Paulo Gonçalves condecorado a título póstumo com Colar de Honra ao Mérito Desportivo

O anúncio da condecoração a título póstumo foi feito pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que enalteceu os “extraordinários feitos” e altruísmo do motard.

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Paulo Gonçalves Reuters/HAMAD I MOHAMMED

O piloto Paulo Gonçalves, que morreu vítima de uma queda no Rali Dakar, foi condecorado nesta quinta-feira, a título póstumo, com o Colar de Honra ao Mérito Desportivo, a mais alta distinção que o Governo pode entregar no campo desportivo.

O anúncio da condecoração a título póstumo foi feito pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que tutela a pasta do Desporto, durante a 24.ª Gala do Desporto, da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), a decorrer no Casino Estoril.

“O Governo decidiu atribuir, a título póstumo, a mais alta distinção desportiva nacional, o Colar de Honra ao Mérito Desportivo”, declarou, enaltecendo os “extraordinários feitos” e “a marca de água de ética e de altruísmo” do malogrado motard de Esposende.

Gonçalves, de 40 anos, morreu a 12 de Janeiro na sequência de uma queda na sétima de 12 etapas da 42.ª edição do Dakar, disputada na Arábia Saudita, naquela que era a sua 13.ª participação.

“Lesões graves na cabeça e cervical” provocadas pela queda a alta velocidade estiveram na origem da morte do piloto português.

A paixão pelas motas do piloto de Esposende, dos principais embaixadores portugueses no motociclismo, graças, sobretudo, ao título mundial de ralis cross-country conquistado em 2013 e ao segundo lugar no Dakar2015, nasceu desde cedo, nas traseiras situadas junto da oficina do pai, com o seu talento a ser rapidamente reconhecido.

Foi no motocrosse e no supercrosse que conheceu os primeiros sucessos, com vários títulos nacionais conquistados. A rapidez valeu-lhe a alcunha de “Speedy” Gonçalves, que haveria de se tornar a sua imagem de marca, à semelhança dos desenhos animados de “Speedy González”.

O piloto no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo, onde acabaria por morrer EPA/ANDRE PAIN
Paulo Gonçalves inconsciente e em paragem cardio-respiratória, este domingo, na Arábia Saudita. O piloto acabaria por morrer EPA/ANDRE PAIN
Joaquim Rodrigues reage à morte de Paulo Gonçalves na sétima etapa no Rali Dakar 2020 EPA/ANDRE PAIN
O piloto no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo, onde acabaria por morrer Reuters/HAMAD I MOHAMMED
O piloto no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo, onde acabaria por morrer EPA/ANDRE PAIN
O piloto no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo, onde acabaria por morrer Reuters/HAMAD I MOHAMMED
O piloto no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo, onde acabaria por morrer EPA/ANDRE PAIN
O piloto no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo, onde acabaria por morrer EPA/ANDRE PAIN
O piloto no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo, onde acabaria por morrer EPA/ANDRE PAIN
Paulo Gonçalves na competição de 2020 EPA/ANDRE PAIN
Piloto português tinha 40 anos DAKAR
Paulo Gonçalves era conhecido como Speedy Gonçalves DAKAR
Paulo Gonçalves era natural de Esposende DAKAR
Paulo Gonçalves no Dakar 2017, Argentina EPA/DAVID FERNANDEZ
Paulo Gonçalves no Dakar 2017, na Argentina Reuters/RICARDO MORAES
Paulo Gonçalves no Dakar 2019, no Peru Reuters/CARLOS JASSO
Paulo Gonçalves no Dakar 2019, no Peru EPA/ERNESTO ARIAS
Paulo Gonçalves no Dakar 2019, no Peru Reuters/MARIANA BAZO
Paulo Gonçalves festeja o segundo lugar no Rali Dakar 2015, na Argentina EPA/David Fernandez
Paulo Gonçalves festeja o segundo lugar no Rali Dakar 2015, na Argentina, com os seus colegas de equipa EPA/FELIPE TRUEBA
Verificações técnicas antes do Dakar 2016 em Buenos Aires, Argentina Reuters/MARCOS BRINDICCI
Verificações técnicas antes do Dakar 2016 em Buenos Aires, Argentina Reuters/ENRIQUE MARCARIAN
Paulo Gonçalves no Abu Dhabi Desert Challenge em 2013 Reuters/STRINGER
Paulo Gonçalves no Dakar Rally 2011, Tucumán, Argentina Reuters/ERIC GAILLARD
Paulo Gonçalves antes do início das competições do Dakar 2012 JUAN MABROMATA
Paulo Gonçalves festeja o segundo lugar no Rali Dakar 2015 em Buenos Aires, na Argentina Reuters/ENRIQUE MARCARIAN
Paulo Gonçalves depois das verificações técnicas para o Dakar 2016 em Buenos Aires, Argentina Reuters/MARCOS BRINDICCI
Paulo Gonçalves depois das verificações técnicas para o Dakar 2016 em Buenos Aires, Argentina Reuters/MARCOS BRINDICCI
Paulo Gonçalves antes da sexta etapa do Rali Dakar 2016, Argentina Reuters/POOL
Paulo Gonçalves cumprimenta Evo Morales, ex-Presidente da Bolívia, durante a sétima etapa do Dakar 2017, na Bolívia Reuters/HANDOUT
Paulo Gonçalves no Dakar 2017, Bolívia EPA/DAVID FERNANDEZ
Instagram de Paulo Gonçalves
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O piloto no Dakar 2020, na Arábia Saudita, este domingo, onde acabaria por morrer EPA/ANDRE PAIN

No início da década de 2000, acumulou o motocrosse com o enduro, onde conquistou quatro títulos na categoria e um absoluto, mas foi a vinda do Rali Dakar para Portugal, em 2006, que redefiniu o seu destino, com a passagem para as grandes maratonas de todo-o-terreno e o consequente salto para a ribalta.

Uma queda logo na primeira etapa em Marrocos danificou bastante a mota, passou grande parte da madrugada a tentar segurar as peças em cima da mota para conseguir chegar ao acampamento. “Vim com a mota presa por fitas plásticas e fita adesiva”, contaria mais tarde.

Nesses dois anos em que a prova passou por território português, os resultados não foram brilhantes (25.º e 23.º), mas o gosto pelas provas de todo-o-terreno ficou, e foi acumulando experiência até que deu o salto para o estrelato já na América do Sul. Conseguiu o primeiro sucesso na prova em 2011, vencendo uma especial antes de abandonar na oitava etapa.

A experiência acumulada começou a dar frutos e, em 2013, tornou-se no segundo piloto português a sagrar-se campeão mundial de ralis de cross-country, depois de Hélder Rodrigues o ter conseguido em 2011. Em 2015, conseguiu o seu melhor resultado no Dakar, ao terminar em segundo, com uma especial ganha, apenas atrás do espanhol Marc Coma.

Os anos seguintes não foram felizes em termos desportivos para o benfiquista assumido — chegou mesmo a ser patrocinado pelo clube, com direito a apresentação no Estádio da Luz aos adeptos encarnados —, contudo a edição de 2016 do Dakar havia de eternizá-lo na memória dos adeptos do rali.

Gonçalves parou mais de dez minutos durante a sétima etapa do Dakar para ajudar o motard austríaco Matthias Walkner, que tinha sofrido uma queda, e ficou com ele até à chegada de auxílio médico.

O gesto do português foi reconhecido pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), que nesse ano atribuiu o Prémio Ética no Desporto ao piloto, precisamente na Gala do CDP.

“Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. Fiz aquilo que me competia, ao contrário, acredito que fizessem o mesmo por mim”, escreveu, na altura, o piloto na sua página no Facebook.

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