Autoridades nigerianas resgatam centenas de crianças torturadas de suposta escola islâmica

A polícia nigeriana resgatou mais de 400 homens e crianças do sexo masculino de um edíficio descrito como uma escola islâmica no norte da Nigéria. Pelo menos dez crianças já foram hospitalizadas.

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Várias das crianças resgatas tinham cicatrizes nas costas Reuters/AFOLABI SOTUNDE
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Kaduna
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Pelo menos 400 homens e crianças do sexo masculino foram resgatados esta semana de um edifício na cidade de Kaduna, no norte da Nigéria, onde eram mantidos em cativeiro, sem comer. Muitas das vítimas foram encontradas presas a radiadores, pneus de carros e várias tinham cicatrizes e sinais visíveis de serem sido chicoteadas. Os mais novos tinham apenas cinco anos. 

Na manhã de sábado, mais de uma dúzia das vítimas em cativeiro, incluindo dez crianças, já tinham sido hospitalizadas. Todos os adultos estavam em condições críticas —um dos homens vomitava sangue. As autoridades nigerianas ainda estão a tentar registar todas as vítimas para poder contactar os respectivos familiares, alguns a viver fora do país. 

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Várias crianças mostravam cicatrizes visiveis nas costas AFOLABI SOTUNDE/Reuters

O caso de maus tratos foi desvendado durante uma rusga da polícia nigeriana na passada quinta-feira após denúncias sobre actividade suspeita na região. Em declarações à agência Reuters e à BBC, as autoridades dizem acreditar que o espaço funcionava com o pretexto de ser uma escola islâmica. Numa placa no portão no exterior do edifício, coberta de arame farpado, lê-se “Centro Imam Ahmad Bun Hambal para Estudos Islâmicos”.​ Em declarações à agência Reuters, o porta-voz da polícia, Yakubu Sabo diz, no entanto, que o “tratamento desumano” descoberto no edifício torna impossível considerar o espaço uma escola islâmica. 

Oito pessoas suspeitas de estarem envolvidas no caso, na sua maioria professores, foram detidos. Os relatos em jornais e televisões locais falam ainda de casos de crianças que foram torturadas e abusadas sexualmente, mas as autoridades não confirmam os incidentes.

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Muitos dos homens e rapazes encontrados estavam acorrentados Policia da Nigéria

Filas enormes

As vítimas em estado menos grave estão a ser socorridas e registadas em centros de acolhimento provisório, perto do local. O estádio Ahmadu Bello, com capacidade para 16 mil pessoas, é um dos espaços utilizados onde se podem ver enormes filas com crianças e jovens à espera da oportunidade de indicarem o nome junto das autoridades. À hora da refeição, muitas já brincam e riem entre si de acordo com relatos de jornalistas no local. 

Até à manhã de sábado, apenas tinham sido registadas 190 pessoas de acordo com comissária para serviços sociais e humanos de Kaduna, Hafsat Mohammed Baba. Questionada por jornalistas da Reuters sobre a discrepância de números, Mohammed Baba diz que além da demora a registar todas as crianças, muitas das vítimas tinham fugido imediatamente após o resgate inicial

Vários pais reunem-se à porta da escola em Kaduna Reuters
As filas no estádio Ahmadu Bello, em Kaduna LUSA
O portão da edíficio
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Vários pais reunem-se à porta da escola em Kaduna Reuters

No exterior dos centros de acolhimento, também se reúnem dezenas de familiares das vítimas que esperam pela oportunidade de reaver as crianças. Muitos vieram depois de surgirem os primeiros relatos nos media locais sobre o caso, mas a polícia de Kaduna também já está a convocar as famílias de países vizinhos como Gana, Mali e Burkina Faso, para recolher as crianças resgatadas. 

Alguns encarregados de educação admitem pagar propinas mensais que rondavam os 100 euros aos responsáveis pelo espaço para tomar conta das crianças, acreditando tratar-se de uma escola islâmica. Outras famílias, no entanto, descrevem o edifício como um mero centro de correcção onde as crianças vinham para melhorarem o seu comportamento e descrevem os abusos noticiados como um exagero da realidade.

As escolas islâmicas, conhecidas como Almajiris, são um sistema de educação popular no norte da Nigéria onde grande parte da população é muçulmana. A pobreza na região obriga muitos pais a enviar as crianças para estas instituições, apesar dos rumores de que os estudantes são obrigados a pedir esmola nas ruas da cidade em vez de receberem uma educação. No início do ano, perante o aumento de queixas de activistas, o governo do presidente nigeriano Muhammadu Buhari disse que ponderava banir aqueles estabelecimentos de ensino.

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