Guterres ordena medidas de contenção na ONU devido à crise financeira da organização

Escadas rolantes paradas, ar condicionado mais baixo, menos reuniões - são algumas das medidas que o secretário-geral adoptou a partir de segunda-feira para reduzir as despesas.

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As operações da organização estão em causa, disse Guterres Reuters/RAFAEL MARCHANTE

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, ordenou nesta sexta-feira a adopção de medidas que vão “afectar as condições de trabalho e as operações” da organização, devido às dificuldades financeiras que está a enfrentar. As medidas de contenção entram em vigor na segunda-feira.

Entre as medidas de António Guterres estão o cancelamento de reuniões, a paragem das escadas rolantes, a limitações em viagens oficiais, o adiamento da divulgação de documentos e o aquecimento ou ar condicionado regulado para pouco gasto.

Estas medidas vão ser aplicadas nas sedes da ONU e nas suas instalações em todo o mundo, e visam enfrentar a pior crise financeira da organização em quase uma década.

António Guterres disse, numa carta aos chefes de todas as entidades da ONU, que as medidas de emergência “vão afectar as condições e operações de trabalho até novas informações”.

O secretário-geral alertou no início da semana que a organização internacional pode ficar sem dinheiro até ao final de Outubro, afirmando que estavam a ser consideradas medidas para garantir o pagamento de salários até ao final do ano.

Guterres admitiu que o orçamento operacional da ONU regista, desde finais de Setembro, um défice financeiro na ordem dos 230 milhões de dólares (cerca de 209 milhões de euros) e que “as últimas reservas de tesouraria podem esgotar até ao final do mês”.

“Até à data, os Estados-membros pagaram apenas 70% do montante total necessário para as actividades inscritas no orçamento ordinário de 2019”, disse Guterres, acrescentando que “escreveu aos Estados-membros em 4 de Outubro para lhes explicar que as actividades financiadas via orçamento ordinário” estavam “num estado crítico”.

Não é a primeira vez que Guterres, que assumiu a liderança da ONU em Janeiro de 2017, faz este alerta sobre a saúde financeira da organização.

No Verão de 2018, o secretário-geral disse, numa carta enviada aos embaixadores dos 193 países-membros, que a ONU estavam perto de ficar sem dinheiro e em causa estavam “atrasos no pagamento” das contribuições devidas pelos Estados-membros.

Nessa altura foi avançado que dos 193 países apenas 112 tinham pagado as suas contribuições atempadamente.

Guterres falava então numa “situação financeira problemática” e que os recursos financeiros da organização nunca tinham estado num nível “tão em baixo tão cedo”.

O orçamento operacional das Nações Unidas para 2018-2019, sem contar com as dotações para as missões de manutenção da paz da ONU, ronda os 5,4 mil milhões de dólares (cerca de 4,9 mil milhões de euros).

Os Estados Unidos de Donald Trump, que têm assumido uma postura dura e crítica em relação à organização, é o principal contribuinte da ONU, assumindo 22% das contribuições.

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