Montenegro suspeita que candidatura de Rio ande a oferecer lugares em troca de apoios

Na primeira volta das eleições no PSD, o actual líder ficou a 622 votos de ser eleito, sem contabilizar os votos da Madeira.

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Luís Montenegro assegura que não vai negociar lugares no partido para obter apoios para as directas LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O candidato à liderança do PSD Luís Montenegro negou nesta terça-feira andar a “oferecer lugares em troca de apoios”, mas disse não ter certezas de que Rui Rio e os seus apoiantes não o façam.

Em declarações aos jornalistas na sede da candidatura, em Lisboa, a quatro dias da segunda volta das directas, Montenegro acusou Rio de, no passado sábado, ter insinuado que a sua candidatura andaria a oferecer lugares em troca de votos. “Eu quero dizer aqui solenemente uma coisa: eu não convidei ninguém, eu não ofereci lugares a ninguém, mas não estou certo de que o dr. Rui Rio e os seus apoiantes não andem a fazer isso um bocadinho por todo o país”, afirmou, dizendo ter relatos de pessoas que lhe falam de “algumas abordagens” nesse sentido, sem concretizar mais.

Na madrugada de domingo, Rui Rio afirmou que todos os votos em si foram por “convicção”, assegurando que não negociou nem vai negociar lugares.

“Não gosto de ver pessoas a lançarem suspeitas, insinuações para os outros, se calhar para esconder aquilo que fazem. Quero apenas dizer que eu não abordei ninguém nem ninguém da minha candidatura abordou ninguém com vista a trocar apoio por lugares, conforme foi insinuado pelo dr. Rui Rio no passado sábado”, reagiu Montenegro.

No entanto, reiterou, “parece que há pessoas que, com ou sem conhecimento do dr. Rui Rio, andam a falar de eleições autárquicas, de listas para o futuro”. “Eu não o farei, absolutamente”, afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de o PSD-Madeira boicotar a segunda volta das directas do PSD, o candidato considerou “imperdoável” que a direcção nacional não tenha acautelado com a direcção regional “uma forma de permitir que haja participação normal” no arquipélago. “Esta questão mancha o processo para todo o sempre. Espero que não seja com um diferencial equivalente aos votos da Madeira que se decida esta eleição, porque vai ficar sempre esta dúvida”, afirmou.

Luís Montenegro, que chegou a defender que todos os militantes do PSD pudessem votar com ou sem quotas em dia, lamentou ainda que Rui Rio não tenha aceitado o seu desafio para um debate televisivo. “Infelizmente, parece que a candidatura do dr. Rui Rio e ele próprio preferem andar em diálogo e em piadolas de mau gosto nas redes sociais, em vez de se concentrarem no essencial, debater ideias para o futuro”, afirmou.

Luís Montenegro disse estar “muito entusiasmado” com os apoios que tem recebido desde sábado, na primeira volta das directas em que obteve teve 41,4% dos votos contra 49% de Rui Rio.

“Partimos os dois candidatos do zero. Para a eleição de sábado cada candidato neste momento tem zero votos e será vencedor o que obtiver pelo menos metade dos votos mais um”, disse.

Questionado sobre como explica a diferença de votação que teve para Rui Rio, o antigo líder parlamentar do PSD começou por dizer que, na campanha, foram “alimentando a convicção” de que haveria um ambiente muito positivo à volta da candidatura. “Volto a relembrar que foram mais os militantes que optaram pela mudança do que pela continuidade”, afirmou.

Perante a insistência na pergunta, Luís Montenegro considerou que há sempre uma vantagem para o líder em exercício. “No PSD, desde que me lembro, só há um único líder partidário que não tenha vencido uma eleição partidária ao qual se recandidatava”, disse, considerando que tal se deve ao funcionamento dos partidos políticos e das “dinâmicas à volta de uma liderança, que dispõe de instrumentos até administrativos”.

“Não me espanta que tenha acontecido, mas ao mesmo tempo a maioria dos militantes quis mudar”, repetiu.

O candidato admitiu, contudo, que tem pela frente “uma tarefa difícil”, mas disse estar “optimista e confiante”. “Temos de conseguir manter os que confiaram em nós e absorver outros que confiaram noutras candidaturas e ainda outros que não participaram”, afirmou.

O actual presidente do PSD, Rui Rio, e o antigo líder parlamentar Luís Montenegro disputarão no sábado uma inédita segunda volta das eleições directas para escolher o próximo presidente. No passado sábado, Rui Rio ganhou a primeira volta das directas com 49,02% dos votos face aos 41,2% de Luís Montenegro e os 9,5% obtidos por Miguel Pinto Luz, já com a contagem da secção da Amadora, e correcção dos números de Vila Real, de acordo com os resultados publicados no site do PSD. O actual líder ficou, assim, a 622 votos (e não a 300) de conquistar a maioria absoluta. Da Região Autónoma da Madeira não foi contabilizado nenhum voto por causa da diferença entre os cadernos eleitorais considerados pelo partido no arquipélago e os aceites pela direcção nacional do PSD.