Primeiro-ministro polaco acusa Netflix de deturpar o papel do seu país no Holocausto

Em causa está a mini-série documental de cinco episódios The Devil Next Door, estreada no início de Novembro, sobre o julgamento de um criminoso nazi e os campos de extermínio dos judeus.

John Demjanjuk no julgamento em Munique, em 2011
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John Demjanjuk no julgamento em Munique, em 2011 Lukas Barth/ REUTERS
,Campo de extermínio de Sobibor
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Cartão de John Demjanjuk no campo polaco de Trawniki EPA/ZST LUDWIGSBURG

O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, divulgou esta segunda-feira, na sua página no Facebook, um protesto contra a Netflix, acusando-a de “reescrever a História” e de envolver o seu país no extermínio dos judeus. Em causa está a mini-série documental de cinco episódios The Devil Next Door, que esta plataforma de exibição audiovisual estreou no início deste mês sobre a história de John Demjanjuk (1920-2012), um antigo guarda nazi nascido na Ucrânia, emigrado em Cleveland, nos EUA, e que em 2009 foi deportado para a Alemanha, julgado e em 2011 condenado pela sua participação no Holocausto.

Na declaração endereçada ao CEO da Netflix, Reed Hastings, o governante polaco acusa o documentário de deturpar o real papel do seu país, dado “como responsável pelos campos da morte”, quando, na verdade, a Polónia foi ocupada pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial. “Durante o tempo descrito pela série The Devil Next Door, a Polónia era um território ocupado, e foi a Alemanha nazi a responsável pelos campos [de extermínio]”, escreve Morawiecki, acrescentando no Facebook um mapa da Europa no final de 1942, a justificar o seu protesto.

Num mapa mostrado na série da Netflix, os campos de concentração de Chelmno, a norte de Lodz, e de Majdanke, a sul de Lublin, são situados dentro do território polaco, que na realidade foi invadido pelas tropas de Adolf Hitler em 1939, dando início à guerra.

O primeiro-ministro polaco lamenta que o documentário não explique que esses e outros campos de extermínio, como o de Auschwitz-Birkenau, “foram geridos pela Alemanha”, e acrescenta que a série “engana os espectadores”, levando-os a acreditar que foi a Polónia a responsável por eles. “Como o meu país nem existia, à época, como um Estado independente, e milhões de polacos foram assassinados nesses campos, esse elemento de The Devil Next Door não é nada menos do que reescrever a História”, diz Morawiecki. Mas admite que esse “erro terrível tenha sido cometido sem intenção”, e pede a sua reparação.

Em declaração à agência Reuters, um responsável da Netflix disse que a empresa “está consciente do problema” relativo ao documentário, dando a entender que o protesto do primeiro-ministro polaco seria atendido.

The Devil Next Door é uma mini-série de cinco episódios com entre 44 e 52 minutos, realizada pelos cineastas israelitas Yossi Bloch e Daniel Sivan.

A questão do envolvimento da Polónia nas atrocidades cometidas durante o nazismo e na II Guerra Mundial é um tema muito sensível no país, como ainda recentemente se observou quando da atribuição do Nobel da Literatura (ex aequo com o austríaco Peter Handke) à escritora polaca Olga Tokarczuk, que tem sido criticada por questionar o papel do seu país no assassínio de judeus no Holocausto.

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