Jerónimo de Sousa diz que “ainda há muito terreno para conquistar”

O líder do PCP defendeu que as sondagens não substituem a decisão de voto dos eleitores.

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O líder do PCP, Jerónimo de Sousa, garantiu que “o resultado da CDU ainda está em construção” Pedro Fazeres

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu este sábado que as sondagens não decidem pelos portugueses, lembrando que “ainda há muito terreno para conquistar” e que “o resultado da CDU ainda está em construção”.

“Com todo o respeito pelas sondagens, estas ainda não decidem antes da decisão tomada pelo povo português”, afirmou Jerónimo de Sousa durante um encontro com moradores e activistas pelo direito à habitação, que decorreu num bairro lisboeta.

A CDU, coligação eleitoral liderada pelo PCP, aparece como o quatro partido com mais intenções de voto para as legislativas, com 7,1% dos votos, segundo o estudo de opinião da Eurosondagem, publicado este sábado no Sol, Porto Canal, Diário de Notícias da Madeira e Diário Insular dos Açores.

A projecção de deputados eleitos revela que, em relação às últimas legislativas, a CDU perde lugares: em 2015 elegeu 17 e agora os 7,1% de votos significam entre 13 e 15 deputados.

Lembrando que muitos eleitores “ainda não decidiram”, Jerónimo de Sousa sublinhou que “todos os caminhos estão abertos para a CDU” e que “ainda há muito terreno para conquistar”.

A três semanas das eleições legislativas, que se realizam a 6 de Outubro, o secretário-geral do partido lembrou que “o resultado da CDU ainda está em construção” e que existe uma “excelente dinâmica”.

Na sondagem hoje divulgada, o PS aparece “à beira da maioria absoluta”, com 38,3% dos votos, revela a primeira página do jornal Sol.

O PSD aparece em segundo lugar nas intenções de voto para as legislativas com 23,3%, seguindo-se o Bloco de Esquerda com 9,5%, a CDU com 7,1%, o CDS-PP com 5,5% e o PAN com 4,5%.

Estes resultados têm por base 1.022 entrevistas realizadas de forma aleatória entre os dias 07 e 12 de setembro: 51,8% dos inquiridos são mulheres e 48,2% homens. O erro máximo da amostra é 3,08% para um grau de probabilidade de 95%. Os entrevistados são representativos da população com mais de 18 anos, residente em Portugal Continental, Açores e Madeira.

A urgência da Habitação

Já sobre habitação, Jerónimo de Sousa defendeu que o Governo deve “atender imediatamente” às situações dramáticas de despejos, principalmente de quem “está totalmente desprotegido numa fase final da vida”. No Largo da Graça, Jerónimo de Sousa ouviu histórias de quem foi despejado e relatos de idosos alvos de processo para abandonar as casas e os bairros onde sempre viveram.

Daniel Oliveira, um dos fundadores do Movimento Manifesto 65 e morador na Penha de Franca, disse que todos dos dias há notícias de despejos e de jovens que têm de regressar a casa dos pais por incapacidade em pagar as rendas cada vez mais altas. “Este é um combate diário aqui do bairro que nos gostaríamos que continuasse no parlamento”, pediu o jovem a Jerónimo de Sousa.

O secretário-geral do PCP apresentou algumas ideias que quer concretizar na próxima legislatura: pôr em prática a Lei de Bases da Habitação, aprovada recentemente com os votos e contributos dos comunistas, e revogar o diploma que ficou conhecido como a “Lei dos Despejos”.

“A aprovação da Lei de Bases da Habitação foi um passo em diante mas incompleto. Falta a regulamentação e a monitorização, falta ver concretizados aqueles princípios”, disse em declarações aos jornalistas.

Para dar resposta a quem não tem casa, o PCP defende que o Governo deve recorrer aos prédios devolutos assim como aos edifícios municipais e estatais, o que permitiria disponibilizar fogos com rendas a preços acessíveis.

Também cabe ao Governo “atender imediatamente às situações dramáticas de despejos principalmente a quem está totalmente desprotegido numa fase final da sua vida”, acrescentou.

Para Jerónimo de Sousa é preciso revogar a Lei das Rendas, da responsabilidade do anterior Governo, que ficou “conhecida como a Lei dos Despejos” e que é “um obstáculo tremendo” ao direito à habitação.

Aquele diploma põe em causa a vida das pessoas, “particularmente das mais envelhecidas”, sublinhou, condenando quem é “expulso dos sítios onde nasceu, cresceu e viveu”.

Uma realidade com que lida diariamente Rita Governo, psicóloga na freguesia de São Vicente. Ali, a jovem trabalha essencialmente com idosos e diz que há cada vez mais casos de quem se sente à beira de ser “despejado à força”. São muitos os moradores que lhe pedem ajuda com as cartas que recebem dos senhorios e com os documentos de advogados.

Rita Governo contou a Jerónimo de Sousa o processo de expulsão de uma idosa acamada e o drama de outra senhora que nasceu e cresceu no bairro, mas foi “atirada” para outra zona da cidade para que a sua casa fosse transformada num Hostel. “Todos os dias recebo pedidos de ajuda de pessoas vulneráveis”, desabafou a jovem psicóloga.

Para o secretário-geral do PCP é preciso “entender que a Constituição não é um papel que aguenta tudo. A Constituição é para ser efectivada nessa parte do direito à habitação. A Lei de Bases é uma esperança, mas falta muito trabalho para a sua regulamentação e efectivação”.

Durante a visita à Graça, Jerónimo de Sousa foi ainda interpelado por Luis Mendes, geógrafo do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa e activista do movimento “Morar em Lisboa”, que lembrou que desde de 2016 só o bairro de Arroios perdeu cerca de três mil pessoas.

Também a presidente da Associação do Património e da População de Alfama, Maria de Lurdes, chamou a atenção para os inúmeros casos de despejos de antigos moradores daquele bairro, paredes meias com a Graça.

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