Espécie rara de abutre avistada pela Palombar no concelho de Mogadouro

A Palombar registou a presença de um grifo-de-rüppell em Bragança. A espécie, que está ameaçada devido às alterações climáticas, tem sido avistada com mais frequência na Península Ibérica. A Europa poderá passar a ter uma quinta espécie de abutre “ameaçada globalmente”, acreditam especialistas.

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O abutre avistado é da espécie grifo-de-rüppell Regis Duvignau/Reuters

Investigadores da Palombar, uma associação transmontana que se dedica à conservação da natureza, registou a presença de um “raro” grifo-de-rüppell (Gyps rueppellii), em Bruçó, no concelho de Mogadouro, em Bragança, revelou hoje à Lusa o biólogo José Pereira. “Trata-se de uma espécie de ave rupícola (grifo/abutre) que se encontra ameaçada no mundo, tendo sido registada a sua presença num campo de alimentação para aves necrófagas em Bruçó, em Pleno Parque Natural do Douro Internacional [PNDI]”, indicou o técnico da Palombar.

Os técnicos referiram que o avistamento do abutre havia sido registado por câmaras de armadilhagem fotográfica no passado dia 19 de Junho, num campo de alimentação para aves necrófagas em Bruçó, no concelho de Mogadouro, gerido pela Palombar, no âmbito do projeto LIFE Rupis. “A Palombar confirmou que se tratava de um indivíduo da espécie Gyps rueppellii, tendo consultado outros especialistas em abutres, que deram igualmente um parecer afirmativo, corroborando que, de facto, se trata de um grifo-de-rüppell”, frisou José Pereira.

Segundo vários especialistas envolvidos no projecto, devido às “alterações climáticas que se verificam e à progressiva ‘africanização’ do clima na Península Ibérica, muitas espécies de aves africanas parecem estar a colonizar este território, incluindo alguns abutres”. Em Setembro de 2018, a Palombar anunciava o avistamento, também no PNDI, de uma outra “espécie rara”, uma águia-imperial-ibérica, igualmente no âmbito do projeto LIFE Rupis.

Segundo o biólogo, esta espécie encontra-se principalmente na África central e habita sobretudo na savana aberta e árida, em áreas semidesérticas, em zonas limites do deserto e em zonas de montanha. Apesar de ainda não existirem registos definitivos que comprovem a ocorrência de reprodução dessa espécie na Europa, o grifo-de-rüppell tem sido avistado com cada vez mais frequência na Península Ibérica, acreditam os técnicos ligados à conservação da natureza: “O grifo-de-rüeppell é uma espécie de abutre africana que chegou ao Douro Internacional”, vincou José Pereira.

Para os ambientalistas e técnicos da conservação da natureza, a Europa poderá passar a ter uma quinta espécie de abutre “ameaçada globalmente” no seu território. Segundo a associação, os campos de alimentação para aves necrófagas “são fundamentais para assegurar a conservação de espécies de aves com hábitos alimentares necrófagos”: “Isto porque uma das principais ameaças que estas aves enfrentam é a falta de disponibilidade de alimento, agravada com a chamada crise das ‘Vacas Loucas’, que levou a que as carcaças de gado não pudessem mais ficar no campo. Esta sempre foi a principal fonte de alimentação das aves necrófagas “, indicam estudos da Palombar.

O projecto Life Rupis, lançado há cerca de quatro anos por nove entidades ibéricas ligadas à conservação da natureza no Douro Internacional, apresenta resultados “positivos”, nomeadamente no reforço da população de aves como a águia-perdigueira e o britango. O projecto teve início em Julho de 2015 e tem uma duração de quatro anos, estando dotado com um financiamento de 3,5 milhões de euros, comparticipado a 75% pelo programa LIFE da União Europeia e cabendo os restantes 25% aos nove parceiros envolvidos: a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Associação Transumância e Natureza, Palombar, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, Junta de Castilla y León, Fundación Patrimonio Natural de Castilla y León, Vulture Conservation Foundation, EDP Distribuição e GNR.

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