Bloggers portugueses desclassificados de concurso da Momondo por usarem “votos fraudulentos”

Os bloggers a concurso partilham maioritariamente conteúdos sobre viagens. Os autores da fraude já foram desqualificados.

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Vasco Célio

Um conjunto de bloggers portugueses que partilha conteúdos sobre viagens foi esta semana desqualificado do concurso Bloggers’ Open World Awards, do site turístico Momondo, por terem utilizado “votos fraudulentos” para chegarem aos primeiros lugares de várias categorias da competição.

Contactada pela Fugas, fonte do gabinete de Relações Públicas da empresa afirmou que, depois de verificar internamente o sucedido, a Momondo detectou “alguns casos de votos fraudulentos, que constituíam uma situação de incumprimento dos termos e condições do concurso”. Depois do contacto da Fugas, a página do concurso passou a exibir uma mensagem onde se explica que, “de modo a manter a justiça do concurso”, a empresa “exerceu o seu direito de desqualificar os participantes afectados”.

Esta é a terceira edição do Bloggers’ Open World Awards​, o concurso que tem como objectivo premiar os bloggers de viagem que, através de textos, fotografias ou vídeos, “inspiram outras pessoas a viajar”. Além de uma categoria (e prémio) para cada um destes meios, mantém-se a categoria Open World, à qual é possível concorrer mesmo que o blogue não seja só sobre viagens.

Qualquer blogger com nacionalidade ou residência em Portugal podia concorrer. Assim que foi encerrada a fase de inscrições, abertas até 22 de Setembro, os participantes validados pela organização foram a votação do público. Os dez participantes mais votados pelo público e até dois participantes nomeados pela Momondo em cada categoria devem seguir para a fase final, na qual o jurado designado escolherá o vencedor.

As votações online do público terminaram a 13 de Outubro e foi fechada esta semana a selecção dos finalistas de cada categoria. Questionada sobre a forma como foi detectado este problema, a mesma fonte da Momondo afirmou que, como já é “prática normal em qualquer competição desta natureza”, existe um período de validação das candidaturas e dos votos, depois de as respectivas fases terminarem. “Fazemos uma monitorização constante para identificar potenciais votos fraudulentos e/ou de outros indicadores de votos não orgânicos”, explicou por e-mail.

A Momondo não confirma se foram criados e-mails falsos para votação no concurso, avança apenas que detectou “alguns casos de votos fraudulentos, que estavam em incumprimento dos termos e condições do concurso”.

A empresa de viagens não divulgou quantos bloggers participaram no total nesta edição do concurso, quantos casos foram detectados ou os nomes dos respectivos concorrentes envolvidos, mas garante que os visados já foram desqualificados e “receberam a comunicação durante o período de validação dos votos”. “Por uma questão de transparência e justiça de todas as partes envolvidas no concurso, os envolvidos na fraude ​já não constam da lista disponívelno site turísticoexplicou fonte da Momondo, avançando ainda que o problema não afectou o calendário normal do concurso. Está planeado que os galardões sejam anunciados e entregues a 13 de Novembro, numa gala em Lisboa.

Como são gerados votos fraudulentos?

A técnica com votos fraudulentos realizados através do e-mail é semelhante à de comprar seguidores nas redes sociais, e é relativamente fácil encontrar sites com serviços para aumentar o número de seguidores. São cerca de três euros para 100 novos seguidores, 40 euros para cinco mil. Em grande parte dos casos, não são humanos. Muitos são programas de computador – bots – que não comentam o conteúdo, nem deixam likes, logo têm um comportamento considerado “fora do normal” que muitas vezes acaba por ser detectado.

Como explicou Maddie Raedts, fundadora da Imagency, uma agência internacional de marketing digital ao PÚBLICO, “já há formas para determinar se os seguidores de um influenciador são fraudulentos”. “É importante ver o rácio de interacção e o número de seguidores. Se um influenciador tem quatro milhões de seguidores, mas apenas 50 comentários, é sinal de que algo não está bem.” Recentemente, a multinacional Unilever – dona de marcas como a Dove, a Knorr e a Olá, entre outras – cortou relações com os utilizadores populares nas redes sociais que pagavam para ter mais seguidores.

Para votação por e-mail existem várias estratégias que acabam por violar os termos e condições de muitos concursos. A utilização do mesmo IP várias vezes ou o tempo que demora a submeter o voto (votos submetidos em menos de dois segundos são, provavelmente, de bots) podem ser sinais de fraude. Para sistemas de votação que não pedem uma confirmação por e-mail para cada voto, existem vários mecanismos para gerar e-mails rapidamente e de forma temporária, como o Temp-mail. Outra das técnicas que pode ser utilizada é a criação de várias contas em múltiplos servidores de e-mail, como o Gmail, Hotmail e Yahoo.

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