Iraque: “Nas mãos só temos bandeiras, mas continuam a bater-nos”

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Os protestos no Iraque começaram a 1 de Outubro; desde então, foram mais de 300 as vítimas mortais resultantes da repressão militar ordenada por um governo que muitos iraquianos apelidam de "criminoso". Após 16 anos de governo sem Saddam Hussein, os iraquianos parecem "cansados" da corrupção, da pobreza e da falta de serviços públicos de qualidade. "Não temos nada: não temos escolas, hospitais decentes, não há riqueza para as pessoas", afirma, em entrevista à Reuters, um dos jovens manifestantes, em Bagdad. "Já passaram 16 anos e não beneficiámos com as medidas deste governo: não há emprego, os serviços públicos são maus – não há sequer sistema de saneamento básico, que é elementar. Não há sequer água potável."

A Reuters foi ao encontro dos jovens iraquianos que se mantêm firmes em protesto, na capital iraquiana. "Não nos vamos embora – de Nasiriya a Amara, a Tahrir – ninguém se vai embora até que haja mudanças no governo", afirma um dos manifestantes.

"Só temos bandeiras nas nossas mãos, nada mais. Mas eles continuam a bater-nos. Já há, pelo menos, sete mártires aqui", diz o jovem manifestante Mohammad Said Yasseen à Reuters. "Não temos nada: não temos escolas, hospitais decentes, não há riqueza para as pessoas. Eles só sabem roubar — e roubam-nos, deixam-nos sem nada. Só pedimos educação e saúde. Temos de nos livrar dos políticos corruptos. Sem isso, não há solução. Queremos um estado de direito — não queremos partidos corruptos e políticos corruptos. Quero que seja esta juventude a governar-nos. Se não executarmos estes políticos corruptos, nunca seremos bem-sucedidos."
"Só temos bandeiras nas nossas mãos, nada mais. Mas eles continuam a bater-nos. Já há, pelo menos, sete mártires aqui", diz o jovem manifestante Mohammad Said Yasseen à Reuters. "Não temos nada: não temos escolas, hospitais decentes, não há riqueza para as pessoas. Eles só sabem roubar — e roubam-nos, deixam-nos sem nada. Só pedimos educação e saúde. Temos de nos livrar dos políticos corruptos. Sem isso, não há solução. Queremos um estado de direito — não queremos partidos corruptos e políticos corruptos. Quero que seja esta juventude a governar-nos. Se não executarmos estes políticos corruptos, nunca seremos bem-sucedidos." Ahmed Jadallah/Reuters
Hussein, manifestante iraquiano, posa durante os protestos anti-governo, em Bagdad, no Iraque. "Estamos a manifestar-nos pacificamente a favor dos direitos humanos", disse à Reuters. "Somos jovens e estamos cansados, as coisas não estão bem: não temos trabalho ou salários decentes (...) Não nos vamos embora — mesmo que os protestos durem 40 anos. Não sairemos daqui até cantarmos vitória."
Hussein, manifestante iraquiano, posa durante os protestos anti-governo, em Bagdad, no Iraque. "Estamos a manifestar-nos pacificamente a favor dos direitos humanos", disse à Reuters. "Somos jovens e estamos cansados, as coisas não estão bem: não temos trabalho ou salários decentes (...) Não nos vamos embora — mesmo que os protestos durem 40 anos. Não sairemos daqui até cantarmos vitória." Ahmed Jadallah/Reuters
"Temos de colocar um termo à opressão do povo iraquiano", afirma o jovem manifestante iraquiano Hamza, durante os protestos, a 11 de Novembro, em Bagdad.
"Temos de colocar um termo à opressão do povo iraquiano", afirma o jovem manifestante iraquiano Hamza, durante os protestos, a 11 de Novembro, em Bagdad. Ahmed Jadallah/Reuters
"Exijo os meus direitos. Nós queremos tudo (...) e havemos de conseguir atingir o nosso objectivo", diz o jovem manifestante Mortada, durante os protestos.
"Exijo os meus direitos. Nós queremos tudo (...) e havemos de conseguir atingir o nosso objectivo", diz o jovem manifestante Mortada, durante os protestos. Ahmed Jadallah/Reuters
Abadar sonha com um estado de direito, com um emprego e um salário decente. "O que queremos mesmo é emprego", diz. "Se Deus quiser, se nos mantivermos nas ruas, iremos conseguir fazer valer os nossos direitos."
Abadar sonha com um estado de direito, com um emprego e um salário decente. "O que queremos mesmo é emprego", diz. "Se Deus quiser, se nos mantivermos nas ruas, iremos conseguir fazer valer os nossos direitos." Ahmed Jadallah/Reuters
A manifestante Salwa Hussein está em protesto contra o governo iraquiano. "Não queremos este governo falhado, composto por ladrões de Alibaba", diz. "Não os queremos. Absolutamente. Com a força e o desejo de Deus, iremos conseguir removê-los se nos mantivermos nas ruas. Mesmo que só as mulheres fiquem, haveremos de lá chegar."
A manifestante Salwa Hussein está em protesto contra o governo iraquiano. "Não queremos este governo falhado, composto por ladrões de Alibaba", diz. "Não os queremos. Absolutamente. Com a força e o desejo de Deus, iremos conseguir removê-los se nos mantivermos nas ruas. Mesmo que só as mulheres fiquem, haveremos de lá chegar." Ahmed Jadallah/Reuters
Mohammed: "Mais de 250 pessoas morreram e muitas mais estão feridas. Os membros deste governo são criminosos, líderes de gangues que sequestram pessoas. Não os queremos ou a este governo. E não queremos que o Irão intervenha, não queremos que a América interfira. Não aceitamos qualquer interferência. Só queremos decidir sozinhos."
Mohammed: "Mais de 250 pessoas morreram e muitas mais estão feridas. Os membros deste governo são criminosos, líderes de gangues que sequestram pessoas. Não os queremos ou a este governo. E não queremos que o Irão intervenha, não queremos que a América interfira. Não aceitamos qualquer interferência. Só queremos decidir sozinhos." Ahmed Jadallah/Reuters
Hossam está nas ruas a lutar "pelos direitos de todos". "Quero sentir aquilo que outras pessoas sentem noutros países. Porque é que esses países, que foram fundados depois do Iraque, foram bem sucedidos e nós não? Somos um país rico em petróleo. Somos um país com petróleo e riqueza."
Hossam está nas ruas a lutar "pelos direitos de todos". "Quero sentir aquilo que outras pessoas sentem noutros países. Porque é que esses países, que foram fundados depois do Iraque, foram bem sucedidos e nós não? Somos um país rico em petróleo. Somos um país com petróleo e riqueza." Ahmed Jadallah/Reuters
Allawi é condutor de tuk-tuk, em Bagdad. "Estamos a exigir que nos livrem destes governantes corruptos, deste governo", disse à Reuters a 6 de Novembro. "Eles roubam-nos e nós, povo, somos todos pobres. Não nos vamos embora. Se isto durar um ano, iremos permanecer."
Allawi é condutor de tuk-tuk, em Bagdad. "Estamos a exigir que nos livrem destes governantes corruptos, deste governo", disse à Reuters a 6 de Novembro. "Eles roubam-nos e nós, povo, somos todos pobres. Não nos vamos embora. Se isto durar um ano, iremos permanecer." Ahmed Jadallah/Reuters
Hamza protesta contra a corrupção. "Estes políticos não nos apresentaram quaisquer soluções ao seu povo. Se Deus quiser, as nossas reivindicações serão atendidas se continuarmos com o protesto."
Hamza protesta contra a corrupção. "Estes políticos não nos apresentaram quaisquer soluções ao seu povo. Se Deus quiser, as nossas reivindicações serão atendidas se continuarmos com o protesto." Ahmed Jadallah/Reuters
Manifestante iraquiano segura uma bandeira iraquiana diante os protestos anti-governo, em Bagdad
Manifestante iraquiano segura uma bandeira iraquiana diante os protestos anti-governo, em Bagdad Ahmed Jadallah/Reuters
Ahmed nasceu em 1992. "Estudei e terminei o 12º com a média mais alta da minha turma, mas não há nenhuma universidade que me aceite. E mesmo quem tira um curso superior não encontra emprego. O meu amigo Hussein licenciou-se em Tradução de Inglês e não arranja emprego. Mesmo para conseguir trabalho à jorna é necessário cunha. (...) O governo é totalmente corrupto. Já passaram 16 anos e não beneficiámos com as suas medidas: não há emprego, os serviços públicos são maus — não há sequer sistema de saneamento básico, que é elementar. Não há sequer água potável."
Ahmed nasceu em 1992. "Estudei e terminei o 12º com a média mais alta da minha turma, mas não há nenhuma universidade que me aceite. E mesmo quem tira um curso superior não encontra emprego. O meu amigo Hussein licenciou-se em Tradução de Inglês e não arranja emprego. Mesmo para conseguir trabalho à jorna é necessário cunha. (...) O governo é totalmente corrupto. Já passaram 16 anos e não beneficiámos com as suas medidas: não há emprego, os serviços públicos são maus — não há sequer sistema de saneamento básico, que é elementar. Não há sequer água potável." Ahmed Jadallah/Reuters
"Queremos fazer cair o governo. Exijo os meus direitos em nome do meu irmão que foi assassinado aqui, nesta ponte." Mohammad continua: "Eles estão a matar-nos e nós limitamo-nos a manifestar-nos pacificamente. Eles estão a disparar com munição real."
"Queremos fazer cair o governo. Exijo os meus direitos em nome do meu irmão que foi assassinado aqui, nesta ponte." Mohammad continua: "Eles estão a matar-nos e nós limitamo-nos a manifestar-nos pacificamente. Eles estão a disparar com munição real." Ahmed Jadallah/Reuters
Abeer é médica voluntária e está presente nos protestos anti-governo, em Bagdad, a 11 de Novembro.
Abeer é médica voluntária e está presente nos protestos anti-governo, em Bagdad, a 11 de Novembro. Ahmed Jadallah/Reuters
Haider Khalaf Mahmoud está em protesto para "fazer cair o governo", disse à Reuters. "Exijo direitos para as pessoas que foram feridas, que morreram, para o país que eles continuam a roubar. Eles têm de sair. O governo tem de cair para vermos as nossas exigências cumpridas. Nós vamos ficar aqui, não nos vamos embora até conseguirmos."
Haider Khalaf Mahmoud está em protesto para "fazer cair o governo", disse à Reuters. "Exijo direitos para as pessoas que foram feridas, que morreram, para o país que eles continuam a roubar. Eles têm de sair. O governo tem de cair para vermos as nossas exigências cumpridas. Nós vamos ficar aqui, não nos vamos embora até conseguirmos." Ahmed Jadallah/Reuters
Yasir 'Idan não tem nada. "Nem sequer um salário", desabafa. "Eles não disseram que nos iam dar salários logo após a última vaga de protestos? Bem, nada aconteceu, são uns mentirosos. Não nos vamos embora – de Nasiriya a Amara, a Tahrir – ninguém se vai embora até que haja mudanças no governo."
Yasir 'Idan não tem nada. "Nem sequer um salário", desabafa. "Eles não disseram que nos iam dar salários logo após a última vaga de protestos? Bem, nada aconteceu, são uns mentirosos. Não nos vamos embora – de Nasiriya a Amara, a Tahrir – ninguém se vai embora até que haja mudanças no governo." Ahmed Jadallah/Reuters
Rand Mohammad é médica voluntária. "Estamos aqui para ajudar os nossos irmãos. Não há empregos, não há água, electricidade, as pessoas estão a morrer de fome. Temos de ficar aqui até conseguirmos o que queremos. Pacificamente. Mesmo que demore muito."
Rand Mohammad é médica voluntária. "Estamos aqui para ajudar os nossos irmãos. Não há empregos, não há água, electricidade, as pessoas estão a morrer de fome. Temos de ficar aqui até conseguirmos o que queremos. Pacificamente. Mesmo que demore muito." Ahmed Jadallah/Reuters
Hussein Karim Hashem está nas ruas para "mudar a classe dirigente – toda". "[O primeiro-ministro] Adel Abdul Mahdi, o [Presidente do Parlamento Mohammad] al-Halboosi e outros. São todos corruptos. Estou aqui pelos meus direitos, para receber dinheiro, salário. Sou licenciado e não tenho emprego. Queremos livrar-nos de todos estes líderes."
Hussein Karim Hashem está nas ruas para "mudar a classe dirigente – toda". "[O primeiro-ministro] Adel Abdul Mahdi, o [Presidente do Parlamento Mohammad] al-Halboosi e outros. São todos corruptos. Estou aqui pelos meus direitos, para receber dinheiro, salário. Sou licenciado e não tenho emprego. Queremos livrar-nos de todos estes líderes." Ahmed Jadallah/Reuters