Vietname: Dois dias em Hué

O leitor Augusto Lemos partilha a sua experiência no Vietname.

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Augusto Lemos

Em Hué, o nosso hostel ficava na rua Ngo Quyen. O nosso quarto era num quarto andar, sem elevador, com a agravante de haver mais um andar entre o primeiro e o segundo, outro entre o segundo e o terceiro e mais outro entre o terceiro e o quarto.

Quando chegámos, à noite, o quarto estava um forno. Liguei o ar condicionado e uma ventoinha. O quarto tinha uma varanda e era nesta varanda que estavam fixados os neónes azuis e vermelhos que acendiam e apagavam e que anunciavam o hostel. Mesmo com as cortinas fechadas a luz entrava pelo quarto.

A ventoinha era grande e fazia muito barulho. Às tantas, eu já na cama, comecei a associar o barulho da ventoinha a helicópteros, a lembrar-me do Apocalypse Now, do quarto do capitão Martin Sheen, de The End, de Jim Morrison. E não conseguia dormir.

Ao jantar tínhamos ido ao Park View Hotel. Atraiu-nos o facto de estarem muitos vietnamitas a jantar e em algumas mesas tinham pratos tipo tapas, para partilhar. Na mesa ao lado de onde nos sentámos estavam seis ou sete vietnamitas, na casa dos trinta anos. Alguns bem bebidos de cerveja mas muito simpáticos.

Às tantas perguntaram-nos de onde éramos: bô dâo nha (que significa Portugal). Logo a seguir todos falam do Cristiano, o nosso grande cartão-de-visita. Às tantas um deles aponta para mim e diz: “Calito, Calito, you seem Calito.” Não percebi nada na altura. Só mais tarde é que fiquei a saber das minhas parecenças com o treinador Henrique Calisto, que também tem bigode e cabelo grisalho e foi treinador da selecção vietnamita.

O empregado trouxe um menu novinho em folha. Tinha ar de nunca ter sido usado. Os petiscos que os da mesa ao lado estavam a compartilhar não constavam nele. Aí percebemos tudo: havia dois menus, um para vietnamitas e outro para turistas estrangeiros. Comemos um hambúrguer em prato com cerveja. Não é que fosse demasiado caro mas não é espaço que eu recomendo a quem vá a Hué. Um dos da mesa ao lado, o que falava melhor inglês, indicou-nos um restaurante de comida vietnamita. Foi lá que fomos no dia seguinte.

O restaurante chama-se Quán Hanh e fica na rua Phó Dóc Chinh 11-15. O restaurante não é bom, é excelente. Por 120 dongs (equivalente a 4,80€) por pessoa dá para comer cinco entradas: bánh béo; bánh khoai; nem lui; bánh cuonthit nuong e nem ran. As cinco entradas estão propositadamente escritas em vietnamita para suscitar a curiosidade de quem estiver a ler esta crónica. E hoje em dia é muito fácil traduzir.

As cinco entradas, ou cinco pequenos pratos, como lhes quisermos chamar, são excelentes, com sabores variados e muito diferentes dos a que estamos habituados. A cerveja custa 70 cêntimos. 

Em Hué, como costumo fazer noutras cidades que visito, selecciono dois ou três locais para visitar e o resto do tempo gasto-o a passear pelas ruas e pelos mercados, a ouvir e sentir as gentes, o palpitar de uma cidade. Entretenho-me também a fotografar a cidade à minha maneira. Em Hué fui visitar o Pagode de Thien Mu, um templo histórico de sete andares que é o edifício religioso mais alto do Vietname. Fomos lá de barco pelo calmo rio Perfume.

O outro local que visitámos foi a Cidade Imperial. Esta cidade foi criada à imagem da Cidade Proibida, em Pequim, embora de dimensão mais reduzida. Foi criada nos inícios do século XIX pelo imperador Gia Long. No interior da Cidade Imperial ficava a Cidade Proibida Púrpura, zona reservada para o uso exclusivo da Família Imperial Nguyen. Os imperadores sucederam-se até meados do século XX.

Em 1966 a Cidade Imperial de Hué foi destruída por bombardeamentos norte-americanos. Alguns edifícios sobreviveram, como o Templo Thai Hoa ou o Templo Can Thanh. Muitos outros edifícios estão a ser reconstruídos.

Esta cidade, que foi a capital do Vietname até 1945, foi classificada em 1993 como Património da humanidade pela UNESCO.

Augusto Lemos

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