Empresa espalhou trotinetes em Matosinhos sem autorização

A Hive, segunda operadora de trotinetes que circulará no concelho, ainda não assinou memorando com a autarquia. Só depois disso poderá operar. Câmara diz que houve um “lapso”.

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Nuno Ferreira Monteiro

Quando em Abril deste ano em Matosinhos a autarquia anunciou o primeiro serviço de trotinetes eléctricas a operar no município adiantou-se que este seria o primeiro operador de outros que futuramente entrariam no mercado. Seis meses depois, nesta quarta-feira, parecia ter chegado o dia em que à Circ, a primeira empresa a arrancar com a operação, se juntaria outra concorrente. Em vários pontos da cidade foram instalados cerca de 100 novos veículos do mesmo género com o logótipo da Hive, marca que opera noutros concelhos do país e se estrearia agora em Matosinhos. Porém, este negócio teve um revés e teve de ser adiado para outra altura. Demorou apenas um dia para que as trotinetes desta última empresa fossem recolhidas – apesar de já estar acertada a entrada deste operador ainda não há autorização da câmara para poder circular.

Às duas partes – município e Hive - falta assinar o memorando de entendimento para os operadores de trotinetes/bicicletas eléctricas sem doca elaborado pela autarquia em Maio de 2019, que define as regras de circulação destes veículos dentro do concelho. Sem este documento assinado, o mesmo que a Circ assinou para poder operar, não é permitida a circulação de qualquer operador.

Ao PÚBLICO a câmara diz que o entendimento será formalizado na próxima semana. Até lá as trotinetes da Hive não podem circular em Matosinhos. Há uma excepção - as que estão disponíveis na Lionesa não foram recolhidas. A autarquia diz que estas não circularão em espaço público, mas sim apenas dentro do centro empresarial.

Apesar de o memorando não ter sido assinado, as trotinetes foram instaladas em vários pontos. Uma centena de veículos foram espalhados pelas ruas sem que a câmara tivesse dado por isso. Diz a autarquia que foi “surpreendida” e só tomou conhecimento do sucedido após ter sido avisada por fonte não divulgada. Depois disso mandou recolher os veículos.

O que terá motivado a empresa a colocar o serviço em marcha sem autorização? A autarquia afirma tratar-se de um “lapso” do operador. Até ao fecho da edição, a Hive, contactada pelo PÚBLICO via e-mail, não respondeu. A Circ, actualmente o único operador a funcionar, convidado a comentar o sucedido preferiu não pronunciar-se.

O regulamento definido pelo município obriga a que os veículos correspondam a uma série de normas de segurança para os quais algumas trotinetes não estão preparadas. Porque em Matosinhos grande parte dos pavimentos das rodovias são feitos de cubos de granito estes veículos devem ter suspensão hidráulica, travões mecânicos e rodas de 10 polegadas. O PÚBLICO sabe que as trotinetes que foram recolhidas, do modelo Ninebot, não obedecem a estas normas.

A autarquia garante que quando o operador estiver a funcionar cumprirá todas as normas, assim como as metas com vista à descarbonização. Quando a Circ iniciou a operação, na altura com a designação de Flash, aderiu ao programa de compensações por emissões de carbono evitadas desenvolvida pelo CEiiA - Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel. Este programa prevê a troca das emissões de CO2 poupadas por créditos transaccionáveis – os AYR – que podem ser trocados por serviços, em compras ou mesmo em tempo de aluguer dos veículos.

Quando a serviço de scotter sharing operado pela WYZE Mobility iniciou funções no concelho em Setembro também o fez ao abrigo destas normas. As trotinetes do novo operador também estão sujeitas às mesmas regras, aderindo também ao programa em marcha noutras cidades como Vila Nova de Gaia.

Dados do CEiiA adiantam que entre 1 de Junho e 31 de Agosto, em Matosinhos, foram percorridos cerca de 130,8 mil quilómetros à boleia das trotinetes, que se traduzem em 120 mil AYRs gerados, que potencialmente equivale a 12 toneladas de CO2 evitadas. Em Gaia percorreram-se cerca de 62 mil quilómetros, geraram-se quase 57 mil AYRs e evitou-se em potência 5,69 toneladas de CO2.

A autarquia de Matosinhos diz estar aberta a mais operadores, mas para isso terão que cumprir as mesmas regras.

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