarece o The Guardian.

Em Hong Kong, todos os viajantes que chegarem vindos da China serão sujeitos a uma quarentena obrigatória a partir de sábado, anunciou Carrie Lam esta quarta-feira — e esta regra aplica-se até aos residentes em Hong Kong que tenham viajado e desejem voltar. A região semiautónoma obriga todos os viajantes a pelo menos 14 dias de quarentena, escreve a agência Associated Press.

Mais de 20 mil infectados em todo o mundo

O número de mortos e infectados pelo novo coronavírus na China continua a aumentar. Morreram 490 pessoas só na China, 64 delas nas últimas 24 horas, anunciaram esta quarta-feira as autoridades de saúde chinesas. Em todo o mundo morreram, desde o fim de Dezembro, 492 pessoas: uma pessoa em Hong Kong e outra nas Filipinas, ambas com ligação à província chinesa de Hubei, epicentro do surto.

Há pelo menos 24.492 pessoas infectadas com o novo coronavírus na China e 24.505 casos confirmados em todo o mundo.

​A recuperação, é, no entanto, possível. Em média, um doente precisa de nove dias para recuperar totalmente. Em Hubei, como há mais casos e menos meios para os tratar, o tempo de recuperação é superior: 20 dias. De acordo com os dados da Universidade de Johns Hopkins, nos EUA, que tem estado a actualizar os números relativos a este vírus, 911 pessoas recuperaram na China depois de terem sido diagnosticadas com o novo coronavírus. ​

O vírus já matou mais na China do que a epidemia de SARS (síndrome respiratória aguda grave), entre 2002 e 2003. No entanto, a taxa de mortalidade é menor: no caso do novo coronavírus é de 2,1%, de acordo com a Comissão Nacional de Saúde chinesa. Na província de Hubei, epicentro do surto, a taxa é ligeiramente mais alta: 3,1%. Foi nesta província que se registaram cerca de 97% de todas as mortes. A taxa de mortalidade durante a epidemia de SARS foi de 10%. 

Cerca de 80% das vítimas mortais deste vírus tinham mais de 60 anos e 75% tinham outras doenças que não o coronavírus. Dois terços das vítimas eram do sexo masculino, de acordo com o último relatório da Comissão Nacional de Saúde chinesa.

Dois medicamentos para tratar 2019-nCoV?

Há pelo menos dois medicamentos que, de acordo com os testes in vitro, poderão ser uma solução para o tratamento do novo coronavírus: o remdesivir e a coloroquina. As conclusões são de um conjunto de investigadores do Instituto de Virologia de Wuhan, publicadas na revista Cell Research (disponível em inglês também na revista Nature).

O primeiro medicamento, remdesivir, foi desenvolvido pela farmacêutica Gilead Sciences e ainda não viu o seu uso ser aprovado em nenhum local do mundo — pelo que a China pode ser pioneira na sua aprovação, caso os testes clínicos sejam bem-sucedidos.

Já o segundo, a cloroquina, é usado há mais de 70 anos — foi especialmente relevante na década de 1980 para o tratamento da malária —, e pode ser “altamente eficiente”, de acordo com os testes em laboratório, defendem os cientistas. “Cloroquina é um medicamento barato e seguro que tem sido usado durante mais de 70 anos e, por isso, tem potencial para ser aplicado clinicamente contra o 2019-nCoV”, lê-se no estudo.

Ambos os medicamentos, testados in vitro, mostraram ser “altamente eficientes” no controlo do novo coronavírus. “Como estes componentes têm sido usados em pacientes humanos, com registos da sua segurança, e mostraram ser eficientes contra várias doenças, sugerimos que sejam testados em humanos infectados com o novo coronavírus”, lê-se no final do artigo.

Trump afirma que EUA estão a trabalhar com a China para conter surto

Durante o discurso anual do Estado da Nação no Congresso, que aconteceu na última terça-feira à noite, o Presidente norte-americano Donald Trump afirmou que os EUA estão a trabalhar em conjunto com a China para controlar o surto do novo coronavírus:  “Estamos a coordenar-nos com o governo chinês e a trabalhar juntos sobre o surto de coronavírus na China”, afirmou sem dar muito mais detalhes. “O meu Governo dará todos os passos necessários para proteger os nossos cidadãos desta ameaça”, acrescentou Trump.

Também esta terça-feira duas companhias aéreas norte-americanas (United e American Airlines) anunciaram que iriam suspender todas as viagens para a China e Hong Kong de acordo com a ordem presidencial que coloca restrições às viagens de de e para a China.

ONU pede solidariedade internacional. Como estão a responder os outros países?

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu “um sentimento forte de solidariedade internacional” e “um sentimento forte de apoio à China nestas circunstâncias difíceis” para tentar conter o surto de coronavírus – e as demonstrações de xenofobia que se começaram a registar.

Numa conferência de imprensa em Nova Iorque, Guterres demonstrou uma “forte preocupação” com “a estigmatização das pessoas que são inocentes e vítimas desta situação” e pediu que se fizessem esforços para evitar essa situação, cita o South China Morning Post.

Vários países estão a fechar fronteiras ou a proibir a chegada de viajantes que tenham estado na China. Várias nações, como Portugal, retiraram os nacionais das áreas afectadas na China, colocando-os de quarentena à chegada. Nesta quarta-feira, um avião com vários neozelandeses, australianos e cidadãos de outras nações do Pacífico chegou a Auckland vindo de Wuhan. Os cidadãos repatriados serão depois enviados para a Ilha do Natal, onde vão estar de quarentena. 

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