O que falta saber sobre o novo coronavírus

O pneumologista Filipe Froes, nomeado representante da Ordem dos Médicos para as questões ligadas ao 2019-nCoV, explica o que ainda falta perceber sobre esta nova ameaça.

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Sintomas do coronavírus incluem febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias Reuters/ALY SONG

É muito mais o que se desconhece do que aquilo que já se sabe sobre o novo coronavírus que foi detectado na China e que já infectou mais de 2700 pessoas. Por saber está ainda a origem exacta do vírus, qual o hospedeiro (animal) e se houve ou não um hospedeiro intermediário. Também não é ainda clara a forma de transmissão entre humanos, o período exacto em que essa transmissão se dá e a taxa de ataque do vírus. Ou seja, conhecer a epidemiologia da nova infecção – o “quem”, o “como” e o “quando”.

Eis algumas questões sobre o vírus para as quais ainda não há resposta:

Qual a verdadeira taxa de ataque?

Apesar de diariamente crescer o número de infectados, ainda não se sabe verdadeiramente qual o alcance do vírus.

Quais as pessoas mais afectadas?

Desconhece-se se o vírus afecta igualmente todo o tipo de pessoas, adultos ou crianças, doentes ou saudáveis, como sublinhou à agência Lusa o pneumologista Filipe Froes, nomeado representante da Ordem dos Médicos para as questões ligadas ao novo coronavírus (2019-nCoV).

As autoridades internacionais não sabem também quem é que tem as formas mais graves da doença e quais as características dos mortos por este novo vírus.

O pneumologista recorda que fora da China ainda não ocorreu nenhuma situação grave, apesar de todos os casos da doença serem importados daquele país asiático.

O vírus afecta crianças? E qual a sua expressão em idade pediátrica?

Há relato de um caso de um bebé de nove meses infectado por um dos pais, mas não se sabe ainda se o vírus tem afectado crianças do mesmo modo que afecta adultos.

Qual o período de transmissão?

O pneumologista Filipe Froes lembra que as autoridades chinesas alertaram que pode haver transmissão entre pessoas antes mesmo do início dos sintomas. Não se sabe se é uma excepção ou uma regra e quanto tempo antes de os sintomas se manifestarem pode a doença ser contagiosa. Também se ignora se, à semelhança do que aconteceu com a SARS (sigla inglesa para Síndrome Respiratória Aguda Grave), há doentes com maior capacidade de contágio do que outros.

É igualmente desconhecido qual o maior período de transmissão e até quando ocorre.

Que tratamentos existem?

Actualmente, os doentes estão a ser tratados com medidas de suporte, que apenas tratam os sintomas da doença, como febre ou dificuldade respiratória. Não há ainda um medicamento específico para este novo coronavírus.

Filipe Froes indica que haverá tratamentos experimentais em curso, mas ainda se desconhece qual a sua eficácia. Segundo o especialista, estará já em desenvolvimento uma vacina, muito com base no trabalho que tinha sido feito para a pneumonia atípica de 2002/2003 – SARS. É ainda necessário aguardar por ensaios sobre a efectividade e segurança.

Qual a origem exacta do vírus?

Os primeiros casos do novo coronavírus em humanos estavam ligados a um mercado de pescado e carne na cidade chinesa de Wuhan. Contudo, não se sabe qual o animal que transmitiu o vírus ao primeiro doente infectado, nem se houve um animal que seja o hospedeiro originário e outro o hospedeiro intermédio.

O que se sabe então sobre o novo coronavírus?

Os coronavírus são uma larga família de vírus que vivem noutros animais (por exemplo, aves, morcegos, pequenos mamíferos) e que no ser humano normalmente causam doenças respiratórias, desde uma comum constipação até a casos mais graves, como pneumonias. Podem transmitir-se entre animais e pessoas. A maioria das estirpes de coronavírus circulam entre animais e não chegam sequer a infectar seres humanos. Aliás, até agora, apenas seis estirpes de coronavírus entre os milhares existentes é que passaram a barreira das espécies e atingiram pessoas.

O novo coronavírus é da mesma família do vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (2002-2003) e da Síndrome Respiratória do Médio Oriente (2012).

Estes dois tipos de coronavírus são até agora os que tiveram capacidade de atravessar a barreira das espécies e de se transmitir a humanos e que apresentam quadros de alguma gravidade, explicou à agência Lusa o pneumologista Filipe Froes.

Os primeiros casos de 2019-nCoV apareceram em meados de Dezembro na cidade chinesa de Wuhan, quando começaram a chegar aos hospitais pessoas com uma pneumonia viral. Percebeu-se que todas as pessoas trabalhavam ou visitavam com frequência o mercado de marisco e carnes de Huanan, nessa mesma cidade. Ainda se desconhece a origem exacta da infecção, mas terão sido animais infectados, que são comercializados vivos, a transmiti-la aos seres humanos.

Estes vírus transmitem-se geralmente pela via respiratória e afectam sobretudo o trato respiratório, especialmente os pulmões, nas formas graves.

Os sintomas destes coronavírus são mais intensos do que uma gripe e incluem febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias. Nos casos confirmados inicialmente, 90% apresentaram febre, 80% tosse seca, 20% falta de ar e só cerca de 15% apresentaram dificuldade.

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