Praga da vespa-asiática “é problema nacional porque chegou a Lisboa”, acusa APIMIL

Associação Apícola de Entre Minho e Lima lembrou que Alto Minho já combate praga desde 2011. “Éramos uns coitadinhos, uns anormais. Estávamos a levantar problemas onde não existiam”, afirmou presidente do grupo, Alberto Dias.

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Adriano Miranda

A Associação Apícola de Entre Minho e Lima lamentou esta sexta-feira que a vespa-asiática só tenha sido considerada um problema nacional “por ter chegado a Lisboa”, lembrando que em 2012 o Alto Minho iniciou “sozinho” o combate àquela praga.

“Neste momento percebemos que o problema já é de Portugal. Pode ser que, dentro em breve, se possa juntar uns parceiros e fazer alguma coisa com princípio, meio e fim”, disse à agência Lusa o presidente da APIMIL (Associação Apícola de Entre Minho e Lima), Alberto Dias.

A vespa velutina é uma espécie asiática com uma área de distribuição natural pelas regiões tropicais e subtropicais do Norte da Índia ao leste da China, Indochina e ao arquipélago da Indonésia, sendo a sua existência reportada desde 2011 no distrito de Viana do Castelo.

O presidente da APIMIL, associação com sede em Vila Nova de Cerveira, no Alto Minho, disse que “Portugal é Lisboa e o resto é o resto do país”. “Desde 2011 que andamos a puxar a carroça, sozinhos. Éramos uns coitadinhos, uns anormais. Estávamos a levantar problemas onde não existiam”, frisou.

Em Fevereiro, um despacho do Governo refere que a “presença da vespa velutina tem vindo a aumentar no território nacional ao longo dos anos, afectando diversos sectores, em particular o da apicultura, mas também o agrícola e o florestal, nomeadamente pela diminuição da quantidade de insectos polinizadores e óbvios efeitos que podem vir a causar a sustentabilidade dos respectivos ecossistemas”. No documento, o Governo atribuiu um apoio de um milhão de euros para uma campanha nacional de destruição da vespa velutina. Alberto Dias alerta que a “realidade está a mostrar que a praga vai crescer, evoluir, expandir e criar muitos problemas”.

“Não será só na parte apícola e frutícola. Também o ser humano vai ser afectado porque a vespa vai conviver nos nossos locais, daí as mortes que tem havido até. Efectivamente percebermos que a vespa se está a adaptar lindamente a tudo”, reforçou.

Os principais efeitos da presença desta espécie não indígena manifestam-se não só na apicultura, por se tratar de uma espécie carnívora e predadora das abelhas, mas também para a saúde pública, porque, embora não sendo mais agressivas do que a espécie europeia, reagem de modo mais agressivo se sentirem os ninhos ameaçados, podendo fazer perseguições até algumas centenas de metros.

Esta espécie predadora foi introduzida na Europa através do porto de Bordéus, em França, em 2004. Os primeiros indícios da sua presença em Portugal surgiram em 2011, mas a situação só se agravou a partir do final do ano seguinte.

Viana do Castelo é o concelho do Alto Minho com maior número de casos de ninhos daquela espécie. Segundo números avançados à Lusa pela Companhia de Bombeiros Sapadores de Viana do Castelo, desde 2012 foram destruídos 2551 ninhos desta espécie, 263 só em 2019.

A destruição ocorre sempre quando cai a noite, período em que as vespas fundadoras estão no interior das colmeias. O presidente responsável pela associação mais interventiva do distrito de Viana do Castelo aquando da chegada desta espécie invasora lamentou que a região tenha sido “ignorada” e criticou “a falta de maturidade para perceber que esta praga é um problema global”.

“Isso acontece quando as pessoas não percebem nada. Não percebem o que é trabalhar em grupo para um fim comum. Por isso é que tudo o que seja pragas neste desgraçado deste país serão sempre grandes pragas”, observou.

Alberto Dias destacou que o Alto Minho foi “pioneiro” na criação e equipas multidisciplinares para “controlar”, a praga. Mais de que “queimar” os ninhos alertou para a necessidade de “apostar na prevenção, na primavera, altura do ano em que as vespas fundadoras dão início aos ninhos”.

Alberto Dias explicou que a prevenção é “simples”, recorrendo a armadilhas artesanais, feitas a partir de garrafas de plástico de 1,5 litros. “Corta-se a garrafa a meio, o gargalo é colocado no sentido inverso. No interior, coloca-se mel ou cerveja. Elas entram na garrafa, mas já não conseguem sair”, explicou, garantindo que com este método “caseiro é possível reduzir consideravelmente o número de ninhos”.

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