O Golden Boy é bom a prever o futuro, mas nem sempre

Ser considerado o melhor do mundo com menos de 21 anos, como aconteceu nesta quarta-feira a João Félix, é um bom presságio, mas não é um indicador a 100% de sucesso.

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João Félix, o Golden Boy de 2019 LUSA/FERNANDO VELUDO

Não há uma ciência exacta para adivinhar a carreira futura de um jogador de futebol. Um craque aos 18 anos pode ser um flop aos 28 e o contrário também acontece. O prémio Golden Boy, atribuído pelo jornal italiano Tuttosport e votado por um painel de jornalistas internacionais, é um desses instrumentos de adivinhação, um prémio que distingue desde 2003 o melhor jogador do mundo com menos de 21 anos. Em 2019, foi João Félix a ganhar essa votação, juntando-se a um palmarés com gente tão distinta como Lionel Messi, Paul Pogba ou Kylian Mbappé, e tornando-se no segundo português a ser distinguido depois de Renato Sanches. Mas nem todos os Golden Boy têm sido de ouro.

Por um ano divido entre o Benfica e o Atlético de Madrid, João Félix foi o mais votado pelos jornalistas, com 332 pontos, quase o dobro do britânico do Borussia Dortmund Jadon Sancho (175 p.), tendo sido o único jogador português entre os 20 atletas que receberam pontos. O seu crescimento acelerado na segunda metade da época passada, instrumental no título do Benfica, mais a projecção internacional que ganhou com a transferência para o Atlético por 120 milhões de euros, fizeram de João Félix um nome incontornável entre as “estrelas” jovens do futebol internacional, sendo que os primeiros meses em Madrid não estão a ser um sucesso retumbante – também tem passado algum tempo lesionado.

Cristiano Ronaldo nunca ganhou o prémio

Olhando para os 16 premiados pelo Tuttosport desde 2003, há um assinalável grau de acerto do diário desportivo italiano quanto a promessas que se tornariam em certezas. Lionel Messi venceu o prémio em 2005 e todos sabemos o que fez (e continua a fazer) nos 14 anos seguintes. Talvez a maior falha dos prémios Golden Boy seja mesmo uma omissão. Cristiano Ronaldo nunca ganhou o prémio, tendo de se contentar com um terceiro lugar em 2003 (atrás de Van der Vaart e Rooney) e um segundo em 2004 (atrás de Rooney).

Rafael van der Vaart, 2003 REUTERS/Juan Medina
Wayne Rooney, 2004 Reuters/Jason Cairnduff
Lionel Messi, 2005 Reuters/SERGIO PEREZ
Cesc Fàbregas, 2006 Reuters/MATTHEW CHILDS
Sergio Agüero, 2007 Reuters/JASON CAIRNDUFF
Anderson, 2008 REUTERS/Darren Staples
Alexandre Pato, 2009 REUTERS/Jorge Adorno
Mario Balotelli, 2010 Reuters/JEAN-PAUL PELISSIER
Mario Götze, 2011 REUTERS/Stefano Rellandini
Isco, 2012 Reuters/JAVIER BARBANCHO
Paul Pogba, 2013 Reuters/EDDIE KEOGH
Raheem Sterling, 2014 Reuters/CARL RECINE
Anthony Martial, 2015 Reuters/CARL RECINE
Renato Sanches, 2016 Reuters/PETER CZIBORRA
Kylian Mbappé, 2017 Reuters/JASON CAIRNDUFF
Matthijs de Ligt, 2018 Reuters/ALBERTO LINGRIA
João Félix, 2019 EPA/Rodrigo Jimenez
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Rafael van der Vaart, 2003 REUTERS/Juan Medina

Mesmo não tendo a carreira estratosférica que lhe previam como o melhor de uma grande geração holandesa, Van der Vaart teve uma carreira longa em clubes como o Ajax, o Real Madrid, o Hamburgo e o Tottenham, e chegou às 109 internacionalizações. Rooney, por seu lado, também não atingiu os níveis de CR7, mas não deixou de ser um dos melhores jogadores ingleses dos últimos 20 anos, com muitos golos e títulos no Manchester United e ainda com o estatuto de melhor marcador da história da selecção inglesa.

Os falhanços do Golden Boy

Entre os 16 anteriores premiados, há pelo menos três nomes que não cumpriram, de todo, as expectativas. Anderson, antigo médio do FC Porto, é um dos mais evidentes. Em 2008, estava a meio da sua segunda época no Manchester United, já com uma mão-cheia de internacionalizações A pelo Brasil, quando foi considerado o melhor jovem do futebol mundial, mas a sua estrela acabou por nunca brilhar muito nos sete anos e meio em Old Trafford.

Outro brasileiro, Alexandre Pato, também nunca cumpriu a promessa dos seus primeiros anos no AC Milan. Depois de ser o Golden Boy de 2009, Pato, actualmente com 30 anos, começou a perder importância nos “rossoneri” e regressou ao futebol brasileiro, onde ainda teve um renascimento, mas já não joga na selecção brasileira desde 2013 e, na presente temporada, ainda só marcou cinco golos pelo São Paulo.

Mario Balotelli, por seu lado, tem um lado inquieto que o impede de se fixar no mesmo sítio durante muito tempo. Não é que ele não marque golos por onde passa, mas em relação a ele é mais a sensação de talento desperdiçado do que outra coisa.

Outro Golden Boy que tem tido uma carreira frustrante é o primeiro português a ganhar o prémio, Renato Sanches. Campeão português e europeu aos 18 anos, Sanches teve uma transferência milionária para o Bayern Munique, mas nunca se afirmou nos bávaros, e já foi revendido, com prejuízo, para o Lille. Renato tem, no entanto, a idade a seu favor: ainda só tem 22 anos e muito tempo para ser um rapaz de ouro.

Os premiados

  • 2003 Rafael van der Vaart (Holanda)      Ajax
  • 2004 Wayne Rooney (Inglaterra)    Everton e M. United
  • 2005 Lionel Messi (Argentina)         Barcelona
  • 2006 Cesc Fàbregas (Espanha)         Arsenal
  • 2007 Sergio Agüero (Argentina)      Atlético Madrid
  • 2008 Anderson (Brasil)    Manchester United
  • 2009 Alexandre Pato (Brasil)   AC Milan
  • 2010 Mario Balotelli (Itália)     Inter Milão e M. City
  • 2011 Mario Götze (Alemanha)        Borussia Dortmund
  • 2012 Isco (Espanha) Málaga
  • 2013 Paul Pogba (França)         Juventus
  • 2014 Raheem Sterling (Inglaterra)  Liverpool
  • 2015 Anthony Martial (França)        Mónaco e M. United
  • 2016 Renato Sanches (Portugal)     Benfica e B. Munique
  • 2017 Kylian Mbappé (França) Mónaco e PSG
  • 2018 Matthijs de Ligt (Holanda)      Ajax
  • 2019 João Félix (Portugal)        Benfica e Atlético Madrid
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