A paixão segundo Raduan Nassar

Apaixonou-se várias vezes, a mais forte foi pela literatura. Abandonou-a há 30 anos, após três livros e após ser considerado um dos grandes autores de língua portuguesa. Tornou-se agricultor, declarou que não voltaria a falar de literatura e só quebrou o silêncio pela política. Não ganhou. Aos 83 anos, num dia de Setembro, Raduan Nassar abriu-nos a porta.

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Como será Pindorama, a terra das palmeiras? “Era cortada por um rio, o rio São Domingos, e nela havia duas colinas. Uma era ligada a um município e outra a outro município, até que houve uma unificação. Eu estava do lado que se chamava Areia Branca; o outro lado, o mais rico, era pejorativamente chamado de ‘asilo’.” A voz soa à de um narrador à distância de um tempo e de um lugar a que não voltou nos últimos 30 anos. Pindorama, palavra que no idioma tupi-guarani significa “terra das palmeiras”, é o território das primeiras memórias de Raduan Nassar, o escritor que “já não é”, o que se esquiva a falar de si e do que escreveu, que rejeita entrevistas em que o tema seja a literatura, mas que ainda assim cede, escolhendo palavras que aos poucos iluminam uma escuridão densa — a do seu projecto literário ou os motivos que o levaram a abandonar a escrita — e deixam adivinhar contornos, como velas numa assoalhada à noite.

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