Câmara quer reduzir 28% dos carros que circulam na cidade

Documento de intenções agora aprovado prevê uma Baixa apenas para carros sem emissões poluentes, o fim das mortes nas estradas e mais ciclovias. No papel está bonito, criticam PCP e CDS, que lamentam a falta de medidas concretas e de uma visão metropolitana.

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Andreia Gomes Carvalho

A câmara de Lisboa aprovou esta quarta-feira a Visão Estratégica para a Mobilidade 2030, a que chamou Move Lisboa, e que é um documento de intenções que hão-de ser materializadas num Plano Municipal para a Mobilidade Sustentável, a ser apresentado mais tarde.

A inexistência de medidas concretas nesta Visão, a falta de referências ao Metro e a pouca relevância dada à dimensão metropolitana da mobilidade foram os pontos de maior discórdia na discussão do documento, o que levou PCP e CDS a votar contra na reunião pública da autarquia.

No Move Lisboa está expressa a visão de mobilidade que a actual câmara tem para daqui a 11 anos, 2030. E ela consubstancia-se em frases como: “A Lisboa que ambicionamos é uma cidade com uma vida de bairro, de quotidiano de proximidade, resguardado do tráfego intenso, onde as pessoas se deslocam preferencialmente a pé, de bicicleta ou em carreiras de bairro. Para tal, as barreiras pedonais serão diluídas, os percursos tornar-se-ão confortáveis e acessíveis e o tráfego circulará mais calmamente, passando a conviver de forma amistosa com peões e bicicletas para segurança de todos.”

Também no documento se diz que “a Baixa Pombalina será cada vez mais reservada a veículos de emissão zero” e que “essas restrições irão estender-se progressivamente ao resto da cidade, com vista à eliminação progressiva dos veículos a gasóleo e gasolina.”

Acabar com as mortes nas estradas da cidade, melhorar os transportes públicos, expandir a rede de ciclovias ou voltar a usar o Tejo como via de transporte são alguns dos objectivos enunciados. Isto para, nas palavras do vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar, chegar a 2030 com 34% das deslocações citadinas em automóvel (actualmente são 47%, ou seja, quer reduzir quase 28% face aos números actuais).

Para PCP e CDS, a Visão é mais um conjunto de boas intenções do que uma verdadeira estratégia. “Um documento que não tenha por base a identificação clara e rigorosa dos problemas da actualidade pode não ser visto com a credibilidade necessária”, criticou o vereador Jorge Alves, do PCP. “O problema da mobilidade de Lisboa tem uma relação directa com problemas concretos da cidade e da sua área metropolitana que importa resolver”, disse ainda o eleito comunista, elencando um conjunto de medidas que, no seu entender, teriam de estar contempladas.

Nessa lista incluem-se, entre outros, investimentos nas linhas ferroviárias de Cascais e Azambuja, a extensão do metro a Loures, a criação de contingentes para os TVDE e parques de estacionamento dissuasores. Mas também ideias não directamente ligadas à mobilidade, como a criação de creches ou a atracção dos ex-moradores de Lisboa que foram para os subúrbios.

Também João Gonçalves Pereira, do CDS, fez o mesmo reparo. “Ter uma visão que não tenha todo o contexto metropolitano é muito curtinho”, disse o centrista, criticando depois a falta de referências ao Metro e apontando “algo profundamente errado” ao documento. “Esquece, deixa de lado, não tem em conta a qualidade de vida dos lisboetas”, afirmou Gonçalves Pereira, lamentando que haja uma “guerra ao automóvel” quando os transportes públicos ainda estão longe do desejável.

“Este não é o documento em que nós decidimos o que queremos fazer, é o documento com as linhas orientadoras para o que queremos”, sublinhou Miguel Gaspar, na resposta. “Não temos qualquer competência legal, financeira ou o que seja no desenvolvimento da rede de Metropolitano”, justificou o vereador perante a crítica do CDS. “A dimensão metropolitana está cá”, defendeu-se.

Fernando Medina, no entanto, deu razão parcial à oposição e acabou por incluir no documento três parágrafos sobre “a dimensão metropolitana”, o que lhe valeu uma picada de João Ferreira, do PCP, que disse que o documento estava a ser “terminado em cima do joelho”. “Fica um conjunto de ideias genéricas. Nos desenvolvimentos práticos há várias matérias que não têm o nosso acordo”, acrescentou.

Brevemente, prometeu Miguel Gaspar, a câmara apresentará as medidas concretas para atingir a visão que agora aprovou.

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