Milhares de professores juntam-se em Lisboa: “Próximo Governo vai ter que lidar connosco”

Em dia de reflexão, professores celebram Dia Mundial do Professor com uma concentração em Lisboa. Fenprof diz que não há razão para não desfilar: “nunca viemos apelar ao voto em alguém em manifestações”.

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Cada bandeira, sua cor e sua reivindicação. “Concursos justos": roxo; “aposentações justas": preto; “municipalização não": vermelho; “gestão participada": castanho. Este sábado foi dia de reflexão mas também Dia Mundial do Professor, por isso a classe decidiu organizar uma concentração e marcha em Lisboa, com início no Marquês de Pombal e final no Rossio.

De várias partes do país, milhares de professores desceram a Avenida da Liberdade com as suas reivindicações a serem expressas de forma mais contida do que o habitual — mas não silenciadas, como se verificou.

“Isto não é uma manifestação, é um desfile”, avisava ao PÚBLICO a professora Isabel Jesus, que veio de Viseu, com o cachecol ao pescoço no qual tinha a inscrição Dia Mundial do Professor e as siglas FNE — Federação Nacional dos Sindicatos de Professores.

Ao seu lado, Amador Oliveira referia que o objectivo era ter o máximo cuidado para não correrem o risco de ir contra a lei eleitoral. “Queremos que seja um desfile elevado”, afirmou.

Com uma bandeira e t-shirts amarelas do Sepleu - Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados, Stela Aparício, educadora de infância, falava igualmente em contenção. “O momento é para que as pessoas percebam que há esta união e que a luta não acabou”. E para passar a mensagem: “O próximo Governo vai ter que lidar connosco.”

“Nunca apelámos ao voto”, diz Fenprof

A expectativa em relação a esta concentração era grande, sobretudo por acontecer em dia de reflexão. Em Setembro, a Comissão Nacional de Eleições disse que enviaria para o Ministério Público qualquer violação à lei eleitoral que proíbe actos de propaganda eleitoral no dia de reflexão para as eleições legislativas.

O 5 de Outubro é Dia Mundial dos Professores, criado pela UNESCO em 1994 para chamar a atenção da importância do seu papel. A Fenprof, o maior sindicato de professores português, avisara que não ia haver discursos — e assim foi. Na altura o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, afirmou: “É um acto público anual neste dia e não deve deixar de ser por haver eleições”. 

Entre as faixas da Fenprof, a descer a Avenida da Liberdade ao lado de João Dias da Silva, da Federação Nacional de Educação (FNE), Mário Nogueira afirmava ao PÚBLICO: “O Dia Mundial do Professor é hoje. E também não era um problema [acontecer em dia de reflexão] porque nunca viemos apelar ao voto em alguém ou contra alguém nas manifestações”.

Mas a política não ficou de fora. Conceição Figueira e Amélia Vaz trazem t-shirts em que há uma bola com uma das reivindicações que marcou a “luta” dos professores: a recuperação integral do tempo de serviço congelado. Em Maio o Parlamento negou a recuperação dos nove anos, quatro meses e dois dias exigidos pelos professores.  “Esta reivindicação não é de agora”, afirma Conceição Figueira, vem do “tempo de Passos Coelho”. “Não estamos a apelar ao voto, estamos a denunciar uma situação”, continua. Amélia Vaz completa: “Os partidos e a classe política devem olhar para nós como aliados e não como opositores. Vão ter de lidar com tudo o que é educação neste país e os professores fazem parte do sistema”.

Rejuvenescimento da classe

Este ano o lema do dia escolhido pela Internacional da Educação — que reúne organizações sindicais de todo o mundo — foi o rejuvenescimento e valorização da profissão e por isso os sindicatos aproveitaram o momento para marcar algumas das suas principais reivindicações. O tema do envelhecimento da classe profissional esteve várias vezes na agenda do “desfile”. A professora Júlia Fonseca, da Guarda, afirma: “A nossa geração está desgastada e chegou a altura de darmos lugar aos novos”. Também Conceição Figueira e Amélia Vaz, de Castelo Branco, afirmam: “Temos 48 e 50 anos e somos as mais novas nas escolas. Alguma coisa está mal”.

Numa mensagem conjunta publicada na página da Internet da Fenprof, organizações como a UNESCO e a UNICEF escrevem que “sem uma nova geração de professores motivados, milhões de alunos serão privados ou continuarão a ser privados do seu direito a uma educação de qualidade”. E sublinham que “como o ensino é uma profissão mal remunerada e subvalorizada, é muito difícil atrair e reter talentos.”

No final do desfile, junto à estátua de D. Pedro IV no Rossio, os diversos líderes sindicais proferiram “saudações” e alguns referiram a particularidade de este momento coincidir com o dia de reflexão. Lembraram-se algumas das exigências que têm marcado esta legislatura e foi aprovada uma moção para entregar ao próximo Governo e aos partidos com assento parlamentar com várias exigências como um regime especial de aposentação, a revisão dos horários de trabalho, o combate à precariedade ou a recuperação integral do tempo de serviço congelado. “O próximo Governo ficará a saber que estes são os aspectos que queremos negociar. Não se dirige a nenhum partido, dirige-se a todos”, dissera momentos antes ao PÚBLICO Mário Nogueira.  A concentração terminou pelas 17h, com o hino de Portugal. 

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