Francisco Rodrigues dos Santos assume candidatura “sem padrinhos” e “sem donos”

João Almeida tinha dito que queria “ser presidente de um partido livre e não controlado”. Presidente da Juventude Popular foi o único a levantar o congresso até aqui. Prossegue a aresentação das moções de estratégia global no 28.º Congresso do CDS.

Marcus Antonius
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João Almeida
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Filipe Lobo d'Ávila,Filipe Lobo d'Ávila ,
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Abel Matos Santos
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Francisco Rodrigues dos Santos foi o candidato que levantou o 28.º Congresso do CDS (no início e no fim da intervenção), com um discurso em que defendeu que este deve ser um partido “de direita grande” e em que respondeu a João Almeida, um dos mais fortes adversários com que está a disputar a liderança dos centristas.

O presidente da Juventude Popular começou por agradecer aos congressistas que há 45 anos se reuniram no Palácio de Cristal, no Porto, e estiveram “sob fogo”. Depois, respondeu a João Almeida recorrendo ao refrão do hino dos “jotas": “Estou neste congresso complemente solto e complemente livre. Estou neste congresso a apresentar uma candidatura, uma candidatura que não tem padrinhos, não tem donos, e que não é sucessora de coisa alguma”.

Francisco Rodrigues dos Santos insurgiu-se ainda contra as “fontes anónimas que querem decidir o congresso na imprensa” e que “tiveram uma assinatura nestas intervenções iniciais”, numa clara alusão a João Almeida, que se referira a um partido com “controleiros”. 

Sobre o futuro do CDS, o Francisco Rodrigues dos Santos disse não ser preciso “inventar a roda” e defendeu que é necessário impedir a “falência da identidade”. “A assinatura é, e sempre foi, a democracia-cristã aberta a correntes liberais e conservadoras”, afirmou.

Assumindo querer um CDS “forte”, Rodrigues dos Santos esclareceu que, se for eleito, será presidente e não será deputado. “Eu pergunto: se só tivéssemos um deputado dispensaríamos este congresso para eleger o próximo presidente? Não”, afirmou, refutando assim um argumento dos apoiantes de João Almeida, que é o único deputado entre os candidatos à liderança. O líder da JP defendeu que a “próxima liderança não esteja apenas concentrada no Parlamento” e que “abra outras linhas de diálogo com a sociedade civil”, apontando Cecília Meireles (que é apoiante de João Almeida) como a deputada que se manterá na liderança parlamentar. Francisco Rodrigues dos Santos era “número dois” pelo Porto, mas não foi eleito. “A minha assembleia será o país”.

Defendendo que o CDS tem de “ganhar uma nova vida, dar espaço a novos protagonistas, e àqueles que estão e continuarão”, o candidato deixou outro recado a João Almeida, ao dizer que a sua moção “não é de justificações, é de solução para o futuro”. E terminou citando os nomes de todos os presidentes do partido, quando uma expressiva maioria de delegados o aplaudia.

Antes, na apresentação da sua moção, João Almeida fez um discurso em que refutou várias críticas que lhe são apontadas – o rosto da “continuidade” e do “insucesso” – e no qual deixou recados para o seu adversário Francisco Rodrigues dos Santos.

“Quero ser presidente de um partido livre e não controlado”, disse o deputado, assumindo querer um partido de “militantes livres e soltos, sem controleiros e pressões, sem messianismos, sem coacção”.

O recado era dirigido a Francisco Rodrigues dos Santos que é acusado de controlar com mão firme a Juventude Popular (JP), estrutura que dirige.

O porta-voz da direcção cessante recusou ser o candidato da “continuidade” e prometeu renovação. “Se acham que eu vim para fazer igual com os mesmos, não votem em mim. Se acham que não vamos mudar de vida, não votem em mim”, disse, frisando que, se for eleito presidente do CDS, em cada órgão nacional “dois terços vão ser caras novas”.

Quanto às presidenciais, o candidato à liderança do partido não apontou para uma eventual recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. “Se por alguma razão for preciso ter um candidato, sei quem é e sei como vamos fazer”, disse, sem nada mais revelar. Quanto às autárquicas, João Almeida disse ter uma "candidatura para manter os resultados”.

Depois de questionar “para onde vai o CDS”, o próprio João Almeida deu a resposta. “Vamos à luta por aquilo em que acreditamos e com a representatividade que queremos conquistar”, disse, considerando que a raiz do partido está no “humanismo personalista” e na “democracia-cristã”. “Há mais de 40 anos que o fazemos, não é ao fim de 40 anos que vamos ter problemas de identidade ou que não sabemos”, afirmou.

João Almeida recusou ser a cara dos resultados de 2019, perguntando ao congresso: “Qual a declaração em que deixei o partido ficar mal?” E questionou ainda se, como deputado, não fizera o que era esperado. E recordou que, como cabeça de lista, conseguiu assegurar que o distrito de Aveiro continuava a assegurar um deputado ao CDS.

O autor da moção “O que nos une” também refutou a crítica de ser o candidato “mais do mesmo”. “Sou candidato mais do mesmo, se sou o da resistência, se sou o da convicção do valor da vida”, disse, acrescentando que é “mais do mesmo”, se se falar da “coragem” para salvar o país da bancarrota. O deputado e antigo secretário-geral puxou ainda dos galões para recusar ser o “candidato do insucesso”, lembrando o seu trabalho como secretário de Estado da Administração Interna no Governo liderado por Santana Lopes, elogiando também o seu antecessor no cargo, Filipe Lobo d’ Ávila, que também é candidato à liderança do CDS.

Promotor da moção Juntos pelo Futuro, Filipe Lobo d’Ávila subiu ao palco para garantir que leva a sua moção a votos e deixar um aviso: “O CDS não precisa de uma revolução que o descaracterize”. A frase pode ser entendida como dirigida a Francisco Rodrigues dos Santos, o candidato que se assume disposto a fazer uma ruptura no partido.

Lobo d'Ávila lança Cristas para Lisboa

No seu discurso, o ex-deputado que foi crítico da direcção cessante começou por se referir a Assunção Cristas, convidando-a a ser novamente candidata por Lisboa. “Na divergência política pública e frontal, não sou daqueles que aplaudem quando dá jeito e descartam quando conveniente”, disse.

Rejeitando um CDS “clube de amigos” ou “partido catavento que a todos quer agradar”, o candidato à liderança lembrou ter avisado “que o caminho não era o correcto”. “Fui o único e sei que, se não o tivéssemos feito, hoje estaríamos pior. O CDS não precisa de uma revolução que o descaracterize”, afirmou.

“Não há donos do partido e o único dono de cada voto é cada um de nós”, disse, depois de se ter dirigido aos “notáveis” do partido que trabalham pelo CDS todos os dias. Lobo d’Ávila esclareceu as informações que davam conta da sua desistência. “Sim, vou a votos”, exclamou, acrescentando que aceitará a decisão e que deseja “um partido inteiro, não é balcanizado fraccionado”.

Abel Matos Santos: que quem conduziu se afaste

Na apresentação da respectiva moção, Abel Matos Santos, porta-voz da Tendência Esperança em Movimento, corrente interna, propôs que o CDS se assuma como “uma direita a sério, e não uma direita autorizada”. E exigiu que “quem conduziu o partido se afaste” e dê lugar a “novos actores político”, para que “outros sem vícios” possam tomar “conta dos destinos do CDS” e liderem “sem cedências às esquerdas”.

Afirmando que se revê num “CDS que confia na iniciativa privada”, que “acredita na família” como “célula base”, que “defende o interior e nele aposta”, que está “preocupado com aqueles que não podem nascer, devido ao aborto”, que está “preocupado com a ideologia do género” que “nas escolas quer criar um homem novos”, Abel Matos Santos garantiu que quer fazer “um caminho novo, descomplexado, sem medo do politicamente correcto”.

Referindo-se ao adiamento da refiliação de Manuel Monteiro decidido por Assunção Cristas, Abel Matos Santos demarcou-se de um “CDS de votos de gaveta a antigos presidentes que querem voltar”.

Carlos Meira, outro autor de uma moção de estratégia global e candidato a presidente do CDS, desafiou os outros candidatos, antes da votação das moções, a dizer quem são os primeiros vice-presidentes das suas listas e candidatos a secretário-geral.

Carlos Meira: “O CDS bateu no fundo"

No início da sua intervenção, Carlos Meira tentou, sem êxito, levantar o congresso, ao pedir uma homenagem aos fundadores do CDS que estavam há 45 anos no congresso do Palácio de Cristal, no Porto, que foi então cercado por militantes de esquerda. As palmas ouviram-se, mas apenas meia dúzia de pessoas aceitou levantar-se para aplaudir os fundadores, com Carlos Meira a discursar.

Afirmando que o “CDS bateu no fundo” e que “negar em nada ajuda”, Carlos Meira defendeu o fim do “desperdício”, das “avenças”, das “subvenções” e das “negociatas”, porque considera que, para “reerguer o CDS”, o partido “precisa mudar muito”. Mas advertiu que isso “não é o congresso passar cheques em brancos”.

Telmo Correia apoia João Almeida

Telmo Correia, um dos subscritores da moção global Direita Autêntica, que tem como primeiro subscritor Nuno Melo, anunciou o seu apoio, a título individual, ao candidato João Almeida e assumiu que o principal erro da direcção cessante foi o de tentar abrir o partido a eleitores de outras áreas política, o que acabou por não resultar.

“Cometemos erros. O partido fez uma opção na tentativa de alargamento a outro eleitorado e acabámos por ter menos”, reconheceu o presidente do conselho nacional do CDS, tal como o fizera um pouco antes Assunção Cristas no discurso que abriu os trabalhos do 28. º congresso do partido.

Telmo Corria disse que esta reunião magna marca “um novo ciclo na história do partido, ganhe quem ganhar”. E depois falou de renovação. “Nada na política como na vida real se constrói subtraindo em relação ao que podemos ter. Tudo na vida se faz construindo mais, só assim o CDS pode continuar a crescer”, declarou, frisando que o “partido não é uma amálgama de ideias feitas, nem um partido monotemático”.

As eleições autárquicas ficaram para o fim da intervenção. Telmo Correias defendeu que os mais bem preparados é que devem ser escolhidos e aproveitou para dizer que, antes de as escolhas serem feitas, o partido deve de ouvir os seus autarcas eleitos pelo CDS.

O CDS é poder em Velas (Açores), Santana (Madeira), Ponte de Lima (Viana do Castelo), Albergaria-a-Velha, Vale de Cambra e Oliveira do Bairro (Aveiro).

Unir as pontas, sem ajustar contas

O presidente da distrital de Lisboa do CDS, João Gonçalves Pereira, apresentou uma moção de estratégia na qual defende uma alteração ao regime dos referendos locais e uma revisão do sistema eleitoral.

“Temos de criar uma cultura de participação política”, propõe o líder distrital e vereador na Câmara de Lisboa, na sua intervenção na reunião magna do partido.

Sublinhando a necessidade de combater a crescente abstenção dos portugueses em actos eleitorais, João Gonçalves Pereira pede mudanças no sistema eleitoral. “O partido não deve ter medo de discutir estas questões e deve levar a dianteira nesta matéria”, declarou o dirigente, que defende a criação de um grupo de trabalho constituído por jovens, académicos, sociedade civil para que seja introduzido o voto obrigatório em Portugal.

Gonçalves Pereira mostrou-se preocupado com a perda de influência do partido – “está numa situação de grande erosão eleitoral” –, falou dos candidatos à liderança do partido, mas não declarou o apoio a nenhum deles.

Antes de agradecer à presidente cessante, Assunção Cristas, pela oposição ao PS, quando – disse – “não havia ninguém que a quisesse fazer, João Gonçalves Pereira fez um apelo em nome da união ao partido: “Espero que este congresso seja para unir as pontas, e não para ajustar contas”.

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